Em 1928, Virginia Woolf escreveu Orlando, o primeiro romance em que o personagem principal muda de sexo no meio da história. Um século depois, o escritor, filósofo e ativista trans Paul B. Preciado decide enviar uma carta cinematográfica à autora: seu Orlando saiu da ficção e vive como ela jamais poderia ter imaginado. Preciado organiza um teste de elenco e reúne 26 pessoas trans e não binárias, de 8 a 70 anos de idade, que encarnam o protagonista.
Em entrevista ao portal ArtReview, Paul Preciado conta como foi convidado pelo canal de televisão Arte a produzir um documentário para uma iniciativa dedicada a aproximar o público de filmes queer. A ideia original era de que fosse um documentário bastante tradicional em torno do filósofo, o que o aterrorizou um pouco: “Em um determinado momento, eu estava desesperado. Eles realmente queriam fazer esse filme, e eu tinha a impressão de que eles o fariam, com ou sem mim. E, na verdade, a ideia de Orlando surgiu como uma piada. Eu disse a eles: 'Não permitirei que façam isso, a menos que seja uma adaptação de Orlando, de Virginia Woolf'. Para mim, era uma forma de dizer: 'Fim de papo'. Nunca pensei que eles gostariam da ideia”.
“Mas tive um colapso quase epistêmico em que pensei: ‘Como vou fazer isso?’. Comecei a pensar na minha aversão a tantos filmes. A maneira como critico a ideia de representação, o fato de algo ser imediatamente capturado pela câmera. Pensei: "Como vou fazer isso sem dar imediatamente uma imagem fixa de quem é Orlando, como criar uma imagem do que é ser trans? Então, comecei a pesquisar autores de que gosto que fizeram ou deixaram de fazer adaptações. [...] Cheguei à conclusão de que eu tinha dois panteões de filmes. De um lado, filmes queer, em sua maioria underground e provenientes da arte. Um desses filmes é Dandy Dust, de Hans Scheirl. [...] E, por outro lado, eu me vi obsessivamente revendo documentários ensaísticos. Como os de Jean-Luc Godard, é claro. Todas as perguntas que eu me fazia –'Como representar sem reduzir ou transformar a imagem em uma identidade', perguntas sobre biografia ou a relação entre ficção e realidade – eram perguntas que ele se fazia”.
“De certa forma, a política de criação de imagens está muito presente em meu trabalho. É quase como uma ontologia negativa, uma imagem que nunca está presente. A força ou o poder da imagem é justamente ser apagada, porque é exatamente daí que viemos historicamente, certo? De atos de apagamento, atos de inscrição violenta em uma imagem que não nos representa. Talvez seja por isso que demorei um pouco para decidir o que fazer com esse filme”.
“[...] Então, voltei ao livro e me perguntei: ‘Qual é a forma desse livro?’. Orlando é provavelmente o livro menos experimental de Woolf – talvez por isso tenha sido um dos mais populares durante sua vida – e segue a estrutura de um romance comum, certo? Mesmo que, é claro, haja muitas transgressões. Ainda assim, alguém pode lê-lo e dizer: ‘Esta é a história de um homem nobre e suas aventuras’. Então, pensei que algo semelhante teria de acontecer no filme: a estrutura seguiria as aventuras de Orlando. Eu sabia que o filme não teria uma forma completamente experimental”.
“Na verdade, Woolf tem um ensaio incrível intitulado 'The Cinema', que ela escreveu na mesma época que Orlando, quando o cinema estava se tornando popular. Woolf foi assistir a um filme sobre o mar, em preto e branco. É claro que ela é obcecada pelo mar e pela água. Ela fica maravilhada com a sensação de estar completamente imersa na água sem estar molhada. Portanto, acho que [em Orlando] ela está praticando esse tipo de técnica de salto, essa escrita subjetiva que nunca é fixa, mas que se move de sujeito para sujeito e de objeto para objeto. E acho que ela percebe que o cinema pode fazer isso de uma maneira interessante”.
O Orlando de Preciado foi vencedor do Teddy Award e do Prêmio Especial do Júri da mostra Encounters no Festival de Berlim 2023.
Entrevista do diretor Paul B. Preciado ao portal ArtReview (na íntegra, em inglês).
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Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Paulista e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês.
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Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Poços e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês. Os preços variam de acordo com o filme ou a mostra.
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