O tratamento arquivístico de fotografias pode revelar uma riqueza de retratos. Foi o que aconteceu com as fotografias que pertenceram ao escritor Lêdo Ivo. Rostos familiares. Rostos desconhecidos. Pessoas que marcaram a vida de Lêdo. Pessoas que talvez tenham, apenas, passado pela vida dele. Todos os rostos, de algum modo, fazem parte da história do poeta. São cerca de 400 fotografias acessíveis aos pesquisadores por descrição e imagens digitais na base de dados do IMS.
As fotografias são todas impressas, como era comum na época em que ele viveu. Não há fotografias digitais. No verso de algumas das imagens há anotações manuscritas, informações referentes a evento, local, data, nome das pessoas retratadas etc. Em outras também consta o registro impresso da revelação, que nos dá um número sequencial no negativo. Todos esses dados ajudam o arquivista na ordenação cronológica das fotografias.

O tratamento arquivístico compreende etapas como higienização, arranjo, descrição e digitalização. Depois de retiradas as sujidades, as fotografias são acondicionadas em um envelope de papel neutro, agrupadas conforme os eventos da vida do autor, guardadas em caixas de arquivo e digitalizadas para serem publicadas na base de dados.

A partir das fotografias que Lêdo Ivo guardou, os pesquisadores poderão conhecer seu contexto familiar. O poeta nasceu em Maceió, Alagoas, em 1924. Seus pais, Floriano Ivo e Eurídice Plácido de Araújo Ivo, tiveram sete filhos. O pai, pernambucano, escolheu viver em Alagoas, e foi advogado. A mãe era alagoana e descendente de indígenas Caeté. Em 1946, Lêdo Ivo casou-se com Maria Leda Sarmento de Medeiros. Tiveram três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.








Ainda muito jovem, o poeta começou a atuar no meio literário, iniciando amizades que levaria consigo por anos. Aos 14 anos lançou seus primeiros poemas na revista mensal Alagoas, publicada pela Livraria e Editora Casa Ramalho, de Maceió. Aos 18, depois de mudar-se para o Rio de Janeiro e iniciar colaborações com suplementos literários e trabalhos como jornalista profissional na imprensa carioca, recebeu o Prêmio de Contos pelo 1º lugar no concurso realizado pelo periódico Mensagem, na Livraria Civilização Brasileira. Mais tarde, porém, a editora José Olympio seria a principal de sua obra.






Viveu quase a vida toda no Rio de Janeiro, e de seu círculo de amizades faziam parte figuras como Lúcio Cardoso, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Otto Lara Resende, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros.


















A presença de fotografias num arquivo pessoal é muito positiva. Esse tipo documental pode ilustrar acontecimentos da vida do titular e validar informações sobre ele, mas também dá acesso ao circuito intelectual e seu entorno. No caso de Lêdo Ivo, seu arquivo fotográfico registra figuras das letras à sua época.
No entanto, um rosto é assíduo nas fotografias: o de Leda Ivo, sua companheira de toda a vida e sempre presente na vida do marido. Lêdo e Leda de mãos dadas... Lêdo abraçado a Leda... Testemunhos da importância da vida conjugal para o poeta.














No dia 18 de fevereiro passado, Lêdo Ivo teria completado 101 anos. Foi dele a iniciativa de guardar, no IMS, o seu acervo. Sabia o tesouro que tinha.

Manoela Purcell Daudt d'Oliveira, integrante da área de Literatura do Instituto Moreira Salles, é formada em Letras (Universidade Santa Úrsula) e Biblioteconomia (UniRio).