Histerias (1983), um documentário experimental de Inês Castilho, terminaria com a voz desencarnada de uma mulher. Histerias é também sobre a transgressão da forma, sobre a quebra das regras da narrativa e do documentário. É também sobre a destruição das noções convencionais de feminilidade e das suas representações. Para além das muitas semelhanças temáticas, é isto que une os seis filmes de Seis vezes mulher, a procura de liberdade para desafiar a norma e construir algo novo, seja através de uma linguagem inovadora que rompe com a feminilidade e o seu significado (Histerias, Preparação 1, A entrevista) ou tornando visíveis as lutas e alegrias de mulheres marginalizadas (Duas vezes mulher, Ana, Meninas de um outro tempo). Seja qual for o caminho, todos esses filmes desafiam a forma como as mulheres são vistas e retratadas, e a sua própria existência, impressa numa película, é um ato de liberdade, de criação de uma nova imagem que não tínhamos antes. E, pouco a pouco, cria-se a própria voz.
Concebido por Another Gaze e Cinelimite e realizado em parceria com o Instituto Moreira Salles, o programa Seis vezes mulher tem curadoria da pesquisadora Hanna Esperança e de William Plotnick. Este programa é um desdobramento da mostra Mulheres: uma outra história, realizada por Cinelimite e Another Gaze, da qual serão exibidas também digitalizações 2K dos filmes Mulheres: uma outra história (1988), de Eunice Gutman, e Sulanca (1986), de Katia Mesel.
Sessões especiais
Exibição de Mulheres: uma outra história + Sulanca
IMS Paulista, 13/9/2023, quarta, 19h
Sessão seguida de conversa com Eunice Gutman, Katia Mesel e Lorenna Montenegro
Exibição de Seis vezes mulher
IMS Paulista, 14/9/2023, quinta, 19h
Sessão seguida de conversa com Hanna Esperança, Mariana Queen Nwabasili, Patricia Mourão e as diretoras Inês Castilho e Eunice Gutman
Apoio:
Filmes
Classificação indicativa da sessão: 14 anos
Exibição da nova cópia digitalizada em 2K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Mulheres: uma outra história
Eunice Gutman | Brasil | 1988, 36’, DCP, digitalização em 2K (IDFB) | Classificação indicativa: 12 anos
Filmado enquanto o Brasil transitava de volta à democracia, após mais de duas décadas sob ditadura, Mulheres: uma outra história centra-se nos diversos aspectos da participação das mulheres no cenário político brasileiro e apresenta entrevistas com algumas das 23 mulheres que foram eleitas para a Assembleia Constituinte e que conseguiram obter a aprovação de algumas de suas propostas para a Constituição Brasileira, que estava sendo elaborada na época. O filme apresenta depoimentos da sufragista Carmen Portilho, que recorda a longa história da luta das mulheres para conquistar o direito de voto no país, e de Jandira Feghali e Benedita da Silva, que se tornaram algumas das líderes políticas mais influentes da história do país.
Sulanca
Katia Mesel | Brasil | 1986, 41’, DCP, digitalização em 2K (IDFB) | Classificação indicativa: 14 anos
A Feira da Sulanca continua a existir em Pernambuco, Nordeste do Brasil, como um mercado famoso, que vende e exporta artigos para a indústria têxtil nacional. Embora esses mercados já tenham sido um lugar hostil para mulheres, que lutavam para ganhar a vida, a Sulanca de Katia Mesel documenta a revolução econômica das mulheres de Santa Cruz do Capibaribe: costureiras que, através da colaboração e da determinação, conseguiram construir vidas para si mesmas e mudar o cenário socioeconômico de uma das regiões mais negligenciadas do Brasil.
Programação
IMS Paulista
13/9, quarta, 19h
Sessão seguida de conversa com Eunice Gutman, Katia Mesel e Lorenna Montenegro
17/9, domingo, 16h30
Classificação indicativa da sessão: 16 anos
Preparação 1
Letícia Parente | Brasil | 1975, 3’, DCP (Acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos
Em frente a um espelho, a artista inverte sua própria imagem, mas não é uma visão de cima para baixo, é cegueira em vez de visão. Letícia Parente cuida de cada parte de seu rosto, como uma mulher que prepara a maquiagem antes de sair. Primeiro, ela cola a boca e, depois, delineia os lábios. Em seguida, repete o processo em seus olhos. O desenho da fita recria o que ela esconde. Sem fala ou visão, a mulher continua a arrumar o cabelo, depois fixa o olho maquiado bem aberto e sai do banheiro.
