Exposição Entre nós: 10 anos da Bolsa ZUM/IMS
Tiago Sant’Ana (Santo Antônio de Jesus, BA, 1990)
Chão de estrelas, 2022
Vídeo, 8'51"
A fricção dos sistemas oficiais de legitimação da memória é um dos pilares da pesquisa do artista, que trata, neste trabalho, da história da mineração no período colonial brasileiro. Os ditos populares ligados a práticas supostamente ilegais de pessoas escravizadas em sua busca por liberdade são os fios condutores para dar vida a uma história ficcionalizada, construindo um inventário de fugas que enfrenta a violência da manutenção de um sistema pautado na servidão.
No vídeo Chão de estrelas, Sant’Ana busca entender as possibilidades de burlar tais sistemas, construindo cenários e novas possibilidades de inscrição da memória. A expressão “lavou a égua”, que dá origem ao vídeo, faz menção ao fato de pessoas escravizadas supostamente esconderem pequenas pepitas de ouro nos pelos e crinas de equinos para que fossem recuperadas na hora da lavagem dos animais em fontes e rios. A intenção não está em investigar a veracidade dos fatos, mas em construir outra narrativa, provocando as representações iconográficas oficiais, circunscritas dentro de amarras de poder. Nas imagens, o homem com os dentes cobertos de ouro conduzindo o cavalo tem o controle sobre sua realidade e representação.
O projeto foi realizado em Mucugê, na região da Chapada Diamantina, Bahia. Ao contar com a produção local – assim como a pós-produção em Salvador –, Sant’Ana também busca fortalecer artística e economicamente a região, atualizando as discussões sobre o controle de produção das imagens e a fuga da exotização do outro.
(Daniele Queiroz) Bolsa ZUM/IMS 2021
Tiago é artista visual, curador e doutorando em cultura e sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Seus trabalhos tratam da representação das identidades afro-brasileiras, refletindo sobre a permanência das estruturas coloniais, o racismo estrutural e as dinâmicas que envolvem a produção da história e da memória. O filme Chão de estrelas, gravado na Chapa Diamantina, investiga estratégias de fuga e libertação no período colonial brasileiro, discutindo como essas táticas revereberam no imaginário visual brasileiro.