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Dalton Trevisan (1925-2024)

10 de dezembro de 2024
O escritor Dalton Trevisan

 

Um dos mais celebrados escritores brasileiros, contista inspirado que retratou o cotidiano das pessoas comuns de Curitiba, o paranaense Dalton Trevisan morreu nesta segunda-feira, 9/12, aos 99 anos, encerrando uma vida longa e uma carreira produtiva, em que teve mais de 50 volumes publicados – entre eles destacam-se Novelas nada exemplares (1955) Cemitério de elefantes (1964), O Vampiro de Curitiba (1965), do qual herdou a alcunha Vampiro de Curitiba, Contos eróticos (1984), A guerra conjugal (1975), Macho não ganha flor (2006) e ainda A polaquinha (2013), seu único romance. Com sua partida, o acervo do escritor virá para o Instituto Moreira Salles. A doação foi formalizada em julho de 2024. Trevisan completaria 100 anos em 14 de junho de 2025.

A doação vem concluir um ato iniciado em outubro de 2020, quando o Instituto Moreira Salles recebeu de Trevisan a extensa correspondência trocada com Otto Lara Resende (1922-1992). São 560 itens datados de 1956 – pouco depois de os dois escritores terem se conhecido na casa de Fernando Sabino, no Rio – a 1992, ano da morte de Otto. O conjunto compreende as cartas recebidas pelo autor curitibano e cópias das missivas que este enviou ao colega mineiro. O material está organizado e disponível para consulta no IMS.

A este primeiro núcleo se somará a correspondência de Dalton com outros 45 interlocutores, entre eles os escritores Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, o crítico e professor Antonio Candido, o filólogo Antônio Houaiss, além de acadêmicos de literatura, editores e tradutores de seus livros para outras línguas. A coleção que será recebida pelo IMS inclui ainda 60 cadernos, dos quais 37 são diários datilografados.

Há também diversas pastas com recortes de jornais e revistas e que revelam uma das qualidades do escritor: a de ser extremamente metódico. Nelas estão desde crônicas suas publicadas na imprensa em 1947 e resenhas e reportagens sobre seus livros como material reunido por temas específicos: crimes, cinema, Star Trek (ele era fã da saga) e escândalos políticos, entre outros. Completam o arquivo fotografias, um pequeno conjunto de livros e dezenas de gravuras e ilustrações de Poty Lazarotto (1924-1998), ilustrador de seus livros. Entre eles, representações do escritor com títulos como Retrato do Dalton empurrando o carro, Retrato do Dalton sentado no teto da casa Ubaldino e Retrato do Dalton fazendo figa.

Dalton Trevisan nasceu em Curitiba em 14 de junho de 1925. Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná e chegou a exercer a advocacia durante alguns anos, tendo atuado também como crítico de cinema e repórter policial. Em 1946, aos 21 anos, criou com os amigos Erasmo Pilotto e Poty Lazarotto a revista literária Joaquim, da qual era editor e onde publicou seus primeiros contos. A revista, que tinha entre seus colaboradores Mário de Andrade e divulgou poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade, terminou em 1948, depois de 21 edições, mas Trevisan continuou publicando em brochuras e folhetins. Seu primeiro livro, Novelas nada exemplares (1955), o tornou nacionalmente conhecido – a reunião de contos ganhou o prestigioso prêmio Jabuti, primeiro de quatro ao longo da carreira consagrada ainda com os prêmios Ministério da Cultura de Literatura (1996), Portugal Telecom de Literatura Brasileira, atual Oceanos (2003, dividido com Bernardo Carvalho), Camões (2012) e Machado de Assis, da ABL (2012).

Nos últimos meses o escritor vinha se dedicando a revisar seus textos que ganharão nova edição a partir de 2025, pela Todavia, no marco de seu centenário de nascimento. Segundo sua agente literária e amiga Fabiana Faversani, também colaborava com a seleção de contos para a peça Daqui ninguém sai, com direção de Nena Inoue e estreia programada para março, no Festival de Curitiba.