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Hiperconexão, debate nas redes, bombardeio de imagens: ensaios da nova edição da revista serrote procuram entender o presente em cima do lance.

Do desafio da cultura do déficit de atenção e do papel das imagens ruins que se exibem por aí aos julgamentos sem possibilidade de defesa ou de Justiça que acontecem diariamente nas redes sociais, a nova edição da revista de ensaios serrote #19, que o Instituto Moreira Salles lança em março, reúne ensaios que procuram compreender o mundo visto no seu tempo.

No ensaio “Cultura do déficit de atenção”, o professor de filosofia alemão Christoph Türcke (1949) afirma que a repetição, fundamento do que nos tornou humanos, é hoje uma compulsão que erode a imaginação e a vida intelectual. Para ele, “o choque da imagem se tornou o foco de um regime de atenção global, que embota a percepção” pela contínua excitação e seria preciso fugir desse ritmo para garantir a boa formação.

Num mundo povoado de amigos e inimigos, encaixam-se perfeitamente as perguntas levantadas pela romancista e crítica de literatura Mary Gordon (1949) no texto “Sobre a inimizade”: “O que acontece com a mente quando ela convida e abriga a palavra ‘inimigo’? Será o conceito de ‘inimigo’ o inimigo do pensamento claro, da justiça, portanto?” Mary conta que cresceu acreditando que os comunistas eram seus inimigos. E diz: “Muita gente quer que eu acredite que os muçulmanos são meus inimigos”.

A videoartista alemã de origem japonesa Hito Steyerl (1966), no ensaio “Em defesa da imagem ruim”, analisa o papel das imagens de baixa definição e de sua reprodução em grande escala como um instrumento de crítica possível ao mundo em HD.

Também na nova edição:

– O ensaio visual “Piero”, do artista e designer gráfico Milton Glaser (1929). Uma série de obras realizada em 1991 a partir de temas e ícones do mestre italiano Piero della Francesca.

– “Grafias de vida – a morte”, em que o crítico literário e escritor Silviano Santiago (1936) fala sobre a proximidade e a distância entre biógrafos e escritores, entre fato e ficção.

– O olhar do crítico de arte, poeta, escritor e etnólogo Michel Leiris (1901-1990) para a obra do catalão Joan Miró, em “Sobre Joan Miró”.

– No “Alfabeto serrote”, o professor de história da fotografia Luc Sante (1954) evoca “Sépia”, a cor da nostalgia.

– Em “Essai, essay, ensaio”, o ensaísta americano John Jeremiah Sullivan (1974) rediscute as origens do ensaio entre a França e a Inglaterra do século 16.

– Na música, uma falha pode ser fatal. É o que revela o jornalista George Plimpton (1927-2003) em “Na filarmônica”, uma de suas reportagens do jornalismo participativo, que praticou como ninguém.

– O escritor Antônio Xerxenesky (1984) fala de controle e descontrole e do cinema de Michael Mann em “A metafísica de Miami Vice”.

– Em “Obscuros objetos de desejo”, o ensaísta e escritor Francisco Bosco (1976), a partir de uma denúncia de assédio debatida em redes sociais, mostra como o ativismo praticado hoje nos meios digitais leva menos à Justiça e mais ao justiçamento.

– Em “Para uma história descabelada da peruca”, o ensaísta mexicano Luigi Amara (1971) discorre sobre disfarce, identidade e artifício na batalha que se trava no topo da cabeça.

E mais:

– As nuances da paixão em carta aberta de Charles Baudelaire (1821-1867) para o compositor alemão Richard Wagner.

– Ilustram a revista Claudius, Chuck Close, Joan Miró, Raymond Hains, Rivane Neuenschwander, George Bellows, J.M.W. Turner, Gustave Courbet, Veridiana Scarpelli, Regina Parra e Georg Baselitz