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John Woo: A imagem da ação

IMS Paulista e IMS Poços, setembro de 2025

A Trilogia de Hong Kong restaurada em 4K.

Muito antes de ser conhecido pelos sucessos hollywoodianos A outra face (1997), Missão impossível 2 (2000) e Códigos de guerra (2002), o cineasta chinês John Woo mudou os rumos do cinema de ação em Hong Kong e no mundo, com filmes aclamados pelo público e pela crítica. Esta programação apresenta a estreia brasileira das novas restaurações 4K de três filmes essenciais do cineasta: A Better Tomorrow [Alvo duplo] (1986), The Killer [O matador] (1989) e Hard Boiled [Fervura máxima] (1992). Com heróis trágicos, tiroteios e explosões coreografados e narrativas intensas entre a ação e o melodrama, esses filmes consolidaram o estilo de Woo e sua fama. Juntos, eles representam o auge da fase de Hong Kong do diretor e o desenvolvimento do subgênero que ficaria conhecido como “derramamento de sangue heroico” (heroic bloodshed), influenciando cineastas em todo o mundo. Esta seleção permite redescobrir a força narrativa e visual do cinema de John Woo.


Filmes


A Better Tomorrow [Alvo duplo]

A Better Tomorrow [Alvo duplo]
英雄本色
John Woo | Hong Kong | 1986, 95’, DCP (Shout! Studios), restauração 4K | Classificação indicativa: 16 anos

A história de dois irmãos: um ex-gângster em processo de redenção tenta se reconciliar com o irmão policial, de quem está afastado, mas os laços com sua antiga gangue são difíceis de romper. Pelo caminho, não faltam assaltos, traições e tiroteios.

Também conhecido pelo título internacional A Better Tomorrow, Alvo duplo é considerado um divisor de águas na carreira de John Woo e no próprio cinema de ação de Hong Kong. Antes dele, a trajetória de Woo era marcada por comédias, filmes de artes marciais de estúdio e um mau desempenho de bilheteira. O longa nasceu da parceria com o produtor Tsui Hark e consolidou elementos que definiriam sua obra: a fusão entre melodrama e ação hiperestilizada, o herói trágico e ambíguo, as célebres trocas de tiros coreografadas, o uso expressivo da câmera lenta e composições visuais marcantes. Lançado em 1986, tornou-se o maior recorde de bilheteria da história de Hong Kong até então e marcou o início da parceria com Chow Yun-fat, que a partir dali se projetaria como astro internacional.

Em uma entrevista a Alex Simon publicada na Venice Magazine em 1997, Woo se detêm um pouco no trabalho com o ator: “Naquela época, Chow já era uma grande estrela da TV em Hong Kong. Mas ele nunca tinha feito um filme de sucesso. Algumas pessoas até o chamavam de ‘envenenador de bilheteria’, embora todos o reconhecessem como um grande ator. Eu nunca tinha o conhecido antes de escalá-lo para Alvo duplo. Foi naquele momento que eu disse a mim mesmo que queria uma pessoa que parecesse um cavaleiro moderno. Essa pessoa tinha que ter um grande coração. Eu queria criar um novo tipo de herói, um herói que pudesse me representar, falar por mim e também pelo público, alguém próximo do público, não como um super-herói. Eu sempre tinha ouvido que Chow gostava de ajudar outras pessoas, crianças, seus amigos, e um homem com um coração assim, bem, ele é meu herói! Então eu o escolhi por isso. Depois, quando nos encontramos, tivemos uma longa conversa e percebemos que tínhamos muitas coisas em comum. Descobri que éramos ambos antiquados. Nós dois acreditamos que, nos tempos antigos, as pessoas eram mais gentis. Se importavam mais com os outros, mais com a família e mais uns com os outros. Mas aí o mundo mudou, e as pessoas estão se tornando mais egoístas. Então acho que nós dois sentimos que queremos trazer esses valores para nossos filmes e lembrar as pessoas deles, para que talvez possamos recuperá-los de alguma forma. Também percebo que Chow, meu ídolo, se parece muito com vários ídolos clássicos do cinema: Clint Eastwood, Gary Cooper, Paul Newman, Steve McQueen, Cary Grant… Todas essas grandes imagens, todas estão em Chow Yun-fat.”

