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Contraste

Os filmes de Ana Vaz

IMS Paulista: 5 a 19 de novembro

O programa de filmes, em cartaz no Cinema do IMS, apresenta alguns dos filmes-poemas de Ana Vaz, uma das mais relevantes artistas e cineastas contemporâneas. Seu trabalho é marcado por um constante desafio experimental sobre as formas poéticas do cinema contemporâneo, ressaltando as profundas contradições do nosso tempo e questionando, sobretudo, as práticas destruidoras da modernidade colonial.

Este programa é um desdobramento da exposição É noite na América, em cartaz no Pivô entre setembro e outubro de 2022. A exposição incluiu, além de outros trabalhos, uma instalação homônima, uma comissão e produção da Fondazione In Between Art Film, com coprodução de Ana Vaz, Spectre Productions e Pivô e apoio adicional do Jeu de Paume, Paris. É noite na América é um ecoterror, livremente inspirado pela leitura do livro A cosmopolítica dos animai, da filósofa brasileira Juliana Fausto, e que segue os percursos e desvios de animais selvagens, fugitivos da destruição do cerrado brasileiro em plena Brasília moderna.


Filmes


Programa 1

A Idade da Pedra 
Ana Vaz | Brasil, França | 2013, 29’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

"Era tão artificial como deveria ter sido o mundo quando criado” - Clarice Lispector.

Uma viagem ao Centro-Oeste brasileiro nos conduz a uma estrutura monumental, petrificada no centro do cerrado. Inspirado pela epopeia da construção de Brasília, o filme parte desse momento histórico para recriá-lo em um tempo futuro ou passado. Seguindo os traços que nos conduzem a esse monumento, o filme descobre uma história de exploração, profecia e mito.

 

Há terra! 
Ana Vaz | Brasil, França | 2016, 13’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

“Há terra! É um encontro, uma caça, um conto diacrônico do olhar e do devir. É um jogo, no qual, como numa busca, o filme procura personagem e terra, terra e personagem, predador e presa.” É assim que Ana Vaz descreve seu filme-poema filmado em 16 mm. Movimentos de câmera de dardos parecem perseguir uma jovem através da grama alta. A locução em tensão do presente parece fundir-se com o passado na miopia da lente de foco longo. O loop de som recorrente de um homem gritando "Há terra! Há terra!" evoca a memória distante do colonialismo. Mas a beleza desta colagem repousa na impossibilidade de o espectador deixar passar esse passado: logo o testemunho atual envolve um prefeito que assumiu por ameaça as terras do povo indígena. A jovem que está sendo caçada vem para personificar um território. Estamos no sertão do Brasil, onde o grito "há terra!" também pode ser ouvido como afirmando que não há razão para que os sem-terra ou que não têm terra – cujo movimento organizado tem agora cerca de 40 anos – sejam privados de terra. Enigmático e febril, o filme vibra com referências do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade (1928), outra fonte de inspiração para Ana Vaz: “Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade.”

Texto de apresentação por Charlotte Garson, para o festival Cinéma du Réel, na França, em 2016.

 

Apiyemiyekî?
Ana Vaz | Brasil, França, Holanda, Portugal | 2019, 29’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

Apiyemiyekî? é um retrato cinematográfico que parte do arquivo de Egydio Schwade, educador brasileiro e militante pelos direitos dos povos indígenas – Casa da Cultura de Urubuí, localizado na sua casa em Presidente Figueiredo (AM), onde atualmente são conservados mais de três mil desenhos feitos pelos Waimiri-Atroari, um povo nativo da Amazônia brasileira, durante a sua primeira experiência de alfabetização. Os desenhos compõem uma memória visual coletiva a partir da sua experiência de aprendizagem, perspectiva e território, ao passo que testemunham uma série de ataques violentos sofridos pelo povo Waimiri-Atroari durante a ditadura militar.

Obra comissionada para a exposição Meta-Arquivo: 1964-1985 – Espaço de escuta e leitura de histórias da ditadura, no Sesc Belenzinho, em São Paulo.

 

Programação

IMS Paulista
5/11, sábado, 16h


Programa 2

Amérika: baía das flechas
Ana Vaz | República Dominicana | 2016, 9’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

Conta-se que no ano de 1492 o primeiro navio europeu, liderado por Cristóvão Colombo, desembarcou na costa de Samaná, atual República Dominicana, e foi recebido por uma chuva de flechas cuidadosamente lançadas pelo Caribe Taíno. Atualmente, um lago salino com o nome do chefe Taíno Enriquillo testemunha profundas mudanças ecossistêmicas que levam à migração de espécies, evacuação forçada e um deserto coral em expansão, que revelam o passado geológico do lago. Tomando a própria câmera como uma flecha, Amérika: baía das flecha procura maneiras de animar, despertar e fazer vibrar novamente esse gesto no presente – flechas contra uma perpétua "queda do céu".

