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Novembro Negro

IMS Paulista: 12 a 26 de novembro

IMS Rio: 5 a 26 de novembro

No mês em que as populações negras no Brasil colocam seus punhos em riste em sinal de luta e resistência pelo Mês da Consciência Negra, a programação de cinema negro do IMS joga luz à agência de pessoas negras acerca de seus corpos, de seus afetos, de seus amores, de seus sonhos, de sua dança e de sua música, portanto, celebramos nossas existências.

A partir do olhar delicado de Ayoka Chenzira, somos apresentados a uma certa década de 1990 quase nada explorada no imaginário coletivo brasileiro sobre a cultura americana. Sob a forte marca estética colorida do hip hop noventista, testemunhamos o evoluir da história de três mulheres negras tendo agência de seus corpos e suas vidas, na estreia brasileira do recém-restaurado Alma e Rainbow. Ainda, da mesma diretora, apresentamos Sylvilla: eles dançam seus batuques, um sensível documento acerca de uma das pioneiras dançarinas negras a ensinar e ter um estúdio de dança. Das poucas cuja performance moderna se desenvolveu sob a influência das culturas africanas, caribenhas e latino-americanas.

Tendo como sul a celebração da criação e da existência de nossas culturas pretas, não podíamos deixar de revisitar três grandes ícones da música universal em documentários históricos das apoteóticas vidas de Calypso Rose, da franco-camaronesa Pascalle Obolo; Meu amigo Fela, do brasileiro Joel Zito Araújo, e Miles Davis − O inventor do cool, do americano Stanley Nelson.


Filmes


Alma e Rainbow + Sylvilla: Eles dançam seus batuques

Alma e Rainbow
Alma’s Rainbow
Ayoka Chenzira | EUA | 1993, 86’, DCP (Milestone Films & Kino Lorber) | Classificação indicativa: 14 anos

Um misto entre comédia e drama em torno do amadurecimento de três mulheres negras que vivem no Brooklyn. O longa-metragem de Ayoka Chenzira explora a vida da adolescente Rainbow Gold, que está crescendo e navegando em conversas e experiências em torno de padrões de beleza, autoimagem e os direitos que as mulheres negras têm sobre seus corpos. Rainbow frequenta uma escola paroquial rigorosa, estuda dança e está começando a se envolver com os meninos. Ela vive sob a criação rígida de sua mãe, Alma Gold, que administra um salão de beleza dentro de casa. Quando Ruby, tia de Rainbow e irmã de Alma, retorna de Paris após uma ausência de dez anos, as irmãs entram em conflito sobre como deve ser a criação da jovem.

Alma e Rainbow, que está sendo apresentado pela primeira vez no Brasil em versão restaurada em 4K, destaca um mundo de mulheres negras com complexidade e profundidade, no qual as personagens vivem, amam e lutam sobre o que significa exercer sua agência. O filme foi escrito, dirigido e produzido pela artista e professora Ayoka Chenzira. Premiada e aclamada internacionalmente, Chenzira foi uma das primeiras mulheres afro-americanas a lecionar produção cinematográfica no ensino superior, além de ser apontada como a primeira artista da animação afro-americana. O título original, Alma’s Rainbow, foi uma sugestão da cineasta Julie Dash (Daughters of the Dust, 1991). Atualmente, Chenzira trabalha em uma adaptação audiovisual do romance Kindred – Laços de sangue, de Octavia E. Butler.

“Partes do filme são autobiográficas”, comenta a diretora em depoimento disponibilizado no dossiê de imprensa do filme. “Minha mãe tinha um lindo salão de beleza aonde as mulheres vinham e contavam as histórias mais incríveis e davam suas opiniões sobre o mundo. Mas, principalmente, eu queria fazer Alma e Rainbow porque, já adulta, morando no Brooklyn, em Nova York, conhecia muitas meninas que estavam tendo dificuldades com as mães. As histórias eram todas iguais. As mães mantinham as filhas muito, muito perto, por medo de que se tornassem mães adolescentes. E as filhas estavam ficando muito inventivas em criar maneiras de escapar do olhar atento da mãe. Então, é no centro dessa dança que Alma e Rainbow se situa.”

Esta nova restauração 4K foi realizada pela distribuidora Milestone Films, pelo Academy Film Archive e pela Film Foundation. Será exibida na mesma sessão de Sylvilla: dançando aos seus tambores.

 

Sylvilla: Eles dançam seus batuques
Sylvilla: They Dance to Her Drum
Ayoka Chenzira | EUA | 1979, 25’, cópia digital (Milestone Films & Kino Lorber) | Classificação indicativa: 14 anos

Filmado em 16 mm e apresentado em um novo scan 4K, este curta documentário é um retrato da dançarina e coreógrafa Sylvilla Fort, uma artista negra pioneira que influenciou uma geração de dançarinas.

“Esse é um trabalho extremamente pessoal sobre minha professora de dança”, comenta a diretora Ayoka Chenzira. “Ela morreu antes que estivesse terminado. É o único documentário feito sobre essa mulher, que é o elo entre [os bailarinos e coreógrafos] Katherine Dunham e Alvin Ailey. Ela morreu cinco dias após um incrível tributo a ela ser realizado na data do meu aniversário. Após sua morte, fiquei um bom tempo sem conseguir fazer filmes.”

[Depoimento da diretora extraído do livro Reel Black Talk: A Sourcebook of 50 American Filmmakers, de Spencer Moon].

Esta cópia foi restaurada pelo Academy Film Archive e financiada pela Film Foundation. Será exibida na mesma sessão de Alma e Rainbow.

 

Programação

IMS Paulista
20/11, domingo, 17h45
26/11, sábado, 18h
Sessão seguida de conversa com Kariny Martins (parceria IMS-FIANB, Festival Internacional do Audiovisual Negro no Brasil)

IMS Rio
26/11, sábado, 18h

 

Kariny Martins
Curadora, pesquisadora, roteirista e sócia na Cartografia Filmes. Atualmente é autora-roteirista na TV Globo, mestre em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná com pesquisa sobre Ficção especulativa no Cinema Negro brasileiro e Doutoranda em Comunicação da Universidade Federal Fluminense com investigação em curadoria. É conselheira Sul da APAN.


Calypso Rose

Calypso Rose – The Lioness of the Jungle
Pascale Obolo | França, Trinidad e Tobago | 2011, 85’, DCP (Dynamo Production) | Classificação indicativa: 14 anos

Embaixatriz da música caribenha, Calypso Rose é uma lenda viva. Para homenageá-la, a cineasta franco-camaronesa Pascale Obolo passou quatro anos com a diva da Calypso Music, em uma trajetória muito especial

“Juntos, refizemos os passos de sua vida passada e presente”, comenta a diretora Pascale Obolo. “Eu estava com ela quando ela gravou seu último álbum em Paris, visitamos Nova York, onde ela vive pelos últimos 20 anos, e viajamos para Tobago, a ilha onde ela nasceu e  para onde retorna regularmente para se reconectar com suas raízes africanas e sua grande paixão pela pesca e sua espiritualidade, e depois para Trinidad, onde sua carreira internacional começou − e até para a África, para redescobrir suas raízes.”

O documentário aborda não só a memória, o intercâmbio e a descoberta de diversas culturas do mundo, mas também a jornada de uma mulher militante e autêntica. Cantora e compositora, feminista, espiritualista, celebridade e mulher negra consciente de sua origem. Nas palavras de Obolo, “na aurora da sua vida, acompanho uma grande senhora pela vereda da memória. Nessa busca, encontramos alguns cúmplices, companheiros de conflitos ou amigos de longa data. Avançando no fio que liga seu mundo privado ao exterior, somamos e subtraímos o resto de seus sonhos e suas decepções. Ela compartilha conosco o que a faz viver e o que nos faz viver. Porque a história dela também é a nossa.”

Depoimento de Pascale Obolo no portal AfricAvenir - na íntegra, em francês.

 

Programação


IMS Paulista
12/11, sábado, 20h
20/11, domingo, 16h

IMS Rio
12/11, sábado, 16h


Meu amigo Fela

Joel Zito Araújo | Brasil | 2019, 92’, DCP (O2 Play) | Classificação indicativa: 14 anos

Revolucionário, visionário, gênio, guerrilheiro, pan-africanista e pop star. São muitos adjetivos que podem ser aplicados a Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, mais conhecido como Fela Kuti. Nascido na Nigéria em outubro de 1938, Fela estudou música em Londres e faleceu em agosto de 1997. O multi-instrumentista foi um dos pioneiros do gênero afrobeat, além de ter sido ativista político e defensor dos direitos humanos.

Em Meu amigo Fela, o diretor brasileiro Joel Zito Araújo vai a Nova York entrevistar o cubano Carlos Moore, amigo íntimo e biógrafo oficial de Fela, com o objetivo de tentar entender o homem que viveu por trás do mito de “excêntrico ídolo pop africano do gueto”.

Segundo o diretor, Carlos Moore não é o único amigo de Fela a que o título do filme faz referência. “Na realidade, o título Meu amigo Fela refere-se a todos os amigos de Fela Kuti que estão no filme, e indiretamente eu, um amigo mesmo que imaginário”, conta o realizador em entrevista à Revista de Cinema. “O dispositivo fílmico para contar a história do Fela consistiu em buscar os relatos dos amigos íntimos desse grande e trágico artista. Lá, você verá o biógrafo, a amante norte-americana que fez a cabeça de Fela, o filho, uma das suas 27 esposas, os artistas gráficos, o baterista que ajudou a criar o afrobeat, e assim por diante. Eu queria, portanto, fazer um documentário que entrasse na intimidade de Fela, e esta foi a estratégia que inventei. Carlos Moore acabou tendo um papel discreto de condutor da memória coletiva. É importante também dizer que Fela foi a minha maneira de falar da África, da geração de pan-africanistas que sempre admirei e de minhas angústias com as tragédias que o continente viveu e vive. É, portanto, um filme que tem também o meu ponto de vista, nesse sentido.”

