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Bruce Conner: colagens e deslocamentos

No IMS Rio

Mostra de filmes

Um recorte da obra do artista norte-americano

IMS Rio

Rua Marquês de São Vicente, 476
Gávea - Rio de Janeiro/RJ

Quando

A partir de 30 de outubro de 2019

Com uma obra iniciada nos anos 1950, Bruce Conner foi múltiplo ao longo de quase 60 anos de carreira como artista visual e cineasta experimental. Esta última faceta de Conner será explorada ao longo do mês de novembro no cinema do IMS Rio. Dividido em quatro programas, os filmes fazem uso de diversos tipos de materiais (cinejornais, propaganda, filmes militares, etc) para discutir desde eventos políticos marcantes da história dos EUA, como o assassinato de John F. Kennedy (REPORT, TELEVISION ASSASSINATION) e experimentos nucleares no Atol de Bikini (CROSSROADS) a apresentações e estudos do corpo feminino (BREAKAWAY), sempre de forma a desconstruir os dados do real a partir da montagem.

A obra do artista foi recentemente restaurada pela UCLA, e parte dela será apresentada pela primeira vez no Brasil. Realizada em parceria com a Galeria Bergamin & Gomide,a programação inclui ainda O digital explosivo inevitável, uma performance documental de Ross Lipman que comenta o processo de restauração e as particularidades de um dos filmes mais consagrados de Conner, CROSSROADS.


Programação

Não há mais sessões previstas.


Filmes

Sessão Mulheres de celuloide

30/11, sábado, 19h

RAIO CÓSMICO
COSMIC RAY
Bruce Conner | EUA | 1961, 5’, DCP

“RAIO CÓSMICO parece uma colagem ousada de diferentes partes em movimento rápido: quadrinhos, dançarinas, luzes piscando”, escreveu Carl Belz para a revista Film Culture em 1967. “E é a dançarina – quase pelada, tirando a roupa ou nua – que fornece o tema central do filme. Ela aparece várias e várias vezes – ensanduichada entre soldados, armas, e até a morte na forma de uma caveira posicionada entre suas pernas. E se essa declaração iguala sexo à destruição, o cataclismo é brilhante, como um fogo de artifício reluzente que termina com uma explosão cósmica. É claro, o título também se refere ao músico Ray Charles, cuja arte Conner transcreve visualmente no filme como uma realidade potente, forte e penetrante em sua capacidade de afetar instintos animais básicos. Mas, se esse é o conteúdo do filme – que boa parte do nosso comportamento consiste em bestialidade –, a obra como um todo se mostra mais como uma revelação do que como uma crítica.”

VIVIAN
Bruce Conner | EUA | 1964, 3’, DCP

“Um filme-retrato editado ao som da versão de Conway Twitty para [a canção] ‘Mona Lisa’. Filmado parcialmente numa exposição de arte de Conner em São Francisco, em 1964, a obra também é uma declaração inteligente a respeito das forças que sugam a vida da arte. Vivian Kurz, o foco do filme, está sepultada num mostruário de vidro.” (Judd Chesler)

MARILYN VEZES CINCO
MARILYN TIMES FIVE
Bruce Conner | EUA | 1968-1973, 14’, 16 mm

“Uma jovem, supostamente Marilyn Monroe, é vista sob um olhar atento e impiedoso na arena de um filme erótico antigo. A reiteração dos cinco ciclos gira em torno da mercantilização do seu corpo pálido como a lua, enquanto a canção da trilha sonora repete cinco vezes: “I’m through with love” [Não quero mais saber de amor]. O último plano encerra uma recompensa final de quietude, quando ela é vista desabada no chão.” (Anthony Reveaux)

O filme combina cenas do curta-metragem The Apple-Knockers and the Coke (1948), interpretado por Arline Hunter, à música “I’m through With Love”, cantada por Marilyn Monroe.

