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Iconografia do Brasil

23 de outubro de 2017

Imagens preciosas que registram um período fundamental da trajetória do Brasil, aquele no qual uma ideia de nação começa a ser formada e divulgada, estão reunidas ao alcance do público em um único portal. O site Brasiliana Iconográfica, no ar desde o dia 27 de outubro, é fruto da união de quatro instituições com acervos relevantes de gravuras, desenhos, pinturas, aquarelas, mapas e impressos produzidos praticamente desde o descobrimento e seguindo até 1922, quando os ares definitivos da modernidade sopram sobre o país. Com o projeto, o Instituto Moreira Salles, a Fundação Biblioteca Nacional, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Itaú Cultural  somam forças para apresentar ao público cinco séculos de uma história bem ilustrada.

Grupo de índios acampados, MG, c. 1822-1825. Grafite e nanquim sobre papel de Johann Moritz Rugendas. Coleção Martha e Erico Stickel / Acervo IMS

 

O portal já nasce com aproximadamente 2 mil imagens, 500 de cada instituição, que exibem a produção pictórica sobre uma terra que atiçou a imaginação de artistas e cientistas desde que as primeiras notícias daquele chão fértil, povoado por fauna e flora luxuriantes e nativos sem coisa alguma que lhes cobrisse as vergonhas começaram a circular no Velho Mundo. No início do século XIX, com a transferência da corte portuguesa para a colônia, vieram também as muitas missões estrangeiras e a indústria da imagem impressa deu seus primeiros passos, contribuindo significativamente para que o período se tornasse iconograficamente o mais rico.

O corte temporal nos primeiros anos do século XX, explica Julia Kovensky, coordenadora de iconografia do IMS, acontece porque nessa época entram em cena outros tipos de registros do país. “A partir de 1922, com o centenário da Independência e a Semana de Arte Moderna, a representação do Brasil passa a ser mais subjetiva, com visões e interpretações variadas, menos icônicas. Não se ajusta mais ao termo brasiliana, que é a produção de um determinado período do país, quando se constrói a imagem que se divulga no exterior e que forma essa nação”, diz Julia.

Cena na rua Direita (atual rua Primeiro de Março): negros carregadores de café, negras libertas, negro liberto, viajante africano, c.1840
Nanquim, aquarela e guache sobre papel de Paul Harro-Harring / Acervo IMS

 

Para além da divulgação dos acervos, o portal, que tem curadoria geral de Valéria Piccoli, da Pinacoteca de São Paulo, é também um poderoso instrumento de preservação digital do patrimônio cultural. Com ele, público e pesquisadores têm acesso a dados técnicos e imagens de alta resolução de acervos que só poderiam ser vistos em pesquisas na própria instituição ou em exposições, como é o caso da Pinacoteca e do Itaú Cultural, lembra Julia. Outro ponto importante, destaca a coordenadora, é a possibilidade de se enxergar e estudar esses acervos integrados. “É muito comum que conjuntos de obras daquela época tenham se desmembrado e se espalhado por diferentes coleções, públicas e privadas. Então o portal nos dá a oportunidade de finalmente ver e analisar esses conjuntos num mesmo ambiente”.

Um dos exemplos de obras que se repetem nas quatro instituições são as gravuras reunidas no álbum Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, do francês Jean Baptiste Debret, que chegou ao país em 1816 com uma das missões artísticas. Aqui ele registrou de tudo um pouco, de personagens da Corte à população nas ruas, dos negros escravizados (os flagelos a que eram submetidos foram detalhados pelo artista em pranchas bem conhecidas) aos índios, assim como a fauna e a flora locais.

Porém, já que Debret está bem presente no acervo das outras instituições (a Biblioteca Nacional tem o conjunto completo, por exemplo), Julia conta que ele não estará na seleção do IMS. “Nesse primeiro momento tentamos escolher álbuns e desenhos que são únicos, que não se repetem em outros acervos”, justifica a coordenadora. São obras de artistas como o austríaco Franz Joseph Frübeck, que integrou a comitiva que acompanhou a Princesa Leopoldina ao Brasil, ou da inglesa Marguerite Tollemache, única mulher no acervo iconográfico do IMS.

Nau D. João VI, c.1817. Nanquim e aquarela sobre papel de Franz Joseph Frühbeck. Coleção Martha e Erico Stickel / Acervo IMS

 

A Brasiliana Iconográfica entra no ar dois anos depois da Brasiliana Fotográfica, criada a partir de uma parceria inicial do IMS com a Biblioteca Nacional, e hoje integrada por outras oito instituições, uma delas estrangeira. É o caminho que a Brasiliana Iconográfica também irá seguir. A expectativa é que em poucos meses outros parceiros, dentro e fora do país, entrem no projeto. “Há muitas coleções brasilianas importantes aqui e lá fora, como na Alemanha, nos Estados Unidos. Já estamos conversando com algumas instituições”, adianta Julia. 

Cada acervo tem seu curador:  Angélica Pompilio de Oliveira é a responsável pela coleção do Itaú Cultural; Monica Carneiro Alves, da  Fundação Biblioteca Nacional; e Valéria Piccoli responde pelo acervo da Pinacoteca. Além de disponibilizar as imagens, o portal apresenta textos que destacarão obras, artistas ou detalhes das coleções, escritos pela equipe do projeto  e por especialistas convidados, fazendo com que o site seja, desde o início, uma referência para a iconografia sobre o Brasil.

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