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Exposição Entre nós: 10 anos da Bolsa ZUM/IMS

Vijai Maia Patchineelam (Niterói, RJ, 1983)

Samba Shiva: as fotografias de Sambasiva Rao Patchineelam. São Paulo: ZUM/IMS, 2017

 

Referências, 2022
Vídeo, cor, 14’45”

Vijai cresceu em meio ao trabalho fotográfico do pai, imigrante indiano que chegou ao Brasil nos anos 1970 e fez carreira como geólogo e professor na Universidade Federal Fluminense. Com uma câmera Minolta, Sambasiva Rao Patchineelam registrou intensamente o cotidiano da profissão em expedições pelo mundo, a família brasileira, além de parentes e amigos que permaneceram na Índia, principalmente em Rajahmundry, sua cidade natal.

Quando cresceu, Vijai Patchineelam teve a ideia de organizar um fotolivro com imagens realizadas pelo pai. “A troca de papéis entre artista e editor, por um lado, e entre cientista e autor, por outro, é fundamental”, comenta Vijai. Nas primeiras páginas, vemos uma sequência de um barco que navega por um rio. Aos poucos, esse passeio nos leva para barcos maiores, de pesquisa oceanográfica, e, a partir daí, encontramos a vida do autor em cenas com outras pessoas, lugares, rochas e animais. Sem propor uma ordem cronológica ou temática, a edição oferece aproximações muitas vezes inesperadas.

O livro inclui ainda uma entrevista com Sambasiva e um texto do crítico de arte Hemant Sareen, que destaca a dificuldade que moradores da Índia enfrentaram ao longo do século XX para ter acesso a equipamentos fotográficos devido às políticas restritivas do Império Britânico e à posterior falha do governo local em favorecer a indústria indiana. O resultado foi a escassez de registros durante esse período, que ficaram restritos a fotógrafos profissionais.
(Ângelo Manjabosco) Bolsa ZUM/IMS 2016

Depoimento

 

Transcrição do depoimento

O livro Samba Shiva: as fotografias de Sambasiva Rao Patchineelam foi realizado através da Bolsa de Fotografia ZUM do ano de 2016. Eu, como artista e filho, Vijai Maia Patchineelam, trabalhei com o arquivo de fotografias que o meu pai, cientista e fotógrafo amador, Sambasiva Rao Patchineelam, tirou, em grande maioria da década de 1970, quando ele migrou da Índia para a Europa, e da Europa para o Brasil. Essas fotografias estão no livro, retratam essa trajetória do meu pai, a sua vida profissional e a sua família na Índia, seus irmãos e irmãs, primos e primas, e depois a chegada no Brasil com a minha mãe e o meu irmão, em Salvador, na Bahia. O livro é um fotolivro em que a primeira metade do livro são as fotografias, que eu descrevi agora, e a segunda parte do livro consta textos. Tem um texto escrito pelo Remand Sareen, que vive e trabalha em Nova Delhi, em que ele descreve um pouco do contexto indiano em que meu pai saiu, as razões políticas, econômicas, e também a história material da fotografia na Índia, e o que contextualiza a uma certa relevância e importância histórica as fotografias que meu pai tirou, na época e na região em que ele tirou, que é uma região mais do interior, e meu pai vem de uma cidade que não é uma grande metrópole, então essas fotografias que ele tirou na cidade de Raja Mandri e nas cidades ao redor, Vaisak, entre outras, então, essas fotografias têm uma relevância histórica, porque a fotografia amadora nessa região não era uma coisa popular, não era um hobby popular, uma atividade popular. Isso tem a ver com a escassez, a fotografia na região, por causa de impostos muitos altosque a Índia, já independente, colocou sobre fotografia e equipamentos fotográficos. Isso foi um grande motivo de fazer o livro, de tornar esse álbum de família uma publicação, algo público, e também fazer uma comunicação entre a trajetória do meu pai e a grande diáspora indiana, que tem um fluxo maior para a América do Norte, América Central, Europa e Sudeste Asiático, e poucas famílias se realocaram para o Brasil, migraram para o Brasil, para a América Latina, ou a América do Sul, no caso. Então o livro também é uma tentativa disso, de colocar em comunicação essa trajetória do meu pai, essa grande diáspora indiana. O livro em si é um fotolivro, um tamanho um pouco menor que um A4, tem por volta de 300 páginas, a grande maioria são fotos. Essas fotos mostram a minha família, a região da minha família na Índia, fora o trabalho profissional do meu pai em pesquisas de campo. Ele é um cientista, tem muita fotografia de campo, de amostras pra pesquisar equipamentos de realizar pesquisas, sondas e outros tipos, e a segunda parte do livro em páginas amarelas, você tem textos que contextualizam essas fotografias, porque essa primeira parte do livro, quando o leitor abre a primeira página do livro, as fotografias já começam, e sem muita explicação, e aí quando você vai passar para a parte amarela você tem um cartão-postal que meu pai mandou do Brasil para o seu irmão na Índia, dizendo que conseguiu um emprego no Brasil e que vai se mudar da Alemanha para o Brasil. Essa é a primeira informação que o leitor tem, e logo depois disso você tem um texto do escritor indiano Remand Sareen, que vive e trabalha em Nova Delhi, que contextualiza toda essa trajetória do meu pai com o que estava acontecendo na Índia, os motivos do meu pai sair da Índia e a região, a história material da fotografia na Índia, entre outras coisas. Depois desse trecho do Remand, tem uma entrevista que a curadora carioca Beatriz Lemos realiza com meu pai em Pendotiba, Niterói, e o índex das fotografias, que localiza data e dá o nome das pessoas, dos meus familiares.

Filho de mãe baiana e pai indiano, Vijai cresceu em meio ao trabalho fotográfico do pai, geólogo que emigrou para o Brasil nos anos 1970. No livro Samba Shiva, Vijai edita o arquivo fotográfico paterno em busca de novas conexões artísticas.