Pioneiro da fotografia de moda no Brasil e autor de editoriais publicados em importantes revistas especializadas, como Harper’s Bazaar, Esquire e Vogue, entre outras, o paulistano Otto Stupakoff (1935-2009) foi um personagem indiscutível do glamoroso universo fashion. Não por acaso sua obra integra, a partir deste 8 de junho, o projeto We Wear Culture [Vestimos cultura], idealizado pelo Google Arts & Culture para apresentar ao público o amplo papel da moda na trajetória da humanidade. A partir do conceito de que não usamos apenas roupas, mas cultura, pois cada vestimenta carrega em si um mundo de significados e histórias particulares e coletivas, a exposição virtual reúne imagens do acervo de 180 instituições culturais parceiras do Google Arts & Culture em mais de 40 países, dentre elas o Instituto Moreira Salles, que detém a guarda da obra de Stupakoff desde 2008.
O conteúdo do projeto (acessível em g.co/wewearculture e pelo aplicativo do Google Arts & Culture no iOS e Android) é imenso e leva o visitante a uma informativa e divertida viagem no tempo. São mais de 400 exposições e histórias que contam sobre criadores como Chanel, Versace, Balenciaga e Saint Laurent, entre muitos outros; lembram personagens icônicas como Audrey Hepburn e Victoria Beckham; comentam a estreita ligação entre moda e arte; e analisam até o impacto dessa indústria na economia dos países. Também é possível conhecer em detalhes, em vídeos de 360º, a criação de peças como um espartilho de Vivienne Westwood (no acervo do Victoria and Albert Museum, em Londres), e o escarpin vermelho feito para Marilyn Monroe por Salvatore Ferragamo (no acervo do museu italiano).
A exposição de Stupakoff apresentada no We Wear Culture foi editada a partir da mostra Otto Stupakoff – beleza e inquietude, que esteve em cartaz no IMS Rio entre dezembro de 2016 e abril de 2017, com curadoria de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, e Bob Wolfenson. Dividida em três partes (Otto Stupakoff e o início da fotografia de moda no Brasil, Otto Stupakoff: o auge da carreira internacional e O estúdio de Otto Stupakoff), ela abrange toda a trajetória do artista e evidencia seu talento para transformar o que poderia ser um mero editorial de moda em um incrível acontecimento visual, marcado pela sofisticação e muitas vezes também pelo bom humor.
Esta é a mais recente mostra virtual de uma parceria que vem sendo desenvolvida pelo IMS com o Google Arts & Culture desde 2012. Uma outra ação é a participação no projeto ArtCamera, no qual uma câmera de última geração desenvolvida pelo Google digitaliza fotografias em gigapixel, imagens compostas por mais de um bilhão de pixels, que aumentam incrivelmente a resolução dos originais. Em 2016, 45 fotografias de Marc Ferrez, cuja obra pertence ao acervo do IMS, foram digitalizadas pelo ArtCamera, e em breve esse trabalho será retomado.
No início do ano, Sergio Burgi participou de uma reunião no Palazzo Pitti, em Florença, com representantes do Google Arts & Culture e outras instituições brasileiras e estrangeiras, para discutir temas importantes como acessibilidade, digitalização de acervos e desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para facilitar o cotidiano das entidades culturais. E, principalmente, os caminhos futuros de curadorias e mediação de conteúdo.
“É um trabalho colaborativo, é interessante pensarmos questões que estão além da tecnologia”, diz Burgi. “Há um oceano de conteúdo sendo disponibilizado, então a mediação também é objeto de reflexões sobre como a tecnologia pode potencializá-la, como isso se reflete dentro de instituições de cultura e memória”. Num universo de milhões e milhões de registros e obras de arte disponíveis na internet, há múltiplas possibilidades de o grande público acessar informação que não chega apenas através dos bancos de imagens tradicionais, observa Burgi. “São maneiras de tentar navegar pela maior quantidade possível de conteúdo em camadas progressivas de entendimento. A tecnologia vai a galope, então tem que se buscar nela o que é essencial para a cultura e o conhecimento. O Google têm ações bem definidas, um investimento diferenciado, temos uma boa visão de possibilidades de caminhos de parceria”.
Desde que foi criado, em 2011, o Google Arts & Culture já teve diversos formatos e versões, como explica Alessandro Germano, diretor de parcerias estratégicas do Google. O que nunca mudou, afirma, foi o objetivo de usar “toda a tecnologia disponível para levar ao mundo todo tesouros, acervos artísticos culturais, históricos, todas as manifestações culturais da humanidade”. “As coleções frequentemente estão em acervos físicos, com ferramentas limitadas, então ajudamos esse conteúdo chegar a todos de uma forma fácil e gratuita”, diz Germano. “Gostamos do assunto, mas não somos especialistas. A curadoria é dos parceiros, que escolhem a forma, a narrativa que suas exposições terão. Somos o parceiro tecnológico”.
Hoje o Google Arts & Culture reúne mais de seis milhões de obras, disponibilizadas virtualmente por aproximadamente 1.300 parceiros culturais em todos os continentes. E a partir da visão geral desses acervos nascem as sugestões de projetos especiais como o We Wear Culture que, no Brasil, além do IMS, conta com a participação de Museu Carmen Miranda, Museu da Moda Brasileira, Museu do Índio, Museu Imperial, Museu da Pessoa, Conservação Rio+, Museu do Futebol, Museu Afro Brasil e Masp.
“Moda é um tema que afeta a todos nós. Você pode achar que roupa é apenas utilitária, mas a verdade é que ao usar uma roupa você está passando uma mensagem. Queira ou não, é algo que nos afeta, é muito próximo”, afirma Germano, lembrando que além de tudo a moda ainda é uma forma de manifestação artística bastante acessível. “Parecia para nós um tema que tinha ao mesmo tempo um conteúdo abundante e um grande interesse geral, capaz de produzir uma boa reflexão. Vamos chamar a atenção das pessoas para o fato de que moda também é cultura”.
Germano destaca que a transição digital é uma nova fase vivida na longa vida das instituições culturais, e por isso é fundamental ouvir o que cada uma tem a acrescentar e ponderar. “A velocidade das atualizações tecnológicas torna esse diálogo cada vez mais importante”, diz.