A entrevista
Helena Solberg | Brasil | 1966, 20’, DCP, digitalização em 2K (IDFB) | Classificação indicativa: 14 anos
A entrevista (1966), de Helena Solberg, foi filmado em 1964, ano que marcou o início do golpe militar no Brasil. O filme foi lançado dois anos depois, no auge do movimento Cinema Novo, e gerou um burburinho na estreia devido a seus temas. O curta-metragem de 19 minutos é o resultado de entrevistas realizadas com várias mulheres entre 19 e 27 anos de idade que são da classe média alta. As entrevistadas falam sobre casamento, sexo, virgindade, fidelidade, felicidade, trabalho e os papéis sociais que são atribuídos ou impostos às mulheres. Por trás dessas entrevistas, emerge um perfil convencional da mulher brasileira, idealizado por questões relacionadas à opressão feminina e à repressão militar vivenciada no país. As lentes de Helena Solberg afirmam a presença da mulher no cinema como protagonista, seja filmando, produzindo ou atuando, sempre de forma autoral. Nesse contexto, A entrevista é um documentário que condensa as aspirações de uma geração e de uma sociedade em contínua transformação.
Exibição da nova cópia digitalizada em 2K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Duas vezes mulher
Eunice Gutman | Brasil | 1985, 11’, DCP, digitalização em 4K (IDFB) | Classificação indicativa: 16 anos
Duas vezes mulher compara a vida de duas mulheres na favela do Vidigal, no Brasil. Jovina e Marlene deixaram o campo para se aventurar na cidade e tentar viver de forma diferente, construir sua própria vida e sua própria casa. Elas nos contam sobre a vida em um relacionamento, a vida como solteiras, sobre os filhos, as dificuldades em criá-los, o trabalho doméstico, em sua casa e na casa de outras pessoas, seu lugar como mulheres na sociedade, a vontade de independência, as batalhas que ainda precisam travar.
Exibição da nova cópia digitalizada em 4K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Ana
Regina Chamlian | Brasil | 1982, 11’, DCP (Acervo da artista) | Classificação indicativa: 12 anos
Em Ana, Regina Chamlian traça um perfil contemplativo e poético da artista Ana Moisés. O que elas contam reflete a realidade de muitas Anas, Reginas, e tantas outras mulheres brasileiras que lutam por igualdade. A obra de Ana expressa sua necessidade de extravasar, ao passo que o filme é um retrato intimista de uma artista. É através dela que ouvimos falar de amor, morte, frustração e maturidade.
Meninas de um outro tempo
Maria Inês Villares | Brasil | 1987, 25’, DCP (Acervo da artista) | Classificação indicativa: 12 anos
Meninas de um outro tempo é o último filme dirigido pela cineasta Maria Inês Villares, no qual ela registra os depoimentos de mulheres de terceira idade que moram em um asilo. Singelamente, elas compartilham seus sentimentos e reflexões sobre amor, vida, sexo, solidão e velhice. Nas palavras da diretora, o filme é "uma reflexão sobre a vida quando já há pouco dela pela frente", somos apresentados a um retrato melancólico sobre um momento da vida em que mulheres muitas vezes se encontram profundamente sozinhas. O filme foi realizado com uma equipe reduzida, que contava com a parceira criativa de longa data de Villares, Olga Futemma, e foi produzido pela empresa de Futemma e Renato Tapajós, a Produtora Tapiri.
Histerias
Inês Castilho | Brasil | 1983, 17’, DCP (Acervo da artista) | Classificação indicativa: 14 anos
Entrecortado pela dança-performance Possessão, interpretada pela artista Juliana Carneiro da Cunha, o curta-metragem experimental Histerias, de Inês Castilho, se debruça sobre a opressão feminina com um olhar aguçado. O filme nos leva numa jornada desorientadora, com cortes abruptos de som e imagem, perpassando pelo documental, o ficcional e a performance, nos fazendo experienciar parte da inquietude na qual ele mergulha. Castilho faz menções à Igreja Católica, à sexualidade reprimida, à violência racial perpetrada por mulheres brancas, à solidão e ao cansaço maternos, ao chauvinismo masculino, aos vícios, culminando na fúria e no desejo que não podem mais ser contidos, precisam encontrar vazão no corpo e na tela.
Programação
IMS Paulista
14/9, quinta, 19h
Sessão seguida de conversa com Hanna Esperança, Mariana Queen Nwabasili, Patricia Mourão e as diretoras Inês Castilho e Eunice Gutman
23/9, sábado, 18h
Programação
IMS Paulista: 13 a 23 de setembro de 2023
IMS PAULISTA
13/9/2023, quarta
19h - Mulheres: uma outra história + Sulanca
Sessão seguida de conversa com Eunice Gutman, Katia Mesel e Lorenna Montenegro
14/9/2023, quinta
19h - Seis vezes mulher
Sessão seguida de conversa com Hanna Esperança, Mariana Queen Nwabasili, Patricia Mourão e as diretoras Inês Castilho e Eunice Gutman
17/9/2023, domingo
16h30 - Mulheres: uma outra história + Sulanca
23/9/2023, sábado
18h - Seis vezes mulher
Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos online ou na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.
Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.
Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.
IMS Paulista
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.
Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Paulista e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês.
Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.