Completados 50 anos da Revolução dos Cravos, o levante de 25 de abril de 1974 que pôs fim à ditadura fascista de Salazar em Portugal, o Cinema do IMS apresenta três pontos de vista audiovisuais sobre o movimento em Portugal e sua reverberação nos países que à época ainda eram suas colônias. Finalizados entre 1975 e 1977, Liberdade para José Diogo, de Luís Galvão Teles, e Cenas da luta de classes em Portugal, de Robert Kramer e Philip Spinelli, apresentam, de um lado, o ponto de vista do cinema militante de um realizador português que se soma ao movimento popular e, de outro, dois diretores americanos de esquerda interessados em investigar e entender o movimento que se passava no continente europeu. Já Independência, do angolano Fradique, foi finalizado em 2015 e traz à tona o depoimento e a perspectiva daqueles que lutaram pelo fim do regime colonial português em Angola na sequência do movimento de 1974.
Filmes
Scenes from the Class Struggle in Portugal
Robert Kramer e Philip Spinelli | EUA | 1977, 96’, DCP (RE:VOIR) | Classificação indicativa: 14 anos
Combinando imagens de noticiários, fotografias, entrevistas e narração analítica, esse documentário enfoca os esforços antifascistas e anti-imperialistas de grupos de trabalhadores, camponeses e soldados da classe trabalhadora para libertar Portugal do controle do governo ditatorial de Salazar. Filmado de abril de 1974 a novembro de 1976, ele relaciona os conflitos em Portugal a movimentos de libertação paralelos nos Estados Unidos e na África do Sul. Um prólogo e um epílogo foram adicionados ao filme em 1978.
Após a Revolução dos Cravos, em 1975, Robert Kramer criou um poderoso vínculo político e cinematográfico com Portugal, que ele expressou em quatro projetos sucessivos, entre eles With Freedom in Their Eyes (1976), um livro de fotografias tiradas em Angola quando o país se libertou do domínio colonial português e entrou em guerra civil e o documentário ativista Cenas da luta de classe em Portugal (1977). Em entrevista à Cahiers du Cinéma, publicada na edição 295, de dezembro de 1978, Kramer comenta:
“Um filme que eu realmente não escolhi fazer. Em vez disso, eu estava em Portugal, e lá encontrei uma situação em que poderia esclarecer esses problemas por meio de um filme. Para entender o problema político de Portugal, era preciso torná-lo pessoal; e isso também fazia parte da luta que estava ocorrendo aqui, nos Estados Unidos, na esquerda, em torno da questão do partido, em torno da questão de como descrever o papel do imperialismo. Para mim, Portugal foi a descoberta da luta de classes na Europa, nos países industrializados avançados, já que minhas experiências anteriores haviam sido apenas no Terceiro Mundo.”
“[...] Não acho que o filme deva ser um filme do PRP [Partido Revolucionário do Proletariado]. É lógico que, no final, identificamos o PRP como a principal força motriz, pois essa foi a nossa análise. O que é muito diferente é ser contratado pelo PRP para fazer um filme. Começamos a filmar pensando que não haveria discussão sobre os partidos, mas sobre os movimentos de massa, e chegamos à conclusão de que o PRP era o partido da classe trabalhadora, a vanguarda. O que eles tinham a dizer, suas contribuições para o movimento de massa, eram muito importantes, e fazia parte de nossa responsabilidade como comunistas não ter medo de pronunciar tal e tal nome. De nossa parte, era igualmente uma provocação, porque achávamos que a atitude antipartidária em geral, e em Portugal em particular, era um erro grave. O sentimento predominante era de que levantar a questão da necessidade de uma política partidária era sectário. Mas eu estava convencido de que era necessário um partido para coordenar a luta do povo.”
O filme será exibido em cópia digital 4K, resultado de uma restauração promovida pela Cinemateca Portuguesa.
Tradução para o inglês da entrevista com o diretor Robert Kramer, no portal Ultra Dogme ►
PROGRAMAÇÃO
IMS Paulista
10/5/2024, sexta, 20h
Fradique | Angola | 2015, 105’, DCP (Geração 80) | Classificação indicativa: 14 anos
A 11 de Novembro de 1975, Angola proclamou a independência, 14 anos depois do início da luta armada contra o domínio colonial português. O regime de Salazar recusava qualquer negociação com os independentistas, aos quais restava a clandestinidade, a prisão ou o exílio. Quando quase toda a África celebrava o fim dos impérios coloniais, Angola e as outras colónias portuguesas seguiam um destino bem diferente. Só após a derrubada do regime de Salazar, Portugal reconheceu o direito dos povos das colônias à autodeterminação.
Os anos de luta evocados em Independência determinaram o rumo de Angola após 1975. Opções políticas, conflitos internos e alianças internacionais começaram a desenhar-se durante a luta anticolonial. As principais organizações (FNLA e MPLA e, mais tarde, UNITA) nunca fizeram uma frente comum, e as suas contradições eram ampliadas pelo contexto da Guerra Fria. A independência foi proclamada já em clima de guerra, mas com muita emoção e orgulho, como é contado no filme.