“Durante Alvo duplo, a maioria das cenas que filmamos não estava no roteiro, sabe por quê? Porque nós dois estávamos muito pra baixo. Estávamos no mesmo barco, já que ambos vínhamos fracassando por alguns anos. Em uma cena em que estávamos tendo dificuldades, perguntei a Chow se ele já tinha vivido uma experiência parecida na vida real. Chow se lembrou de uma vez, anos antes, em que tinha sido insultado por um chefe de gangue. E ele disse que se sentiu desonrado, chorou e ficou muito irritado… Então eu disse: ‘Ok, vamos esquecer o roteiro. Vamos colocar essa experiência na cena’, e deixei que ele inventasse o diálogo. Fizemos isso mais algumas vezes durante o filme, e acho que essa é uma das razões pelas quais tantas pessoas se comoveram com o filme, com a atuação dele e com seu personagem, porque ele trouxe tanta verdade para aquilo. É por isso que gosto de trabalhar com Chow, porque temos tanto em comum. A mesma coisa com John [Travolta] e Nick [Nicolas Cage]: todos nós somos muito antiquados.”

Entrevista do diretor John Woo a Alex Simon, publicada na Venice Magazine (na íntegra, em inglês) ►

 

Programação

IMS Paulista
6/9, sábado, 18h
19/9, sexta, 20h40

IMS Poços
13/9, sábado, 16h


The Killer [O matador]

The Killer [O matador]
喋血雙雄
John Woo | Hong Kong | 1989, 111’, DCP (Shout! Studios), restauração 4K | Classificação indicativa: 16 anos

Um assassino de aluguel em Hong Kong cega acidentalmente uma mulher inocente durante um trabalho. Determinado a conseguir a cirurgia que poderá devolver a visão dela, ele precisa realizar um último assassinato.

Com o título internacional The Killer, o filme apresenta um Woo com mais liberdade para radicalizar seu estilo e aprofundar alguns temas. Esta obra consolidou internacionalmente a reputação de John Woo como um grande cineasta. Em uma entrevista publicada em 1994, na edição número 13 da revista Bright Lights, o diretor conta: “Em 1989, O matador foi exibido no Festival de Toronto. O filme chamou muita atenção da crítica e recebeu ótimas resenhas. Os cinéfilos adoraram meu filme. Fiquei muito surpreso! Eu nunca tinha ido a um festival de cinema antes, e não sabia quantos fãs e amigos tinha. Depois, em 1990, O matador foi exibido no Festival de Cannes e recebeu ainda mais atenção. Só que dessa vez também da própria indústria do cinema. Cineastas, estúdios e produtores começaram a se interessar pelo meu estilo e pela minha técnica de ação. A partir desse filme, ganhei muitos amigos e recebi um apoio imenso. Até hoje isso me surpreende e me deixa grato. Embora Alvo duplo (1986) tenha sido um grande sucesso em países asiáticos, ele não era um filme ocidental. Para mim, tudo começou no Ocidente com O matador”.

Entrevistado por Simon Abrams em 2023 para a revista The New Yorker, o cineasta conta que, depois de Alvo duplo, tentou tornar seus filmes mais pessoais: “Fiz homenagens aos cineastas que admirava, como em O matador, que foi obviamente uma homenagem a O samurai (Le Samouraï) [de Jean-Pierre Melville]. Bala na cabeça (Bullet in the Head) também foi uma homenagem a Martin Scorsese, já que fui muito influenciado por seu filme Caminhos perigosos (Mean Streets). E em Fervura máxima, porque Hong Kong estava tomada pelo crime, quase fora de controle, fiz uma homenagem ao meu ídolo Clint Eastwood em Perseguidor implacável (Dirty Harry). Tive muita sorte de poder ser eu mesmo.”

“Eu filmo todas as cenas de ação – e algumas dramáticas – seguindo meus instintos, e muito disso vem do que sinto quando estou no set. Como O matador era uma homenagem a um filme francês, filmei sem roteiro. Tinha apenas uma ideia e um esboço muito simples, de modo que a equipe e os atores não sabiam direito qual era a história ou o que aconteceria em seguida. Eu também não sabia. Só tinha uma noção geral de que queria fazê-lo como um filme francês. O produtor não entendeu; ele não conhecia filmes franceses. Mesmo assim, tive total liberdade para ser eu mesmo no set. Não havia produtor presente, então eu podia filmar o que viesse à cabeça.”

