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Luiz Braga - Arquipélago imaginário

IMS Paulista

Apresentação

Luiz Braga – Arquipélago imaginário é a exposição monográfica do fotógrafo paraense que retrata a visualidade de alguns territórios da região Norte do Brasil. A mostra panorâmica, sem caráter retrospectivo, percorre os 50 anos de carreira através de 258 fotografias – sendo 190 inéditas – e evidencia a intimidade, o ordinário e o gesto de “espiar” como metodologias poéticas. Composto pela produção analógica, que marca suas primeiras décadas de trabalho, até obras recentes, o recorte aciona interesses e técnicas que atravessam temporalidades. Nele, a identidade cultural do Norte, sobretudo do Pará, surge em cenas no interior de casas e comércios, registros da convivência no espaço comum, imagens que demonstram tradições coletivas do cotidiano ribeirinho, manifestações de ancestralidade e fé e a criação de um imaginário especulativo da vida na Amazônia urbana e periférica.

A partir de uma leitura ensaística do arquivo de Luiz Braga, a mostra apresenta a produção do fotógrafo através de interesses que pulsam em suas obras ao longo dos anos, num percurso no qual o tempo é um elemento fluido, não cronológico. O resultado é um conjunto de nove núcleos permeáveis entre si: “O outro, o alheio” exibe as relações entre o artista, os personagens registrados e seus ambientes; em “Territórios e pertencimentos – o Norte”, estão os trânsitos culturais que se estabelecem entre os diferentes espaços da região; “Arquitetura da intimidade” ficcionaliza sobre a natureza do ordinário, com objetos comuns, rastros do cotidiano, numa arqueologia da vida; “Afazeres e trabalhos” articula os fazeres e os locais de ofícios ligados a um tempo-espaço particular; “Sintaxes populares” apresenta as caligrafias da região em múltiplos contextos; “Nightvision – Mapa do Éden” inventa uma visualidade fantástica da natureza amazônica; “O retrato” designa diferentes leituras do formato clássico, no qual o ambiente e o entorno também operam como fatores protagonistas; enquanto “O antirretrato” subverte a ideia clássica, com ênfase em detalhes e inversões formais; e “O Marajó” é o único núcleo com todas as imagens coloridas e condensa a síntese da exposição, com aspectos vistos nos conjuntos anteriores, porém se destaca por ser o território de investigação do fotógrafo nos últimos anos, com ênfase na forma, na luz e na cor do arquipélago. A partir do Marajó, Luiz Braga sistematiza uma prática assídua no seu trabalho, focada na escuta e na oralidade, interessada nas histórias das pessoas e dos saberes populares, que passam a ser protagonistas.

Pensar o arquipélago como gestualidade convoca a uma natureza orgânica, cíclica, espiralar, que apreende o território entre diferentes trânsitos e deslocamentos, entre idas, vindas, permanências e transformações. A produção de Luiz Braga opera numa instância da convivência com os lugares, mergulho na dimensão do alheio e numa prática que aciona o afeto como gesto principal. O encontro desses fatores, somados a um fotógrafo que escolhe não apenas permanecer em sua terra natal, mas também a elege como terreno de aprendizado, partilha de vida e investigação, entregam ao mundo uma obra incontornável tanto para a construção de um imaginário sobre a região quanto para a consolidação da história da fotografia paraense e brasileira.