Este filme é resultado do projeto Angola – Nos trilhos da independência, que uniu a produtora cinematográfica Geração 80 à Associação Tchiweka de Documentação, instituição dedicada à preservação e difusão da história da independência e soberania angolana. Entre 2010 e 2015, o projeto reuniu mais de 1000 horas de entrevistas com cerca de 600 participantes da luta anticolonial e de personalidades relacionadas a ela.
O diretor Fradique comenta como o projeto foi importante para que este documentário existisse: “A narrativa e estética do filme baseiam-se muito no processo e na experiência que tive durante esses anos, convivendo com as memórias daqueles que deram os seus testemunhos e com os materiais de arquivo. Ler num jornal a notícia das prisões do Processo dos 50, ouvir uma gravação de Che Guevara reunido com nacionalistas angolanos no Congo, ou ver as fotos do dia a dia nas bases de guerrilha, deixava-me sempre emocionado. Por isso, em todos os mapas, fotos, documentos, jornais e cartas do filme, sente-se essa procura, esse revelar e encontrar o passado, depois de mais de 40 anos. O ponto de vista do filme é o da geração que participou na luta, são eles a partilhar as suas memórias. A própria intervenção do narrador foi escrita nesse tom, de alguém que hoje olha para trás e faz uma reflexão sobre esse tempo, e se pergunta: ‘Que memória resta da nossa luta?’.”
“Concluído o filme, espero que ele consiga criar diálogo entre as gerações que participaram na luta e as que nasceram depois de 1975. Está na hora de olharmos para o passado com os pés bem assentes no presente, e refletirmos sobre onde estamos e o que somos, como país, 40 anos depois da nossa Independência.”
Em 2015, Independência recebeu o Prémio Nacional da Cultura de Angola e, em 2016, o prêmio de Melhor Documentário no Festival Internacional de Camarões.
Depoimento do diretor Fradique ao portal Geração 80 ►
PROGRAMAÇÃO
IMS Paulista
12/5/2024, domingo, 18h
30/5/2024, domingo, 18h
Luís Galvão Teles | Portugal | 1975, 67’, DCP (Fado Filmes) | Classificação indicativa: 14 anos
O filme documenta duas fases de um fato público ocorrido em Portugal, durante a revolução de 1974. Em 30 de setembro de 1974, José Diogo, um trabalhador rural de 36 anos, empregado como tratorista, matou seu patrão, Columbano Líbano Monteiro, depois de ser demitido de seu emprego, quando reivindicava seu direito de trabalhar. Ele é preso em Beja, no Alentejo, e fica em liberdade até o julgamento. Na sequência, os tribunais ficaram relutantes em conduzir o julgamento, devido à agitação social e ao apoio política que Diogo recebeu de sindicatos e partidos políticos. Uma multidão interrompe a sessão e realiza um julgamento popular no saguão do tribunal, decidindo pela libertação de Diogo e condenando o patrão, postumamente, por demitir seu empregado e agredi-lo. Desde então, esse episódio se tornou um estudo de caso jurídico e um testemunho do espírito da luta de classes de sua época.
Ao apresentar uma exibição da cópia restaurada de seu filme na Cinemateca Portuguesa, em 22 janeiro de 2013, o cineasta Luís Galvão Teles declarou: “O que eu tenho pena é que não seja possível restaurar a revolução. [...] Este é um trabalho que foi coletivo de dois lados. Por um lado, coletivo de nós que estamos aqui e estivemos ligados ao processo do movimento popular que se criou em torno do José Diogo, sua libertação e seu julgamento. E muitas das pessoas que estão aqui estiveram a trabalhar no filme nas 48 horas pra que o filme existisse. E que não fizeram só isso, mas fizeram por anos: primeiro a revolução e depois aguentaram o processo que tentava interromper a revolução. Nós somos apenas a face deles. Das pessoas que fizeram o movimento popular, o 25 de abril e a revolução, e nós acompanhamos, interpretamos, pensamos, interrogamos, refletimos todos esses processos que fazem parte de um processo tão vivo e tão brutalmente vivo como foi esse período.”
Depoimento do diretor Luís Galvão Teles à Cinemateca Portuguesa (em vídeo, no Facebook) ►
PROGRAMAÇÃO
IMS Paulista
12/5/2024, domingo, 16h30
30/5/2024, domingo, 16h30
IMS PAULISTA
10/5/2024, sexta
20h - Cenas da luta de classes em Portugal
12/5/2024, domingo
16h30 - Liberdade para José Diogo
18h - Independência
30/5/2024, domingo
16h30 - Liberdade para José Diogo
18h - Independência
Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos online ou na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.
Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.
Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.
IMS Paulista
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.
Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Paulista e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês.
Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.