“Eu disse a Chow Yun-fat que seu personagem havia sido traído por um velho amigo que tentou matá-lo. Então perguntei a ele: ‘Na sua vida, você já foi traído por um bom amigo?’. Chow me contou que, depois de ficar famoso, quis ajudar um amigo dando dinheiro para que ele abrisse sua própria empresa, mas esse amigo o apunhalou pelas costas. Então perguntei: ‘Como você se sentiu? O que disse a esse amigo? Ainda o odeia?’ Ele ainda se lembrava bem. Perguntei: ‘Por que não usamos isso na cena? Diga a mesma coisa’. [...] Essa cena deu certo porque veio de emoções reais.”

Entrevista do diretor John Woo publicada em 1994, na edição número 13 da revista Bright Lights, disponíveis nos portais:
Bright lights Film (na íntegra, em inglês) ►
The New Yorker (na íntegra, em inglês) ►

 

Programação

IMS Paulista
9/9, terça, 20h
13/9, sábado, 18h

IMS Poços
20/9, sábado, 19h


Hard Boiled [Fervura máxima]

Hard Boiled [Fervura máxima]
辣手神探
John Woo | Hong Kong | 1992, 128’, DCP (Shout! Studios), restauração 4K | Classificação indicativa: 16 anos

Um policial durão se junta a um agente infiltrado para derrubar um gângster sinistro e sua quadrilha. Chow Yun-fat interpreta um policial obcecado em acabar com os contrabandistas de armas responsáveis pela morte de seu parceiro – contando com a ajuda de um policial disfarçado cuja identidade secreta de assassino está por um fio. O filme de John Woo traz algumas das sequências de ação mais celebradas de todos os tempos.

Sucesso de público e crítica Fervura máxima (que teve o título internacional Hard Boiled), marca, de certa forma, o fim de um ciclo do cinema de John Woo em Hong Kong. Poucos anos após, dirigiria seus primeiros filmes nos EUA. Em entrevista a Simon Abrams para a revista The New Yorker em 2023, ele diz: “Hong Kong é uma cidade puramente comercial. Eles não tinham mercado para o tipo de filme que eu queria fazer. Também senti que tinha alcançado o topo depois de fazer Fervura máxima e que não podia ir além em Hong Kong. Além disso, não conseguia bons roteiros depois disso.”

“Nunca sonhei em ir para Hollywood. Eu queria fazer minhas próprias coisas e continuar filmando em Hong Kong, mas não havia muito material bom para filmar. Enquanto isso, O matador havia atraído tanta atenção do Ocidente – embora eu não soubesse disso até então. De repente, recebi muitas histórias e roteiros de Hollywood – quase 50 roteiros de estúdios e produtoras independentes como 20th Century Fox e New Line Cinema. Eu não me interessei pela maioria, porque todos queriam que eu fizesse um filme de ação. Eu precisava criar algo novo e queria aprender a fazer filmes melhores, então encarei como um desafio ir para Hollywood. Apenas para aprender mais e conhecer mais pessoas. Mesmo com o problema da língua, eu ainda queria tentar. Eu também fui o primeiro diretor chinês a trabalhar em Hollywood, então senti que tinha a obrigação de dar um bom exemplo.”

Entrevista do diretor John Woo ao portal The New Yorker (na íntegra, em inglês) ►

 

Programação

IMS Paulista
20/9, sábado, 19h30
26/9, sexta, 20h40

IMS Poços
27/9, sábado, 18h30


Programação

IMS Paulista

6/9/2025, sábado
18h - A Better Tomorrow [Alvo duplo]

9/9/2025, terça
20h - The Killer [O matador]

13/9/2025, sábado
18h - The Killer [O matador]

19/9/2025, sexta
20h40 - A Better Tomorrow [Alvo duplo]

20/9/2025, sábado
19h30 - Hard Boiled [Fervura máxima]

26/9/2025, sexta
20h40 - Hard Boiled [Fervura máxima]

 

IMS Poços

13/9/2025, sábado
16h - A Better Tomorrow [Alvo duplo]

20/9/2025, sábado
19h - The Killer [O matador]

27/9/2025, sábado
18h30 - Hard Boiled [Fervura máxima]


Ingressos

Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos online ou na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.

Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.

Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.


IMS Paulista

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Paulista e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.


IMS Poços

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a sexta, das 13h às 19h. Sábados e domingos, das 9h às 19h, na recepção do IMS Poços.

Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Poços e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês. Os preços variam de acordo com o filme ou a mostra.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.