Nesta edição comemorativa #10, ZUM publica o trabalho que o fotógrafo japonês radicado no Brasil Tatewaki Nio, autor da fotografia da capa deste número, tem desenvolvido na Bolívia. Tatewaki registra um fenômeno arquitetônico recente dos arredores de La Paz, que tem como principal expoente o arquiteto de origem aimará Freddy Mamani. São salões de baile com fachadas espelhadas e painéis de estuque muito coloridos, que expressam a ascensão social de parte das comunidades pobres da região, segundo o artigo do professor do departamento de comunicação e semiótica da PUC-SP Nelson Brissac.
O alemão Michael Wesely fotografou, com exposições que chegam a durar anos, a reconstrução da Potsdamer Platz, situada na região de Berlim antes atravessada pelo muro que dividiu a cidade até 1989. Seu trabalho pode ser entendido como uma representação dos processos históricos e econômicos que estão por trás da reunificação do mundo pós-Guerra Fria. A série foi realizada entre 1997 e 2003, e é comentada na revista por Guilherme Wisnik, professor de história da arte e arquitetura na FAU-USP.
Em um trabalho de resgate exemplar, o professor Andreas Valentin revê a obra de José Oiticica Filho (1906-1964), um complexo hibridismo entre pintura e fotografia. Pai de Hélio Oiticica, um dos nomes mais importantes da arte brasileira, a obra de Oiticica Filho ainda é pouco conhecida e estudada. Junto com seus contemporâneos, como Geraldo de Barros, Oiticica Filho subverteu a lógica da fotografia como representação do real e derrubou as barreiras que a separavam da pintura.
Odires Mlászho apresenta uma série inédita, feita a convite da ZUM. Nela, o artista se apropria de fotografias de guerras, protestos e desastres ecológicos veiculadas na grande imprensa. Produzidas através de um complexo processo de decalque e retiradas de seus contextos, as imagens desafiam o processo de compreensão do mundo e da fotografia. As Escarificações, como o artista as nomeia, são comentadas por Jorge Coli, professor de história da arte da Unicamp. Também são de Mlászho as imagens de abertura da revista, da série Serpentina.
Lorna Roth, socióloga e professora da Universidade de Concórdia, em Montreal, questiona a neutralidade da tecnologia fotográfica ao resgatar a história dos cartões Shirley, criados pela Kodak nos anos 1940 para auxiliar os laboratórios na padronização de cores e tons de pele de impressões fotográficas. Ao tomar como padrão mulheres de pele clara, os cartões causavam dificuldade nos ajustes dos retratos que incluíam pessoas com outros tons de pele. A análise se estende às tecnologias atuais, incluindo problemas das câmeras digitais e dos softwares de catalogação automática de imagens.
Outro assunto da edição é o Canal Motoboy, projeto desenvolvido pelo artista espanhol Antoni Abad entre 2004 e 2015. Há mais de uma década, Abad criou o Megafone.net, um canal de internet que dá voz a grupos discriminados socialmente, como taxistas na Cidade do México, imigrantes em Nova York e prostitutas em Madri. Na versão brasileira, o artista entregou celulares com câmera a motoboys de São Paulo para que registrassem sua rotina. Fotos e vídeos expunham em tempo real o cotidiano da rua e os momentos de lazer. O projeto ajudou a dar visibilidade ao grupo e redefinir alguns estereótipos.
ZUM publica na íntegra a série As irmãs Brown, desenvolvida há mais de quarenta anos pelo fotógrafo americano Nicholas Nixon. Em entrevista à Sarah Meister, curadora de fotografia do MoMA, Nixon explica o desenvolvimento da série, reflete sobre a passagem do tempo e analisa a individualidade de cada uma das quatro irmãs retratadas em conjunto anualmente.
A jornalista Dorrit Harazim resenha o polêmico livro War is Beautiful (A guerra é bela), do escritor e professor David Shields, que analisa dezenas de imagens veiculadas na capa do New York Times entre 1997 e 2014 para mostrar como o principal jornal dos Estados Unidos faz uma narrativa visual positiva e parcial das operações militares americanas no Oriente Médio.
Esta edição também traz a bela série Escritório, do sueco Lars Tunbjörk (1956-2015), um mestre da cor e da ironia. E Sobreposições, série transgressora feita entre 1968 e 1975 pelo ucraniano Boris Mikhailov, que combina imagens para criar cenários ao mesmo tempo oníricos e críticos da situação do seu país.
Mais sobre a edição: revistazum.com.br/revista-zum-10/sumario-visual-10