BREAKAWAY
Bruce Conner | EUA | 1966, 5’, DCP

Rodado e lançado em 1996, BREAKAWAY apresenta a coreógrafa Antonia Christina Basilotta, conhecida como Toni Basil, dançando a faixa-título (que ela também canta). Um filme de dança visto duas vezes (em reprodução normal e de trás para a frente), rodado em exposições de um só frame, e também a 8, 16, 24 e 36 quadros por segundo.

“A câmera captura seus movimentos em rastros de luz gestuais e expressivos. Entrecortado ritmicamente com pontas pretas de rolo de filme, ela rodopia em acelerações graciosas e estroboscópicas. A edição de Conner atinge seu ápice quando ele alterna ângulos da silhueta dela em diferentes planos, numa continuidade fluida e sinestésica.”

“Basicamente, um filme de dois minutos e meio, e então esse ‘módulo’ de imagem e som é invertido. Tudo roda ao ‘contrário’, até o começo ‘original’. A trilha sonora com Basilotta cantando a faixa-título roda ao contrário, como um equivalente aural à abstração visual da fotografia. Lembra um paradigma daquelas demonstrações de como funciona a gravidade nas aulas de física no ensino médio, na qual víamos uma bola jogada reta para o alto percorrer fielmente sua trajetória de volta à Terra.” (Anthony Reveaux)


 

Sessão Entre luz e sombras

24/11, domingo, 16h

UM FILME
A MOVIE
Bruce Conner | EUA | 1958, 12’, DCP

UM FILME orquestra uma sinfonia virtual de desastres, acidentes de carro, explosões, cenas de guerra e fome, além de momentos de graça e serenidade – uma pessoa na corda bamba, um avião voando pelas nuvens, a luz refletida na água. Conner explora, ao mesmo tempo, a própria natureza do cinema e a montagem na era moderna. Composto de filmes descartados em 16 mm comprados em mercados de pulga ou recolhidos em lojas de câmera, já foi descrito como o primeiro filme de found footage [imagens encontradas] contemporâneo.

Neste filme, Conner inaugurou a vertente de seu trabalho com imagens em movimento, que durou a vida toda ao lado de suas outras práticas artísticas. “O cinema é uma extensão da minha atividade criativa”, declarou Conner em 1964 em uma proposta de bolsa da Fundação Ford para filmes experimentais. “Em certos momentos, essa atividade se encontrou nas definições culturais atuais da escultura, da pintura, da fotografia, do desenho, da poesia, da música, da dança, da colagem, da magia, do teatro, do desfile, da contemplação, do caos, da peregrinação, do tempo desperdiçado, do medo, da farsa, das revelações, da insanidade.”

Com “Pines of Rome”, do compositor Ottorino Respighi na trilha, Conner estabeleceu uma poesia visual que mescla música e imagem. Ao longo das décadas seguintes em outros filmes, refinou essa junção e montou as bases para o videoclipe musical que se conhece hoje em dia.

FILME DE DEZ SEGUNDOS
TEN SECOND FILM
Bruce Conner | EUA | 1965, 10’’, 16 mm

“Quando pediram a Conner que fizesse o design do pôster do Festival de Cinema de Nova York de 1965, ele elaborou TEN SECOND FILM, criado com a intenção de ser como um comercial televisivo que viesse antes das exibições de filmes no cinema. Era como uma ‘ponta de filme’ composta, assim como o pôster, por uma série de dez tiras de película, cada uma com 24 quadros, de contagem regressiva, que é vista como o brasão fundamental da exibição cinematográfica.” (Anthony Reveaux)

Uma das justificativas do festival para rejeitar o trabalho foi o fato de o filme ser rápido demais.

