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Um dos destaques deste número é o ensaio “Viver bem é a melhor vingança”, do crítico de arte e colaborador da New Yorker Calvin Tomkins (1925). O texto surgiu de  uma reportagem sobre Gerald e Sara Murphy, em que Tomkins destaca a influência do casal na chamada “geração perdida”. Os personagens Dick Diver e sua mulher Nicole, do clássico Suave é a noite, de F. Scott Fitzgerald, são fortemente inspirados em Gerald e Sara. Tomkins descreve a curta carreira de pintor de Gerald e do melancólico destino do casal, que perdeu dois de seus três filhos nos anos 1930 e retirou-se da vida mundana e do mercado de arte. Reeditado pelo MoMA em 2013, “Viver bem é a melhor vingança” foi publicado no Brasil em 1972 e está, desde então, esgotado. O autor notabilizou-se pelos perfis de artistas contemporâneos, que dosam com maestria reportagem e análise. É autor de Duchamp – Uma biografia (Cosac Naify, 2005) e As vidas de artistas (Bei ~, 2009).

No ensaio “Por que os escritores param de escrever?”, Joan Acocella (1945) discorre sobre a ideia de que o bloqueio de escritor é um conceito moderno. É provável que muitos escritores tenham sofrido para trabalhar desde que começaram a assinar suas obras, mas seria apenas no século 19 que essa inibição criativa se tornaria uma questão para a literatura, tópico que se inseriu nas conversas sobre arte do período.  Joan é crítica de dança e literatura, contribui para a revista New Yorker e sua obra é inédita no Brasil.

Num momento em que a banalidade das tragédias tornou corrente o termo “genocídio”, a serrote publica o texto do historiador Michael Ignatieff (1947) em que ele conta a história do homem que dedicou sua vida para fazer do extermínio um crime internacional, após perder sua família no campo de concentração. O holocausto também permeia o trabalho do pintor e gravador Zoran Music (1909-2005), artista que assina as imagens.

O ensaio visual desta edição é o trabalho “Quase aurora” do artista plástico Tunga (1952). As aquarelas, produzidas entre 2005 e 2009, foram reunidas em livro homônimo publicado em tiragem limitada pela Galeria Milan.Joseph Epstein (1937), um dos principais nomes do ensaísmo americano, volta às paginas da serrote com “Infantocracia: cada menino, um delfim”, em que aborda o controle que as crianças têm na vida doméstica contemporânea. Crítico de valores e comportamentos alinhados com o que convencionalmente chamamos de “politicamente correto”, Epstein muitas vezes assume posições abertamente conservadoras.

O arquiteto Francesco Perrota-Bosch (1988), vencedor do 2o Prêmio de Ensaísmo serrote, fez duas visitas ao recém erguido Templo de Salomão em São Paulo, reduto imponente da Igreja Universal do Reino de Deus, para tentar entender a réplica da construção bíblica. As imagens que acompanham o ensaio são da artista israelense Yael Bartana (1970) e fazem parte do vídeo “Inferno”, obra que está exposta na 31a Bienal Internacional de São Paulo.

 

E mais:

– T.J. Clark (1943) em seu texto “O ímpeto de estrangular ou A criação” discorre sobre a série de colagens de Henri Matisse, em cartaz no MoMA.

– A serrote publica nesta edição o clássico “Sobre a essência e a forma do ensaio”.

No texto, György Lukács (1885-1971) lembra que o gênero se caracteriza por “não extrair coisas novas a partir do vazio, mas simplesmente reordenar coisas que, em algum momento, aconteceram”.

– O escritor Pascal Guinard (1948), um dos principais nomes da literatura francesa contemporânea, analisa na revista o que é e de onde vem o conceito de página.

– O ensaio “Curtindo a dor dos outros”, de Bruno Simões (1977), examina, a partir de “Diante da dor dos outros”, de Susan Sontag, o perverso compartilhamento de imagens que exploram o sofrimento humano. O ensaio visual que acompanha o texto faz parte da série Eletric Chairs, realizada por Andy Warhol em 1971, inspirada nas execuções que aconteceram nos anos 1960 em Nova York.

– John Updike (1932-2009), um dos mais prolíficos escritores da sua geração, fala da maturidade de um escritor e como isso nem sempre é sinônimo de segurança, já que sempre resiste a esperança de que o último livro possa ser o melhor.

– O clássico filme Limite de Mário Peixoto é o tema de Saulo Pereira de Mello (1933). Para ele, a película só pode ser considerada difícil se analisada a partir das convenções do cinema narrativo clássico.

– O alfabeto serrote desta edição traz verbetes de Cássio Loredano (1948) e Fernando Santoro (1968).

– Uma carta de Nicolau Maquiavel (1469-1527) sobre uma aventura amorosa desastrosa ocupa as últimas páginas desta edição de serrote.

– Ilustram ainda a revista Henri Matisse, Giorgio Morandi, Guto Lacaz, Ana Elisa Egreja, Gerald Murphy, Man Ray, Henry Moore e David Levine.