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Cartas do pai

05 de janeiro de 2016

Está disponível nas lojas virtuais Amazon, Apple Store, Google Play e Livraria Cultura o e-book Cartas do pai. O livro traz uma seleção de cartas enviadas diariamente pelo crítico literário, professor e escritor católico Alceu Amoroso Lima (1893-1983), durante quase 11 anos, para sua filha Lia, que, recolhida no mosteiro Santa Maria desde 1951, adotou o nome de madre Teresa. As cartas revelam a abrangência do pensamento de Amoroso Lima em um período crucial da história política do Brasil: nelas convivem desde o cronista do cotidiano carioca ao pensador dos grandes temas de seu tempo. Entre os assuntos abordados por ele, destacam-se dois grandes conjuntos: religião (reflexões teológicas e comentários sobre personagens da Igreja Católica) e política (as preocupações de um liberal com os rumos do país depois do golpe militar de 1964). O livro Cartas do pai, impresso, foi lançado pelo IMS em 2004.

 

 

A novidade da publicação digital que sai agora são os extras, que se relacionam diretamente com o conteúdo da correspondência. Há, por exemplo, seis vídeos extraídos do filme Dr. Alceu, de Heloisa Buarque de Hollanda, em que Amoroso Lima fala sobre seus anos de ginásio, o início de sua carreira, conta como nasceu a coluna sob o pseudônimo Tristão de Athayde em O jornal, em 1919, e faz comentários sobre a pobreza, a injustiça social e a censura. O trecho sobre a censura fazia parte do discurso que Amoroso Lima fez na entrega do prêmio do XI Congresso de Literatura de Brasília, em 1977.

Há também as 48 colunas escritas por Alceu Amoroso Lima no período que abrange a correspondência do livro, publicadas no Jornal do Brasil. Várias delas, que fazem parte do acervo de Literatura do IMS, são mencionadas nas cartas. Um dos destaques é a coluna “J.Q.”, publicada em 24 de agosto de 1961. Na carta de 2 de setembro daquele ano, Alceu menciona ter recebido um telegrama do presidente, dias antes da renúncia, agradecendo por este artigo. E também “O drama da solidão”, publicada em 25 de janeiro de 1962, em que lamenta o suicídio de Péricles Maranhão, criador do personagem Amigo da Onça.

A coluna mais polêmica, no entanto, é “Terrorismo cultural”, publicada em 7 de maio de 1964, que rendeu a Amoroso Lima um telefonema do então presidente Castello Branco. Nela, afirma que “quando pretendemos ter feito uma ‘revolução democrática’ começam logo utilizando os processos mais antidemocráticos de cassar mandatos, suprimir direitos políticos, demitir juízes e professores, prender estudantes, jornalistas e intelectuais em geral”. Castello lhe telefonou para perguntar se estava ciente da infiltração comunista. O escritor Gustavo Corção, com quem Amoroso Lima teve anos de embates ideológicos, respondeu no jornal O Globo com a provocação “Terrorismo cultural?”.

 

Carta de Alceu a Sobral Pinto, um dos extras da edição digital

 

Ainda entre os extras, uma entrevista exclusiva do filho de Amoroso Lima, Alceu de Amoroso Lima Filho, revela os bastidores da edição de Cartas do pai. Ele relata suas idas ao mosteiro beneditino, em São Paulo, para organizar o livro com sua irmã e também fala da história do telefonema do então presidente Castello Branco a seu pai, que pensou se tratar de um trote tendo em vista as críticas que vinha fazendo ao regime militar. O episódio está no livro, na carta escrita em 8 de maio de 1964.

Faz parte da edição digital também outros documentos: colunas de Carlos Drummond de Andrade e Marcio Moreira Alves, publicadas em jornais, ambas citadas em cartas para a filha, e de Gustavo Corção; recortes de jornais com reportagens, editoriais e colunas; e uma carta escrita à mão por Amoroso Lima para o jurista Sobral Pinto condenando o AI-1.

 

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Cartas de Alceu Amoroso Lima
Livro Cartas do pai na loja do IMS