O Cinema do IMS apresenta a programação Histórias ocupadas: Steve McQueen, com foco na obra recente do diretor britânico. A programação inclui a estreia brasileira de Occupied City (2023), novo trabalho de McQueen, que investiga as reminiscências da ocupação nazista na cidade de Amsterdã.
A mostra inclui também os cinco filmes da antológica série Small Axe, exibidos entre outubro e dezembro no IMS Paulista e IMS Poços, em sessões únicas. Eleita em 2020 como a melhor produção do ano pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles, Small Axe reúne cinco histórias distintas inspiradas em personagens da comunidade afro-caribenha em Londres, entre 1960 e 1980. Os filmes abordam as tensões raciais presentes na cidade e as lutas por direitos em diferentes esferas, dos tribunais às pistas de dança. Após estrear no Festival de Cannes em 2020, Small Axe foi lançado pela Amazon e, no Brasil, ficou disponível apenas em serviços de streaming. Essa é a primeira vez que a antologia é exibida em uma sala de cinema nacional.
Para acompanhar a exibição dos filmes, o Cinema do IMS publicará uma série de textos com contribuições de Ashley Clark, diretor curatorial da The Criterion Collection, da pesquisadora Mariana Queen Nwabasili, de Steve McQueen e do sociólogo Paul Gilroy, que atuou como consultor na realização de Small Axe.
Blog do cinema:
Caminhos de e até Steve McQueen - por Mariana Queen Nwabasili ►
Música e dança como hiatos de liberdade negra em Small Axe - por Mariana Queen Nwabasili ►
A programação tem apoio de The Criterion Collection.
Filmes
Small Axe: Lovers Rock
Steve McQueen | Reino Unido, EUA | 2020, 70’, DCP (Turbine Studios) | Classificação indicativa: 16 anos
Uma história de amor entre jovens numa festa de blues em 1980. O filme é uma ode ao gênero de reggae romântico chamado lovers rock e aos jovens negros que encontraram liberdade e amor em seu som nas festas em Londres, em uma época em que não eram bem-vindos nas casas noturnas dos brancos.
Em entrevista a David Olusoga para a revista Sight and Sound, McQueen conta que este episódio é inspirado na juventude de sua tia: “Meu tio costumava deixar a porta dos fundos aberta para ela ir às [festas de blues em] Ladbroke Grove, porque minha avó definitivamente não permitiria que ela fosse! E na manhã seguinte, batendo na porta: ‘É hora da igreja’.”
Mais tarde, na mesma entrevista, Olusoga comenta: “A produção dos filmes e o conteúdo dizem: ‘Aqui está a criatividade negra, aqui está o que podemos fazer, aqui está o que podemos criar’. Adorei a duração que você dedicou em Lovers Rock à transformação de uma casa normal de Londres em uma festa de blues – a retirada dos móveis e a construção do sistema de som. Aqui estão pessoas negras fazendo algo por si mesmas, pessoas que não são desejadas em nenhum outro lugar.”
Ao que McQueen responde: “Para mim, tratava-se de um ritual. O processo é tão importante quanto o resultado final. Para te levar a essa jornada que chega a um ponto em que transcende, mesmo além das pessoas na sala. Torna-se culto. Algumas pessoas dizem que foi o Espírito Santo ou algo assim, mas sabe, isso aconteceu. Quando eu estava filmando [as cenas de dança em Lovers Rock], aquilo era de verdade. Eu fui convidado para aquela situação. Foi uma honra estar lá. Como artista, você deseja ser convidado, e foi isso que aconteceu. Eu nunca havia experimentado isso antes.”
Entrevista do diretor Steve McQueen a revista Sight and Sound (na íntegra, em inglês) ►
Programação
IMS Paulista
23/11, sábado, 18h
IMS Poços
9/11, sábado, 19h
Small Axe: Red, White & Blue
Steve McQueen | Reino Unido, EUA | 2020, 81’, DCP (Turbine Studios) | Classificação indicativa: 16 anos
Depois de ver seu pai ser agredido por policiais, um jovem negro é levado a entrar para a polícia, com a esperança de mudar as atitudes racistas desde dentro. Imediatamente ele se depara com a desaprovação de seu pai e com o racismo nas fileiras policiais.
“Red, White and Blue foi uma história muito difícil de filmar porque eu não conseguia entender por que um homem negro [o personagem real Leroy Logan, interpretado por John Boyega] queria ser policial nos anos 1980. (...) Quando Boyega (Leroy) vê seu pai ser espancado pela polícia e se junta à polícia para mudar a situação por dentro... é uma atitude bastante heroica. Mas ele não pode porque há um teto de vidro”, comenta Steve McQueen.
Entrevista do diretor Steve McQueen a revista Sight and Sound (na íntegra, em inglês) ►
Programação
IMS Paulista
30/11, sábado, 18h
IMS Poços
30/11, sábado, 16h
IMS PAULISTA
23/11/2024, sábado
18h - Small Axe: Lovers Rock
30/11/2024, sábado
18h - Small Axe: Red, White & Blue
IMS POÇOS
9/11/2024, sábado
19h - Small Axe: Lovers Rock
30/11/2024, sábado
16h - Small Axe: Red, White & Blue
IMS Paulista
Entrada gratuita. Sujeita à lotação da sala.
Ingressos distribuídos 1 hora antes de cada sessão. Uma senha por pessoa.
IMS Poços
Entrada gratuita. Sujeita à lotação da sala.
Ingressos distribuídos 1 hora antes de cada sessão. Uma senha por pessoa.
