A revista ZUM #14 apresenta o arquivo do fotógrafo mineiro Afonso Pimenta, a obra do alemão Wolfgang Tillmans e um manifesto de Aleksander Ródtchenko publicado há 90 anos. O novo número traz ainda uma reflexão sobre a obra da artista carioca Anna Bella Geiger; as imagens da série Cenas privadas do japonês Masahisa Fukase; uma entrevista com a fotógrafa holandesa Dana Lixenberg e uma breve tipologia de memes fotográficos.
A 14ª edição da revista ZUM chega às livrarias com artigos e ensaios que abordam importantes debates da fotografia contemporânea, da representação do outro ao papel dos memes na esfera pública. A publicação será lançada no dia 28 (sábado), às 11h30, no IMS Paulista, com uma conversa com o fotógrafo mineiro Afonso Pimenta, autor da imagem de capa da edição.
Destaque deste número, Pimenta produziu, nos anos 1980, uma série de retratos dos moradores do Aglomerado da Serra, favela em Belo Horizonte (MG). O fotógrafo, que viveu na comunidade, capturou o cotidiano de seus vizinhos, registrando desde as festas de aniversário e casamento até a efervescência dos bailes blacks. Suas imagens retratam a intimidade de uma parcela da população que tinha pouco acesso à fotografia, constituindo “um arquivo raro e precioso da vida privada do país”, como afirma o editor da ZUM, Thyago Nogueira. A revista traz um portfólio do mineiro, com imagens recuperadas do acervo de cerca de 80 mil imagens.
O registro íntimo de uma comunidade também aparece nas imagens da fotógrafa holandesa Dana Lixenberg. Em sua famosa série Imperial Courts (1993-2015), ela retratou os moradores de um antigo conjunto habitacional de Los Angeles, EUA. A artista comenta esse processo de concepção da obra, entre outros temas, na entrevista concedida ao retratista sul-africano Pieter Hugo, publicada nesta edição da ZUM.
A fotografia como exercício de alteridade também é discutida no artigo de Wolfgang Tillmans, originalmente uma palestra apresentada na Royal Academy of Arts, em Londres, em fevereiro de 2011. O fotógrafo alemão faz um balanço de sua carreira, marcada pelo experimentalismo, a aproximação com a pintura e a astronomia, além da produção de registros da vida social e sexual de seus amigos. “A fotografia sempre mente sobre o que está diante da câmera, mas nunca sobre o que está atrás. Se não existir abertura da nossa parte quando fazemos um retrato, limitamo-nos a enfiar a pessoa numa ideia predefinida”, pontua o artista.
Esta edição traz ainda imagens das séries Brasil Indígena/ Brasil Alienígina e Histórias do Brasil da artista carioca Anna Bella Geiger. Uma das pioneiras da videoarte no país, Geiger se apropria da linguagem do autorretrato para discutir a construção da identidade nacional. Nas imagens, a artista mimetiza os gestos cotidianos de mulheres e homens indígenas. De forma irônica, Geiger mostra a insuficiência das narrativas históricas, “frustrando qualquer projeção pacifica de imagens emblemáticas da nação”, como pontua Laura Erber em texto sobre a produção da artista.
Assim como Geiger, o fotógrafo suíço Yann Gross oferece um contraponto ao discurso do exótico. Na premiada publicação, O livro da selva, ele retrata a Amazônia do século XXI, mostrando uma cultura ligada à floresta, mas também aos centros urbanos e ao universo das celebridades. Nessa edição, a ZUM publica trechos do livro, e um artigo de Daigo Oliva.
O tema da representação indígena aparece também nas fotografias dos povos da Terra do Fogo, produzidas em 1920 pelo missionário e antropólogo alemão Martin Gusinde. Com suas lentes, o pesquisador registrou as cerimônias religiosas das etnias locais, produzindo imagens místicas que se contrapõem à objetividade vinculada à fotografia científica do período.
A ZUM #14 apresenta também um texto do curador Simon Baker sobre a série Cenas privadas, do fotógrafo Masahisa Fukase, um dos grandes nomes da fotografia japonesa. O trabalho é composto por fotografias instantâneas pintadas à mão. São registros de cenas banais do cotidiano, nos quais Fukase sempre aparece em primeiro plano, num prenúncio do fenômeno das selfies.
Ainda sobre a relação entre fotografia e identidade, esta edição traz um texto histórico do russo Aleksandr Ródtchenko, publicado em 1928. Escrito há 90 anos, o manifesto é uma defesa das múltiplas perspectivas possibilitadas pela fotografia. “Fixem a pessoa não num retrato ‘sintético’, mas na massa de fotografias instantâneas, feitas em diversos tempos e em diversas condições”, escreve o artista num texto que pode ser relido à luz do fenômeno das redes sociais.
Mirando os dilemas contemporâneas, David Claerbout tece uma forte crítica à animação digital. Para o autor, ao optar por imagens hiper-realistas, os estúdios de animação assumem uma postura conservadora, prezando pela satisfação imediata do público e se contrapondo às vanguardas modernas.
Ainda sobre o consumo de imagens, o historiador Viktor Chagas escreve sobre o papel político dos memes e a necessidade de pesquisar o seu impacto na internet. “Os memes comentam os acontecimentos, expressam uma opinião pública e desempenham um papel de insurreição ao qual o sistema político não está acostumado a se sujeitar”, defende o pesquisador.
Debate com o fotógrafo mineiro Afonso Pimenta
Mediação: Ana Paula Orlandi e Guilherme Cunha
28 de abril, sábado, 11h30
Cineteatro do IMS Paulista
Entrada gratuita, sujeita à lotação.
Retirada de senha 60 minutos antes do evento. Limite de uma senha por pessoa.
184 páginas
Preço: R$57,50