O Galpão Bela Maré em parceria com o IMS apresenta a Sessão Mutual Films “As aventuras de Lotte Reiniger e Moustapha Alassane” com as obras de dois pioneiros da animação. A alemã Lotte Reiniger (1899-1981) desenvolveu técnicas de filmagens que antecederam por uma década Walt Disney na criação de universos fantásticos povoados por figuras de silhueta. Ela realizou o primeiro longa-metragem de animação da história do cinema, As aventuras do príncipe Achmed (1926), uma livre adaptação de As mil e uma noites que passará junto a seu primeiro filme de contos de fadas, o curta O baú voador (1921). Moustapha Alassane (1942-2015), do Níger, foi o primeiro cineasta africano a dirigir filmes de animação, quando seu país havia conquistado a independência há menos de uma década. Ele era um artista inventor que explorou diferentes técnicas – do desenho à mão ao stop-motion e ao live-action – para contar histórias que invocam tanto as tradições populares locais como a paródia à cultura invasora estrangeira. Os dois filmes de Reiniger e os cinco de Alassane que compõem os programas passarão no Galpão Bela Maré nos dias 30 e 31 de janeiro em suas melhores cópias digitais, várias sendo restaurações recentes. Em diálogo com os filmes dos dois cineastas, serão exibidos filmes do Studio Tijolin, um laboratório de animação tradicional, digital, de união e mapeamento de artistas envolvidos com a animação do Rio de Janeiro. Após a primeira exibição, no dia 30, haverá um debate com membros do Studio Tijolin.
A curadoria e a produção da Sessão Mutual Films são de Aaron Cutler e Mariana Shellard.
As aventuras de Lotte Reiniger e Moustapha Alassane - Por Aaron Cutler e Mariana Shellard ►
Apoio: Galpão Bela Maré
Filmes
Programa 1
O jovem cineasta nigerino Moustapha Alassane realizou seu primeiro filme de animação em 1965, durante um estágio no Canadá. Desde cedo, o primeiro animador do continente africano gostava de desenhar histórias com sapos no lugar de pessoas, pois os personagens de grandes barrigas e membros magros o atraíam por sua aparência inocente. Alassane retornou para seu país natal e, durante uma viagem subsequente para a França, fez o singelo curta-metragem Boa viagem, Sim (1966), desenhado com traços simples em preto e branco. No filme, Senhor Sim, o presidente de uma república povoada por sapos, vai ao seu país vizinho em uma viagem diplomática, através da qual Alassane mostra de forma satírica os discursos e as ações vazias da política.
Alassane trabalhou com diversos formatos de animação ao longo de sua carreira, sempre com interesse em expandir o conhecimento de histórias populares. É o caso de Samba, o grande (1977), o primeiro filme de animação inteiramente colorido da África, que mistura as técnicas de desenho com stop-motion. Bonecos de madeira e lã encenam a história narrada por Jean Rouch sobre o guerreiro do título, que procura conquistar o coração de Analiatou Bari, uma rainha infeliz de um povo sofrido que reconhece a bravura de Sambagana de forma tardia. No desfecho poético do filme, os dois se transformam em uma lenda.
Décadas depois, Alassane concluiu Kokoa (2001), uma animação feita inteiramente em stop-motion que se baseia na tradicional luta do Níger chamada kokawa. Mas, ao invés de lutadores humanos, voltamos para o reino animal, no qual uma plateia de sapos assiste aos embates fervorosos entre uma rã, um camaleão e um lagarto dentro do ringue. O campeonato é narrado por um sapo que se senta ao lado de uma tartaruga, e arbitrado por um siri cujos olhos movimentam-se freneticamente para acompanhar a ação.
A maioria dos filmes de Alassane são de live-action, realizados com atores não profissionais, que misturam documentário e ficção e contam, como em suas animações, com elementos de fábula e comédia. É o caso de um de seus filmes mais conhecidos, O retorno de um aventureiro (1966). Um tom de paródia aos filmes de faroeste fundamenta a história de um jovem que retorna ao Níger após ter passado anos nos Estados Unidos e traz com ele presentes que aguçam a personalidade arruaceira de seus amigos e criam uma confusão na aldeia. O filme coloca os chapéus e botas de cowboy e tiroteios dos filmes de uma cultura estrangeira em contraponto com vestimentas e tradições locais para refletir sobre quais imagens de heroísmo devem ser valorizadas.
O programa também inclui o curta-metragem de animação O baú voador (1921), inspirado no conto do autor dinamarquês Hans Christian Andersen, que foi a primeira adaptação cinematográfica de um conto de fadas dirigida pela cineasta alemã Lotte Reiniger. O filme utiliza figuras de silhueta para mostrar a busca trágica de um jovem pescador chinês pelo amor de uma princesa emprisionada por seu pai imperador. Na época, o jornal alemão Vossische exaltou o filme, dizendo que “tão fantasiosas são as figuras e os eventos que somos levados a uma realidade mais pura: rimos e nos emocionamos”.
