Jovem, abraçando o próprio corpo com os braços cruzados, Arnaldo Jabor não olha diretamente para a câmera no retrato clicado por José Medeiros e guardado no acervo do Instituto Moreira Salles. O cineasta e cronista morreu neste dia 15 de fevereiro em São Paulo, aos 81 anos, vítima das complicações de um AVC.

O retrato é da década de 1960, quando Jabor deu início à carreira nas telas durante a época do Cinema Novo com os curtas-metragens Rio Capital Mundial do Cinema e O circo, de 1965, e lançou seu primeiro longa, A opinião pública, de 1967, um documentário sobre a classe média do Rio de Janeiro.

Mas seria na década seguinte, em 1972, que ele teria seu primeiro sucesso estrondoso com o filme Toda nudez será castigada, com Darlene Glória e Paulo Porto. Vencedora do Urso de Prata no Festival de Berlim, a adaptação da peça de Nelson Rodrigues chamou 1,7 milhão de espectadores aos cinemas brasileiros em seu ano de estreia.

Jabor também adaptaria outro texto de Nelson para as telas em 1975, com O casamento. Em 2019, Toda nudez será castigada foi exibido nos cinemas do IMS, na mostra Tudo é Paulo Emílio. Sua carreira como diretor também foi marcada por filmes como Tudo bem (1976), Eu te amo (1981) e Eu sei que vou te amar (1986), todos premiados e muito bem-sucedidos nas bilheterias.

Em 1991, com a crise do cinema nacional durante o governo de Fernando Collor, Jabor passou a escrever crônicas para jornais e tecer comentários afiados em programas de rádio e televisão, abordando temas que iam da política brasileira ao amor e a sexualidade, refletindo as preocupações de sua obra cinematográfica.

O trabalho como cronista rendeu oito livros, dentre eles os best-sellers Os canibais estão na sala de jantar, de 1993, e Amor é prosa, de 2004. Seguiu gravando suas colunas televisivas em casa durante a pandemia. A última, sobre o ENEM, foi ao ar em 18 de novembro de 2021.