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Tempo de Erico Verissimo

16 de janeiro de 2017

Autor de romances celebrados como a trilogia O tempo e o ventoOlhai os lírios do campo e Incidente em Antares, Erico Verissimo (1905-1975) é um dos nomes fundamentais da história da literatura brasileira. Sua obra é objeto de estudo de pesquisadores brasileiros e também estrangeiros – o escritor morou e lecionou nos Estados Unidos em duas ocasiões, nas décadas de 1940 e de 1950 –, como observa Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do Instituto Moreira Salles, que abriga o acervo do escritor desde 2009. Para refletir sobre o lugar que o gaúcho ocupa na produção literária nacional, o IMS-RJ abrigará no dia 18/1, das 11h às 18h15, o encontro Tempo de Erico Verissimo, com a participação de pesquisadores do Rio Grande do Sul, de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de dois professores de universidades dos Estados Unidos.

“O objetivo do encontro é reunir as pessoas que estudam a obra de Erico, ver o que estão produzindo e onde estes trabalhos circulam, se estão restritos a universidades ou não”, diz Elvia. “O acervo dele é um dos mais pesquisados no IMS, então acho importante e oportuno abordar e debater essas novas visões sobre sua obra, o lugar que ele conquistou”.

 

Erico Verissimo tomando sopa na casa da Rua Felipe de Oliveira (1972) / Acervo IMS

 

Na palestra de abertura do evento, Beatriz Badim de Campos, mestre em Literatura e Crítica Literária (PUC-SP), vai discutir justamente a recepção da crítica sobre a produção de Erico Verissimo, durante muito tempo “aprisionada em rótulos”. “As elites conservadoras e os departamentos de censura o intitulavam ‘comunista’. A esquerda o encerrava no círculo da apatia política. Apesar deste cenário, os livros de Verissimo eram aguardados pelos leitores e cada publicação era um novo sucesso. Refletir, pois, sobre a recepção crítica da obra é confrontar uma ambiguidade que reverbera e continua problematizando a sua literatura”, explica Beatriz.

O encontro falará também de facetas ainda pouco conhecidas do escritor, como a de ilustrador. “Ele desenhava muito nos próprios originais”, conta Elvia. “Há desenhos nos manuscritos de O arquipélago e do romance inacabado A hora do sétimo anjo, por exemplo”, ambos no acervo do IMS.

 

Folha de rosto do manuscrito de O arquipélago, de 1961 / Acervo IMS

 

O trabalho de Verissimo como autor de ilustrações e desenhos e seu importante papel na Livraria do Globo e na Revista do Globo será abordado no encontro pela historiadora, pesquisadora e professora gaúcha Paula Ramos (UFRGS), autora do livro A modernidade impressa – Artistas ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre, publicado em 2016 pela editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Livraria do Globo, fundada em Porto Alegre em 1883, foi uma das casas editoriais mais relevantes do país na primeira metade do século XX, responsável por publicar pela primeira vez no Brasil, dentre outros, Marcel Proust, Thomas Mann e Virginia Woolf.  Além dos autores estrangeiros, a Livraria do Globo lançou grandes autores nacionais como Mario Quintana, Dyonélio Machado e o próprio Erico Verissimo, que estreou na literatura em 1932 publicando pela casa gaúcha a coletânea Fantoches.

“A presença de Erico atravessa todo o livro. Ele começou a trabalhar na Revista do Globo, publicada pela Livraria, em 1930. Além de secretário e depois diretor da revista no período em que teve capas ilustradas, foi o conselheiro editorial do Henrique Bertaso, editor da casa”, conta Paula, que reuniu na obra suas pesquisas de mestrado e doutorado em torno da modernização visual promovida pela publicação no país. “Erico tinha um grande apreço pela ilustração, no livro reproduzo alguns desenhos que ele fez para a Revista. Ele incentivava muito os livros ilustrados, vou falar sobre isso. E foi a figura que mais investiu no segmento infantojuvenil, que era o forte da Livraria.”

 

Envelope com desenhos, caricaturas e perfis (sem data) / Acervo IMS

 

A história de Verissimo e da Livraria do Globo estão intimamente ligadas. Os primeiros textos do gaúcho de Cruz Alta foram publicados na Revista do Globo, embora ele ainda não trabalhasse lá. Quando chegou a Porto Alegre em 1930, em busca de emprego e da construção de uma carreira de escritor, foi bater na porta da Livraria. Ali assumiu diversos papéis, de tradutor (já com grande experiência) a articulador intelectual, junto com Henrique Bertaso, da ambiciosa e audaciosa empresa, que mais tarde criaria a Editora Globo.

“O Erico acompanhou tudo e contou essa história em alguns momentos, como em Solo de Clarineta (obra que reúne suas memórias) e Um certo Henrique Bertaso, no qual narra a trajetória da livraria a partir da figura do editor”, lembra Paula, completando ainda que muitas das capas mais interessantes da Livraria foram feitas para obras do escritor.

Além das palestras de Beatriz Badim de Campos e Paula Ramos, o encontro Tempo de Erico Verissimo terá ainda duas mesas, “A construção do cânone” (das 12h às 13h) e “Literatura e política” (das 15h30 às 16h30), ambas seguidas de debate. O evento é gratuito, sujeito à lotação da sala, e as inscrições devem ser feitas por e-mail ([email protected]).

 

Erico Verissimo e Nelson Esteves na Universidade de Berkeley, EUA (1943) / Acervo IMS

 

Tempo de Erico Verissimo

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente 476, Gávea.

Tel.: (21) 3284-7400

 

18 de janeiro – quarta-feira

Das 11h às 18h15

 

Inscrições: [email protected]

 

 

Programação completa

11h – Palestra de abertura: Ambiguidade crítica da obra de Erico Verissimo

Beatriz Badim de Campos, mestre em literatura e crítica literária pela PUC-SP.

 

12h às 13h – Mesa 1: A construção do cânone

Com José Antonio Klaes Roig, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Marisa Schincariol de Mello, do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF); e Mariana Miggiolaro Chaguri, do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Campinas (Unicamp).

 

15h30 às 16h30 – Mesa 2: Literatura e política

Tatiana Zismann, doutora em literatura comparada (UFRGS); Richard Cándida Smith, da University of California, Berkeley; Carlos Cortez Minchillo, da Dartmouth College.

 

17h15 às 18h15 – A modernidade impressa

Paula Ramos, historiadora e crítica de arte, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

 

Caderno com rascunho de A hora do sétimo anjo (sem data) / Acervo IMS