PROCURANDO COGUMELOS (Versão Beatles)
LOOKING FOR MUSHROOMS (Beatles Version)
Bruce Conner | EUA | 1959-1967, 3’, DCP

Nas palavras da historiadora da arte Johanna Gosse, “LOOKING FOR MUSHROOMS (1959-1967) é um diário de viagens que documenta uma ‘viagem’ psicodélica através do México rural e dos Estados Unidos urbano. O filme mistura cenas de ruas de São Francisco, que Conner e Bob Branaman filmaram no fim da década de 1950, com outras do México, que Conner rodou durante uma série de excursões para ‘caçar cogumelos’, entre 1961 e 1962, quando ele e [sua esposa] Jean Conner moravam na Cidade do México. Em pelo menos uma dessas viagens, o casal foi acompanhado por Timothy Leary, ex-professor de Harvard e um dos principais difusores das drogas psicodélicas.”

“As primeiras versões do filme eram mudas e rodavam em loop. Em 1967, Conner acrescentou uma trilha de rock psicodélico: a música ‘Tomorrow Never Knows’, dos Beatles, do disco Revolver, de 1966. Sabia-se que a letra da canção era inspirada no livro A experiência psicodélica – Um manual baseado no livro tibetano dos mortos (1964), de Leary, Ralph Metzner e Richard Alpert, que aconselhava que as pessoas sob a influência de psicotrópicos ‘desligassem a mente, relaxassem e deixassem ser levados pela correnteza’. Pode-se argumentar que este é dos seus filmes mais hipnóticos e impressionantes em termos visuais. Conner depois comentou que LOOKING FOR MUSHROOMS (junto com COSMIC RAY) era muitas vezes alugado por agências de publicidade que, supunha-se, estavam interessadas no seu uso de edição rápida e estrobos para gerar efeitos psicodélicos e mensagens subliminares.”

MEA CULPA
Bruce Conner | EUA | 1981, 5’, 16 mm

Na sua primeira colaboração com David Byrne e Brian Eno, Conner usou imagens de filmes educativos para criar uma trilha de imagens ritmicamente austera para a música do disco My Life in the Bush of Ghosts (1981), pioneiro no uso da técnica de sampling.

PROCURANDO COGUMELOS (Versão Riley)
LOOKING FOR MUSHROOMS (Riley Version)
Bruce Conner | EUA | 1959-1967/1996, 15’, DCP

Neste filme, são exibidas as mesmas imagens editadas na versão mais curta de LOOKING FOR MUSHROOMS, lançado em 1968 com uma canção dos Beatles. Com uma trilha nova de Terry Riley, a música “Poppy Nogood and the Phantom Band”, esta versão é mais longa, mas mantém a mesma edição, utilizando cinco frames para cada frame original.

MANHÃ DE PÁSCOA
EASTER MORNING
Bruce Conner | EUA | 1966/2008, 10’, DCP

Este último filme finalizado por Conner, com música de Terry Riley, é descrito por Michelle Silva, sua colaboradora de longa data e responsável pelo seu acervo, como uma "continuidade ao esforço ritualístico em retrabalhar e repensar os próprios filmes. A fonte de imagem deriva da gravação em Kodachrome 8 mm de [seu filme] EASTER MORNING RAGA (1966), expandida em termos de duração, bitola cinematográfica e quadros por segundo, para produzir um efeito de transcendência visual. EASTER MORNING celebra a reverência de Conner ao cinema experimental, ao som aleatório e às descobertas no reino do espírito."


 

Sessão CROSSROADS + O digital explosivo inevitável

15/11, sexta, 18h

CROSSROADS
CROSSROADS
Bruce Conner | EUA | 1976, 37’, DCP

“Operation Crossroads” foi o nome dos dois primeiros testes nucleares que os Estados Unidos realizaram no atol de Bikini, nas ilhas Marshall, entre 1946 e 1958. As bombas detonadas tinham um potencial explosivo equivalente a 23 milhões de toneladas de TNT – o mesmo que o ataque em Nagasaki. Mais de 700 câmeras e aproximadamente 500 operadores de câmeras cercaram o local do teste. Quase metade do estoque mundial de negativo fílmico estava em Bikini, tornando esse evento o momento mais minuciosamente fotografado na história, até então.

