A obra de Afonso Henriques de Lima Barreto, rica e diversa, se apresenta como indispensável para os nossos dias, propiciando rica discussão sobre o papel do negro na literatura e a forma como nossas complexidades existenciais lidam com as dificuldades e barreiras que nos são impostas em todos os setores da sociedade, dadas as diferenças sociais, raciais e religiosas, barreiras estas criadas pelos próprios homens que lutam para mantê-las ou para combatê-las. A palavra nós foi escolhida para fazer parte do titulo deste espetáculo servindo tanto ao desejo de revelar a complexa teia em que se apoia o racismo estrutural brasileiro, e suas consequências sem precedentes nas subjetividades de cada indivíduo, quanto ao propósito de aproximar de nosso dia-a-dia um célebre autor, por vezes ignorado.

O objetivo deste espetáculo é celebrar a literatura brasileira através de um autor negro, cuja obra ainda é pouco utilizada como referência nacional.

Mais atual do que nunca Lima criou obras para discutir o racismo, escreveu artigos em defesa das mulheres, criticou nossa forma de se curvar diante dos modismos internacionais em detrimento dos hábitos e costumes de nossa matriz cultural e como amanuense da
secretaria da guerra, fez diversas críticas ao funcionalismo público. As questões que servem de base para as inúmeras discussões sobre a obra de Lima Barreto e todo o histórico de desgraças íntimas e degradações pessoais que viveu, formam diversos nós em um grande emaranhado que pretendemos manusear durante este processo para quem sabe descobrir os caminhos de como desatar alguns deles.