A obra de Alassane é apresentada com o gentil apoio do Institut Français e da Cinemateca da Embaixada da França no Brasil. O programa conta com os seguintes cinco filmes:
Boa viagem, Sim
Bon voyage, Sim
Moustapha Alassane | Níger | 1966, 5’, DCP (Institut Français/Razak Moustapha) | Classificação indicativa: livre
O baú voador
Der fliegende Koffer
Lotte Reiniger | Alemanha | 1921, 11’, DCP (DFF – Deutsches Filminstitut & Filmmuseum / Primrose Productions), cópia restaurada | Classificação indicativa: livre
Samba, o grande
Samba le grand
Moustapha Alassane | Níger | 1977, 14’, DCP (Institut Français / Razak Moustapha), cópia restaurada | Classificação indicativa: livre
Kokoa
Moustapha Alassane | Níger | 2001, 14’, DCP (Institut Français) | Classificação indicativa: livre
O retorno de um aventureiro
Le Retour d’um aventurier
Moustapha Alassane | Níger | 1966, 34’, DCP (Institut Français), cópia restaurada | Classificação indicativa: livre
PROGRAMAÇÃO
IMS Paulista
22/11/2023, quarta, 18h15
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard
30/11/2023, quinta, 18h
Galpão Bela Maré
7/2/2024, quarta, 16h SESSÃO CANCELADA
Programa 2
Quando um poderoso feiticeiro pede a mão da princesa Dinarsade, filha do Califa, em troca de seu cavalo voador, o príncipe Achmed, irmão de Dinarsade, intervém montando no cavalo e voando para longe. Ele chega em terras distantes, onde se apaixona pela bela fada Pari Banu, que lidera o reino fantástico de Wak-Wak. Assim inicia As aventuras do príncipe Achmed (1926), primeiro longa-metragem de animação da história do cinema, que, no decorrer de cinco capítulos, acompanha as narrativas contadas através destes personagens e outros, como a de um pobre alfaiate chamado Aladim, encarregado de resgatar uma lâmpada mágica de uma caverna e, eventualmente, de salvar Dinarsade.
O filme foi o trabalho mais ambicioso na carreira da então jovem cineasta alemã Lotte Reiniger, que trabalhou nele por um período de três anos com uma equipe de seis pessoas (sendo ela a única mulher do grupo). Embora Reiniger tenha tomado como referência as tradições asiáticas do teatro de sombras, ela desenvolveu uma arte única, sem antecessores ou sucessores, com os recortes em papel de silhuetas que ganhavam movimento e vida na tela do cinema. Ela realizou algumas adaptações para o cinema de contos de fadas antes de dirigir Príncipe Achmed, para o qual o grupo resolveu adaptar episódios de As mil e uma noites, escolhendo aqueles que acharam mais estimulantes de representar no formato de animação.
Carl Koch (também o marido de Reiniger) trabalhou como cinegrafista, fotografando quadro a quadro os movimentos das figuras sobre uma mesa de luz, assim como fez com a maioria dos filmes da cineasta. O artista e animador experimental Berthold Bartosch se responsabilizou pela elaboração da estrutura de filmagem com múltiplas camadas e pelas paisagens de fundo, com estrelas, montanhas e mares. Walter Ruttmann, que havia realizado as primeiras animações experimentais do cinema alemão e que logo depois dirigiu o importante documentário Berlim, sinfonia da metrópole (1927), se encarregou dos efeitos especiais em Príncipe Achmed e dirigiu algumas sequências do filme, como a espetacular batalha na cratera de um vulcão entre o feiticeiro e uma poderosa feiticeira que ajuda o príncipe no combate com seu arqui-inimigo.
Apesar da hesitação inicial das distribuidoras e exibidores locais (que não acreditaram no potencial de um cinema destinado para o público infantil), As aventuras do príncipe Achmed virou um sucesso de público e de crítica na Europa e no mundo. Ele continua sendo uma inspiração direta para os trabalhos de diversos artistas contemporâneos, como o animador francês Michel Ocelot e a artista visual e cineasta norte-americana Kara Walker. O filme será apresentado no IMS em uma cópia digital restaurada a partir de uma cópia tingida em película de nitrato que se encontra no British Film Institute e que ressalta os tons brilhantes de amarelo, verde e vermelho. As sessões serão acompanhadas por uma gravação da trilha sonora original, composta por Wolfgang Zeller em parceria com Reiniger, que utilizou a música para cronometrar os movimentos dos personagens.