Bruce Conner encontrou uma beleza cataclísmica nas imagens de arquivo dos testes liberadas pelo governo. Vinte e três tomadas da mesma explosão, feitas em diferentes velocidades, ângulos e distâncias, do céu, do mar e da terra, foram montadas e combinadas com a trilha original composta por Patrick Gleeson e Terry Riley.

O digital explosivo inevitável
The Exploding Digital Inevitable
Ross Lipman | EUA | 2017, 1ª parte: 24’; 2ª parte: 25’, DCP

O digital explosivo inevitável é uma performance filmada, um ensaio documentário ao vivo do artista Ross Lipman. Ele foi um dos responsáveis pela restauração de CROSSROADS, filme de Bruce Conner. Integrando uma série de filmes, clipes de áudio, fotografias, entrevistas e documentos raros, Lipman revela aspectos surpreendentes sobre o experimento nuclear e a restauração de CROSSROADS.


 

Sessão História americana

24/11, domingo, 17h

RELATÓRIO
REPORT
Bruce Conner | EUA | 1963-1967, 14’, DCP

Segundo Rudolf Frieling, curador de artes midiáticas do San Francisco Musem of Modern Art, “depois do assassinato do presidente John F. Kennedy, em novembro de 1963, Conner trabalhou por anos nessas imagens, produzindo, ao final, oito versões de filme diferentes. Como disse Conner ao amigo e cineasta Stan Brakhage, ‘Se eu completasse o filme, [Kennedy] estaria tão morto quanto possível’.”

“Na versão final, exibida aqui, luzes intensas e piscantes acompanhadas pelo som de um comentarista de rádio se misturam com noticiários e comerciais, mimetizando a estrutura de uma transmissão televisiva. As repetições insistentes na primeira metade desafiam um encerramento narrativo e amplificam o papel da mídia no evento traumático em escala nacional. A segunda metade explora o cenário mais amplo da mercantilização e do espetáculo, oferecendo uma análise aguçada das tensões dentro da nossa cultura televisionada, movida a consumo, e da mitologia americana.”

ASSASSINATO TELEVISIVO
TELEVISION ASSASSINATION
Bruce Conner | EUA | 1963-1995, 14’, 16 mm

Assim como RELATÓRIO, o curta ASSASSINATO TELEVISIVO aborda o assassinato do presidente John Kennedy por Lee Harvey Oswald. A música é de Patrick Gleeson, e as imagens foram filmadas diretamente da tela da TV por Conner. Bruce Jenkins, diretor de Cinema e Vídeo do Walker Art Center, em Minneapolis, descreve o filme da seguinte forma:

“Oswald – vista da janela, Depósito de Livros Escolares do Texas – Eternal Flame [Chama eterna], Cemitério Nacional de Arlington – Presidente Kennedy – Flores funerárias na praça Dealey, Dallas – Desfile de inauguração de Kennedy – Parte 109 do relatório oficial da Comissão Warren – Depósito de Livros Escolares do Texas – Carreata de Kennedy – Rifle de ferrolho encomendado pelo correio – Oswald detido – Jack Ruby atira em Oswald – faixas da TV – múltiplas exposições – Lincoln Memorial – diagramas no quadro-negro – Casa Branca – guarda militar no túmulo de Kennedy – comercial de frango assado para o Dia de Ação de Graças – Oswald – et cetera.”

“Um filme notável. A trilha de Patrick Gleeson é tão eficaz quanto suas anteriores. Bruce Conner filma e transforma a experiência de ver essas imagens conhecidas, mas também hipnotizantes. O humor que alivia a tristeza genuína do material recebe alguns apoios aqui e acolá, acusticamente.”


Ingressos

Os ingressos para as sessões de cinema do IMS são vendidos nas bilheterias dos centros culturais e no site ingresso.com.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, as vendas para as sessões de cada mês acontecem a partir do 1º dia do mês vigente.

IMS Rio
R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Bilheteria: de terça a domingo, das 11h até o início da última sessão de cinema do dia, na recepção.



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