Small Axe: Mangrove
Small Axe: Mangrove
Steve McQueen | Reino Unido, EUA | 2020, 127’, DCP (Turbine Studios) | Classificação indicativa: 16 anos
Mangrove conta a história verídica de Frank Crichlow, cujo restaurante Mangrove, de origem indiana ocidental, um animado centro comunitário em Notting Hill, Londres, atraía moradores, ativistas, intelectuais e artistas. Em uma época de flagrante discriminação racial, Crichlow se vê, assim como seu negócio, alvo de incansáveis batidas policiais. Em uma tentativa de acabar com a discriminação e a ruína de sua base comunitária, Frank e seus amigos saem às ruas em um protesto pacífico em 1970, mas são recebidos com agressão policial.
Como resultado, nove homens e mulheres, incluindo Frank, a líder do movimento Pantera Negra britânico Altheia Jones-LeCointe e o ativista Darcus Howe, são presos injustamente e acusados de incitar tumultos e agressões. Segue-se, então, um julgamento altamente noticiado à época.
“Para mim, esses filmes deveriam ter sido feitos há 35 anos, 25 anos, mas não foram, e acho que, na minha cabeça louca, eu queria fazer o máximo de filmes que pudesse para corrigir isso”, conta McQueen a David Olusoga para a Sight and Sound. “Naquela época, ninguém daria dinheiro a mim – ou a qualquer outra pessoa – para fazer um filme sobre os Mangrove Nine. Você não era bem-vindo. Cinquenta anos depois, todos estão celebrando essas pessoas em particular”.
“Quero dizer, eu não sabia sobre o Mangrove Nine até talvez dez anos atrás. Um dos melhores amigos do meu pai era Rhodan Gordon [um dos Mangrove Nine]. Rhodan costumava ir à nossa casa o tempo todo, e meu pai costumava ir ao Mangrove. Mas acho que o que aconteceu foi muito TEPT [transtorno de estresse pós-traumático] após o julgamento. Rhodan Gordon, no dia seguinte ao julgamento, teve a perna e o braço quebrados e foi preso por posse de arma perigosa e agressão. Ele pegou 36 meses de prisão. Essas pessoas foram perseguidas pela polícia. E seus filhos tiveram que lidar com isso, e ainda estão lidando com isso”.
“Portanto, o fato de eu não ter ideia de quem era essa pessoa, até recentemente, não é uma surpresa real, porque era um drama. Agora podemos celebrá-los, pois nenhum dos nove homens do Mangrove Nine está vivo.”
Programação
IMS Paulista
12/10, sábado, 18h20
IMS Poços
12/10, sábado, 16h
Occupied City
Occupied City
Steve McQueen | Holanda, Reino Unido | 2023, 266’, DCP | Classificação indicativa: 14 anos
O Cinema do IMS realiza a estreia brasileira do monumental Occupied City, de Steve McQueen, exibido em 2023, no Festival de Cannes, e se debruça sobre a obra do cineasta de setembro a dezembro, na mostra Histórias ocupadas: Steve McQueen. Além do longa, será exibida nesses meses a série antológica de cinco filmes Small Axe.
O passado devastador colide com o precário tempo presente no documentário de Steve McQueen, Occupied City [Cidade ocupada, em tradução livre], baseado no livro Atlas van een bezette stad: Amsterdam 1940-1945) [Atlas de uma cidade ocupada: Amsterdã 1940-1945], escrito por Bianca Stigter. McQueen cria dois retratos interligados: uma escavação de porta em porta da ocupação nazista que ainda assombra a cidade em que vive e uma jornada vívida pelos últimos anos de pandemia e protestos. Sem entrevistas ou exposição de material de arquivo, o filme percorre cerca de 130 endereços de Amsterdã para descobrir o que ocorreu por trás de cada janela naqueles anos calamitosos.
Nas palavras de McQueen, o filme é “uma progressão de uma conversa que está em andamento. E a conversa é diferente agora, porque há essas questões de apagamento – e não apagamento. Em Amsterdã, temos uma cidade onde muitos dos edifícios usados nos anos 1940 ainda estão aqui, ainda na mesma escala. Eles estão sendo usados de maneiras diferentes das dos anos 1940, mas não houve muita mudança visível. De certa forma, é quase como Pompeia. O passado está bem ali, fisicamente, em nosso presente. Bianca e eu conversamos sobre o filme como sendo quase uma escavação, trazendo o passado para a cidade atual e reforçando o passado dessa forma. O filme coloca o espectador na posição incomum de ter de negociar dois elementos diferentes: o que você está vendo e as informações que está ouvindo, ambos muito estranhos. Dessa negociação, acho que surge uma terceira coisa, e não sei o que é exatamente, ou como descrevê-la, mas é o que eu estava procurando”.
“São todos os tipos de passados e presentes que se unem. E também se trata de aprender com o passado. Foi muito inquietante fazer um filme sobre a ocupação e todo o negacionismo que ocorreu, ao mesmo tempo que se via o ressurgimento do fascismo, do racismo e do antissemitismo. É um lembrete de como as coisas podem se desenvolver”.
Depoimento extraído do material de imprensa do filme.
Programação
IMS Paulista
14/9, sábado, 17h*
26/9, quinta, 17h*
*Sessão com intervalo de 20min
IMS PAULISTA
12/10/2024, sábado
18h20 - Small Axe: Mangrove
IMS POÇOS
12/10/2024, sábado
16h - Small Axe: Mangrove
IMS PAULISTA
14/9/2024, sábado
17h - Occupied City*
26/9/2024, quinta
17h - Occupied City*
*Sessão com intervalo de 20min