As aventuras do príncipe Achmed passará no IMS junto a A morte de Gandji (1965), o primeiro filme de animação feito por um cineasta africano. Ele foi realizado por Moustapha Alassane durante um período de estudo no Quebec, sob a tutela do animador Norman McLaren no Office National du Film du Canada [Escritório Nacional de Cinema do Canadá]. “Numa pacata aldeia havia uma comunidade de sapos”, começa a narração do jovem cineasta do Níger para sua história desenhada a caneta com traços coloridos simples e elegantes sobre papel. O filme conta os esforços dos sapos ao combater um monstro terrível e aponta com um sorriso para futuras aventuras.
O programa inclui os filmes:
A morte de Gandji
La Mort du Gandji
Moustapha Alassane | Canadá | 1965, 5’, DCP (Office National du Film du Canada), cópia restaurada | Classificação indicativa: livre
As aventuras do príncipe Achmed
Die Abenteuer des Prinzen Achmed
Lotte Reiniger | Alemanha | 1926, 66’, DCP (DFF/Primrose Productions), cópia restaurada | Classificação indicativa: livre
PROGRAMAÇÃO
IMS Paulista
22/11/2023, quarta, 20h
Sessão apresentada por Fábio Yamaji
29/11/2023, quarta, 18h30
Galpão Bela Maré
31/1/2024, quarta, 16h
Sessão seguida de debate com integrantes do Studio Tijolin
O estúdio Tijolin é um laboratório de animação tradicional, digital, de união e mapeamento de artistas envolvidos com a animação. Composto por uma equipe de realizadores favelados com o intuito de materializar histórias. Seu objetivo é perpetuar representações e aprendizados positivos, manipulando as possibilidades dentro de seus territórios.
PROGRAMAÇÃO
Galpão Bela Maré
31/1/2024, quarta, 16h
Sessão seguida de debate com integrantes do Studio Tijolin
7/2/2024, quarta, 16h SESSÃO CANCELADA
GALPÃO BELA MARÉ
31/1/2024, quarta
16h - As aventuras do príncipe Achmed + Curtas do Studio Tijolin
Sessão seguida de debate com integrantes do Studio Tijolin
7/2/2024, quarta
16h - No reino dos sapos + Curtas Studio Tijolin SESSÃO CANCELADA
IMS PAULISTA
22/11/2023, quarta
18h15 - No reino dos sapos
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard
22/11/2023, quarta
20h - As aventuras do príncipe Achmed
Sessão apresentada por Fábio Yamaji
29/11/2023, quarta
18h30 - As aventuras do príncipe Achmed
30/11/2023, quinta
18h - No reino dos sapos
Galpão Bela Maré
O Galpão Bela Maré, projeto do Observatório de Favelas realizado em parceria com a Automática, é um espaço voltado à difusão, produção, mobilização, formação e fruição das artes e das expressões culturais através de suas mais variadas manifestações, visando, sobretudo, a articular a produção artística periférica com o circuito da arte contemporânea no Rio de Janeiro. Inaugurado em 2011, consolidou-se como um espaço de referência na cidade para o debate do papel político da arte, especialmente no contexto das periferias.
Horário de funcionamento: terça à sábado das 10h às 18h
Entrada gratuita. Sujeita à lotação da sala.
Rua Bitencourt Sampaio, 169
Maré, Rio de Janeiro/RJ
Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.
IMS Paulista
A Sessão Mutual Films de novembro apresenta obras de dois pioneiros da animação. A alemã Lotte Reiniger (1899-1981) desenvolveu técnicas de filmagens que antecederam por uma década Walt Disney na criação de universos fantásticos povoados por figuras de silhueta. Ela realizou o primeiro longa-metragem de animação da história do cinema, As aventuras do príncipe Achmed (1926), uma livre adaptação de As mil e uma noites que passará no IMS junto a seu primeiro filme de contos de fadas, o curta O baú voador (1921). Moustapha Alassane (1942-2015), do Níger, foi o primeiro cineasta africano a dirigir filmes de animação, quando seu país havia conquistado a independência há menos de uma década. Ele era um artista inventor que explorou diferentes técnicas – do desenho à mão ao stop-motion e ao live-action – para contar histórias que invocam tanto as tradições populares locais como a paródia à cultura invasora estrangeira. Os dois filmes de Reiniger e os cinco de Alassane que compõem os programas passarão no IMS em suas melhores cópias digitais, várias sendo restaurações recentes. A primeira exibição de As aventuras do príncipe Achmed em São Paulo contará com a apresentação do animador, cineasta e professor Fábio Yamaji.
A curadoria e a produção da Sessão Mutual Films são de Aaron Cutler e Mariana Shellard.
Esta sessão fez parte do Novembro Negro 2023 ►
Sessões especiais
No reino dos sapos
IMS Paulista, 22/11/2023, quarta, 18h15
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard
As aventuras do príncipe Achmed
IMS Paulista, 22/11/2023, quarta, 20h
Sessão apresentada por Fábio Yamaji
Apoio: