Destaque da edição, o diretor Vincent Carelli e a escritora Ana Carvalho conversam com a jornalista Fabiana Moraes sobre o cinema indígena brasileiro e o projeto Vídeo nas Aldeias. Criado há 30 anos, o Vídeo nas Aldeias promove oficinas de produção audiovisual em aldeias por todo o país, oferecendo condições para que os diversos povos indígenas registrem sua vida e seu entorno com uma câmera – uma documentação que em geral era realizada por não índios.
Missão francesa, que ZUM apresenta com exclusividade, é o novo projeto do fotógrafo paulistano André Penteado, autor de Cabanagem (de 2015, considerado por Martin Parr um dos melhores livros daquele ano). Nesse trabalho, Penteado investiga os desdobramentos visuais da missão que desembarcou no Rio de Janeiro em 1816 para criar a primeira escola de belas-artes do país. Apesar de disputas políticas terem atrasado a instalação da escola, os efeitos desse ambicioso plano podem ser vistos até hoje. O livro homônimo será publicado este ano pela editora Madalena.
ZUM também publica o influente ensaio crítico “‘Marcas da indiferença’ – Aspectos da fotografia na, ou como, arte conceitual”, escrito pelo artista canadense Jeff Wall em 1995 e até então inédito em português. Um dos nomes mais importantes da fotografia contemporânea mundial, o artista examina o uso da fotografia – em especial da linguagem do fotojornalismo, da documentação fotográfica e do amadorismo – por artistas conceituais do anos 1960 e 1970. Para Wall, “a arte conceitual desempenhou um papel importante na transformação dos termos e das condições em que a fotografia de arte definiu a si mesma e suas relações com as outras artes”.
@ex_miss_febem é a polêmica personagem criada pela artista carioca Aleta Valente no Instagram para discutir os limites da exposição do corpo feminino nas redes sociais. O perfil, alimentado por selfies irônicas, eróticas e provocadoras, esteve ativo até janeiro de 2017, quando foi apagado pelo próprio Instagram após denúncias de usuários. A revista exibe uma das imagens mais polêmicas da artista, acompanhada dos comentários dos espectadores, muitos deles violentos. “@ex_miss_febem faz do nu feminino, da exposição do sangue, dos fluxos e do corpo, um erotismo deslocado e paródico, compondo cenas com caras, bocas e poses de sensualidade convencional, do tipo que é reproduzida aos milhões nas selfies do mundo todo”, escreve a pesquisadora Ivana Bentes.
A carreira do fotógrafo e cineasta holandês Ed van der Elsken (1925-1990) é revista pela curadora Hripsimé Visser a partir de seus filmes e livros. Um dos artistas mais importantes do pós-Guerra holandês, Elsken dialoga com nomes como William Klein, Robert Frank e Daido Moriyama. Uma enorme e aguardada retrospectiva de seu trabalho, com curadoria de Visser, está em cartaz no Museu Stedelijk de Amsterdã até 21 de maio, e depois segue para o Jeu de Paume, em Paris, e para a Fundação Mapfre, em Madri.
ZUM publica o trabalho do fotógrafo nigeriano J. D.’Okhai Ojeikere (1930-2014), acompanhado de raro depoimento sobre o interesse pela fotografia e pelos penteados femininos como uma forma de arte capaz de unir rituais ancestrais ao cotidiano das cidades africanas modernas. Durante 30 anos, Ojeikere fotografou diariamente penteados por onde passava: na rua, nos escritórios, em festas, na cidade e no campo.
No texto “Verdadeiro ou falso”, o ensaísta Mauricio Puls analisa a tensão filosófica entre realidade e ilusão em casos famosos do fotojornalismo brasileiro, como na imagem de 1975 do suposto suicídio do jornalista Vladimir Herzog. Segundo Puls, “se o processo histórico que a foto registra ainda não terminou, é impossível definir com precisão se aquela imagem é verdadeira ou falsa”.
A edição traz ainda a vida noturna dos anos 1980 e 1990 registrada pela fotógrafa Vania Toledo e comentada pelo jornalista Silas Martí, um ensaio da pesquisadora Maria Angélica Melendi sobre as fotopinturas da coleção de Titus Riedl, e uma análise do retrato de Joseph Beuys com mulher e filhos feita pelo crítico Lorenzo Mammì.