 

13 Ways of Looking at a Blackbird
Ana Vaz, coelaborado com os estudantes Vera Amaral e Mário Neto | Portugal | 2020, 32’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

Tirando o título de um poema homónimo de Wallace Stevens, 13 Ways of Looking at a Blackbird é composto por uma série de experiências em torno de olhar e ser olhado. A partir de um convite das Galerias Municipais de Lisboa para a participação de Ana Vaz no projeto educativo DESCOLA, o filme tornou-se um caleidoscópio das experiências, questões e deslumbramentos de dois alunos do ensino secundário durante um ano de encontros regulares com a cineasta, questionando o que pode ser o cinema. Aqui, a câmera torna-se um instrumento de investigação, um lápis, uma canção. Numa constelação de frases e desenhos coletivos elaborados durante um dos workshops, um aluno escreveu “O filme é uma música que se pode ver”. Um filme que explora uma ecologia nascente dos sentidos.

 

Olhe bem as montanhas
Ana Vaz | Brasil, França | 2018, 30’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

"Olhe bem para as montanhas". A frase foi cunhada pelo artista Manfredo de Souzanetto durante os anos de ditadura do Brasil. As atividades de mineração estavam destruindo o meio ambiente no estado de Minas Gerais, no sudeste do país. Através da edição, Ana Vaz traça paralelos entre essa região e a muito distante Nord-Pas-de-Calais, no norte da França, também marcada por mais de três séculos de mineração. De um lado, as montanhas erodidas afligem seus habitantes com deslizamentos de terra mortíferos. Ocas e evisceradas, essas montanhas se tornam os receptáculos de uma memória fantasmagórica. Por outro lado, na França, as pilhas de resíduos da mineração tornam-se montanhas e reservatórios de biodiversidade, onde a fronteira entre a natureza e a tecnologia é agora indiscernível. A cineasta nos surpreende a cada plano. A poesia tem precedência sobre qualquer discurso ativista ou ambiental – como na sequência que mostra os cientistas medindo os morcegos ao luar. Aqui, "olhar de perto" direciona o filme para os detalhes, para os materiais visuais e sonoros. No entanto, esses nunca estão desligados da política: um plano do céu feito do fundo de um barranco é suficiente para conjurar os fantasmas dos povos indígenas erradicados, cujas pinturas rupestres, no entanto, continuam a existir.

Texto de apresentação por Charlotte Garson, para o festival Cinéma du Réel, na França, em  2018.

 

Programação

IMS Paulista
12/10, sábado, 16h


Programa 3

Amazing Fantasy
Ana Vaz | França, Japão | 2018, 3’, cópia digital (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

Desafiando a gravidade, um jogo de levitação torna-se imediatamente a possibilidade de magia; ou uma tradução de um desejo irreprimível de domínio.

 

Occidente
Ana Vaz | França, Portugal | 2014, 15’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

Antiguidades tornam-se conjuntos de jantar reproduzíveis, aves exóticas tornam-se uma moeda de luxo, exploração torna-se turismo de esportes extremos, monumentos tornam-se dados terrestres. Um filme-poema de uma ecologia de signos traça uma história colonial que se repete: celebrações e relações de poder, objetos e fetiches, raízes e troncos, poder e classe numa busca para encontrar o seu lugar, o seu lugar ao redor da mesa.

 

Pseudosphynx
Ana Vaz | Brasil | 2020, 8’, DCP (acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos

Pseudosphinx é o nome científico de lagartas-de-fogo que em breve se tornarão mariposa, ou como vulgarmente (e felizmente) lhes chamamos: bruxas. As mariposas-bruxas estão associadas a diversas lendas, uma delas conta que durante a inquisição, na Idade Média, se acreditava que “as bruxas se transformavam em mariposas, numa espécie de transformismo dos seres vivos – reais ou imaginados”. Pseudosphinx é assim, ao mesmo tempo, esfinge, ou seja, monstruosidade ctônica sobre-humana que soletra charadas, e pseudo: artificial, insincera, deceptiva, irreal, ilusória, mimética. Pseudosphyn mantém o seu significado velado, como um segredo entre aquelxs que guardam na retina a impressão háptica do seu voo.

Pseudosphynx, de Ana Vaz, no Programa Convida.

 

Sacris Pulso
Ana Vaz | Brasil, Austrália | 2007, 15’, DCP (acervo da artista)

Sacris Pulso parte do desmembramento de outro filme, Brasiliários (1985), de Sérgio Basi e  Zuleika Porto, adaptação fílmica da crônica “Brasília”, de Clarice Lispector, texto que olha para a capital inaugurada como uma ruína do futuro. Através da montagem de Brasiliários com um corpo de 8 mm found footage retratando rituais de viagem e vida familiar na Austrália (onde a diretora Ana Vaz estudava cinema), Sacris Pulso assume a forma de uma viagem de memória e ficção, de passado e futuro, invocando o fantasma espectral de Brasília costurado pelos laços de uma ficção familiar.

 

Programação

IMS Paulista
19/11, sábado, 16h


Programação

IMS Paulista

5/11/2022, sábado
16h - Programa 1: A Idade da Pedra, Há terra!Apiyemiyekî?

12/11/2022, sábado
16h - Programa 2: Amérika: baía das flechas, 13 Ways of Looking at a Blackbird e Olhe bem as montanhas

19/11/2022, sábado
16h - Programa 3: Amazing Fantasy, Occidente, Pseudosphynx e Sacris Pulso


Ingressos

IMS Paulista

Entrada gratuita, sujeita à lotação.
Distribuição de senhas 60 minutos antes do evento. Limite de 1 senha por pessoa.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.