Entrevista do diretor Joel Zito Araújo ao portal Revista de Cinema - íntegra.

 

Programação

IMS Paulista
19/11, sábado, 18h
20/11, domingo, 14h

IMS Rio
5/11, sábado, 16h


Miles Davis, inventor do cool

Miles Davis, Birth of the Cool
Stanley Nelson | EUA | 2019, 115’, DCP | Classificação indicativa: 14 anos

Miles Davis é um grande nome da música do século XX. Foi quem mudou os rumos do jazz inúmeras vezes, revelou nomes importantíssimos na história da música − como John Coltrane, Herbie Hancock, Chick Corea −, levou o jazz às massas na ilha Wright e foi o porta-voz de diferentes gerações. Este documentário mergulha em seis décadas de carreira de Davis: de seus dias como estudante da Juilliard ao desenvolvimento de seu som característico em gravações com seu famoso quinteto, de suas colaborações com Gil Evans às suas mudanças para novos paradigmas musicais nos anos 1970 e 1980. À medida que o filme acompanha os triunfos musicais de Davis, os meandros de sua complicada vida pessoal são contados com reflexões íntimas das pessoas mais próximas a ele.

“Eu quis fazer um filme que se ocupasse apenas de música e de um músico, e eu amo jazz, e qual tema seria melhor do que Miles Davis, sabe?”, comentou Stanley Nelson em uma fala de apresentação do filme para o American Film Institut em junho de 2021. “Ele era uma pessoa realmente complicada, e uma das questões que nos orientou enquanto fazíamos o filme era: como um cara que não era muito legal na maior parte do tempo podia fazer uma música tão bela? E não é apenas sua incrível música e seu incrível gosto musical que vão durar pra sempre − o álbum de jazz mais vendido de todos os tempos é Kind of Blue. Mas era também a forma como ele se vestia, os carros que ele dirigia. Ele dirigia Ferraris e Lamborghinis. Ele saía e se casava com mulheres incrivelmente belas e inteligentes. Ele era um ícone. Como alguém diz em algum momento do filme: para ser cool, bastava levar um disco do Miles Davis debaixo do braço. Mas eu acredito que Miles é sempre um farol para mim e muitas outras pessoas, porque ele estava em permanente mudança. Ele estava satisfeito com o que tinha feito, mas então resolvia fazer outra coisa, e mais outra e mais outra. E não apenas para ser diferente, mas porque era nisso que ele acreditava e era isso o que ele fazia.

Miles Davis, inventor do cool foi feito para a série de televisão American Masters, da rede americana PBS, e estreou no Festival de Cinema de Sundance em 2019. Em 2021, ganhou dois prêmios Emmy por Melhor Documentário de Arte e Cultura e Melhor Som.

Íntegra da fala de Stanley Nelson, em inglês.

 

Programação

IMS Paulista
17/11, quinta, 20h
20/11, domingo, 20h

IMS Rio
20/11, domingo, 15h50


Programação


São Paulo

12/11/2022, sábado
20h - Calypso Rose

17/11/2022, quinta
20h - Miles Davis, inventor do cool

19/11/2022, sábado
18h - Meu amigo Fela

20/11/2022, domingo
14h - Meu amigo Fela
16h - Calypso Rose
17h45 - Alma e Rainbow + Sylvilla: Eles dançam seus batuques
20h - Miles Davis, inventor do cool

26/11/2022, sábado
18h - Alma e Rainbow + Sylvilla: Eles dançam seus batuques
Sessão seguida de conversa com Kariny Martins (parceria IMS-FIANB, Festival Internacional do Audiovisual Negro no Brasil)


Rio de Janeiro

5/11/2022, sábado
16h - Meu amigo Fela

12/11/2022, sábado
16h - Calypso Rose

20/11/2022, domingo
15h50 - Miles Davis, inventor do cool

26/11/2022, sábado
18h - Alma e Rainbow + Sylvilla: Eles dançam seus batuques


Ingressos

IMS Paulista

Avenida Paulista, 2424
São Paulo/SP

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, a venda é semanal: toda quarta-feira, às 18h, são liberados ingressos para as sessões que acontecem até a quarta-feira seguinte.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.


IMS Rio

Rua Marquês de São Vicente, 476
Gávea, Rio de Janeiro/RJ

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na recepção.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, as vendas para as sessões de cada mês acontecem a partir do 1º dia do mês vigente.