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Sessão Mutual Films

Figura e máscara: Nossa voz de terra, memória e futuro + Família nuclear

A última Sessão Mutual Films de 2022 traz dois filmes políticos que retratam a história nas Américas da invasão europeia e do extermínio de povos indígenas, que resultaram na formação de sociedades bélicas e desiguais. Em Nossa voz de terra, memória e futuro (1981), uma obra-chave dos documentaristas colombianos Marta Rodríguez e Jorge Silva, acompanhamos de perto a luta indígena pela recuperação de suas terras ancestrais na região de Cauca, nos Andes colombianos. Ouvimos relatos e vemos encenações de presenças demoníacas que tomam a forma de donos de terras e estrangeiros ricos – os responsáveis pela perpetuação da opressão da população local. No filme-ensaio Família nuclear (2021), o longa-metragem mais recente dos norte-americanos Erin e Travis Wilkerson, testemunhamos a jornada inquietante da família dos cineastas pelos silos nucleares presentes em todo o território dos Estados Unidos, muitos dos quais coincidem com sítios despovoados de massacres indígenas históricos. Os filmes, realizados com uma distância de 40 anos entre si, se espelham ao utilizarem símbolos arquetípicos para expressar condições sociais de violência que assombram a vida geração após geração. Uma cópia recém-restaurada de Nossa voz vai ser exibida no IMS, enquanto Família nuclear terá sua estreia brasileira.

A Sessão Mutual Films tem curadoria e produção de Aaron Cutler e Mariana Shellard.


Sessões especiais


IMS PAULISTA

Nossa voz de terra, memória e futuro + apresentação
9/11/2022, quarta, 19h30
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

Família nuclear + debate
10/11/2022, quinta, 19h
Debate com Neusa Barbosa, Mariana Shellard e Aaron Cutler


IMS RIO

Família nuclear + apresentação
12/11/2022, sábado, 18h
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

Nossa voz de terra, memória e futuro + debate
13/11/2022, domingo, 16h30
Debate com Fabián Núñez, Mariana Shellard e Aaron Cutler


Nossa voz de terra, memória e futuro

Nuestra voz de tierra, memoria y futuro
Marta Rodríguez e Jorge Silva | Colômbia | 1981, 110’, DCP | Classificação indicativa: xx anos

Ao longo da década de 1970, os cineastas colombianos Marta Rodríguez e Jorge Silva trabalharam de forma independente em documentários que mostram as injustiças sofridas por trabalhadores e povos indígenas em seu país. Após realizarem Campesinos (1975), sobre a história recente de movimentos trabalhistas colombianos, eles mergulharam na luta diária do povo Coconuco, na região andina de Cauca, para recuperar suas terras ancestrais. Rodríguez e Silva inicialmente seguiram o método didático materialista usado em Campesinos, mas logo perceberam que, para atingir o público desejado – os próprios indígenas –, eles precisariam mudar a abordagem do filme, descentralizando o pensamento ideológico moderno a favor da incorporação da mitologia local. Para tal, pulverizaram as vozes, que antes se concentravam em lideranças indígenas, e abarcaram relatos fantasmagóricos sobre a influência do diabo no comportamento violento dos donos de terras e estrangeiros endinheirados. Os diretores entenderam que esses relatos eram uma forma de interpretação da opressão que viviam os povos desde o tempo da colonização e, portanto, para que o filme se tornasse uma ferramenta eficiente para a tomada de consciência indígena sobre seus direitos, era preciso incluir esse universo mágico na narrativa.

Eles trabalharam durante quatro anos em Nossa voz de terra, memória e futuro, e contaram com a participação de comissões de cooperativas locais, que prestaram consultoria, inclusive na sala de edição. A realização do filme também envolveu artistas colombianos, como o compositor Jorge López e o grupo musical Yaki Kundra (para a trilha sonora) e o pintor Pedro Alcántara e o diretor de arte Ricardo Duque (responsáveis pela concepção da figura do diabo). O pacto do proprietário rico de terras com o diabo é teatralizado ao longo do filme, por meio de cenas surreais em que um monstro engravatado com um rosto anfíbio interage com uma espécie de Tio Sam a cavalo. Nossa voz narra ainda a história da luta indígena, mostrando as ações do recém-fundado CRIC (Conselho Regional Indígena de Cauca), inclusive a reocupação de fazendas e o ensino de matemática, história e alfabetização. São contadas por seus integrantes as histórias de lideranças icônicas, como Juan Tama, no século XVII, Manuel Quintín Lame, nas primeiras décadas do século XX, e Justiniano Lame, um ativista assassinado em 1977, cuja vida é relembrada pela viúva, Gertrudis, e serve como inspiração para lutas atuais. A mistura de diferentes vozes e formas narrativas no filme deu para os cineastas, nas palavras de Jorge Silva, "a oportunidade de fazer algo que nos interessava há muito tempo: tentar ir além do documentário tradicional, que geralmente ignora esses níveis de realidade – os esquece".

Em 1982, Nossa voz de terra, memória e futuro passou no Festival Internacional de Cinema de Berlim, na mostra Forum, organizada pelo Arsenal – Institut für Film und Videokunst e.V. Décadas depois, a mesma entidade restaurou digitalmente dois filmes de Rodríguez e Silva – Chircales (1971), em 2014, e Nossa voz, em 2019. O trabalho de restauração foi realizado em parceria com a Fundación Cine Documental (produtora de Rodríguez e Silva) e Hollywoodoo Films (produtora de seu filho e também cineasta, Lucas Silva), que providenciaram os negativos originais de imagem e som.

Parte da entrevista de Jorge Silva e Marta Rodríguez para o documentário New Cinema of Latin America, Part II: The Long Road (1981), dirigido por Michael Chanan, em espanhol.

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
9/11/2022, quarta, 19h30 - sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard
27/11/2022, domingo, 17h45

IMS Rio
13/11/2022, domingo, 16h30 - sessão seguida de debate com Fabián Núñez, Mariana Shellard e Aaron Cutler


Família nuclear

Nuclear Family
Erin Wilkerson e Travis Wilkerson | EUA, Singapura | 2021, 96’, DCP | Classificação indicativa: xx anos

O filme-ensaio abre com a definição de “espécie invasora”: “Qualquer organismo vivo que não é nativo a um ecossistema e provoca mal”. Em seguida, o cineasta norte-americano Travis Wilkerson relata para o espectador que, durante sua infância nas décadas de 1970 e 1980, sua mãe – uma militante política obcecada com a guerra nuclear – levava a família em viagens de carro pelos silos armamentícios presentes em todo o território estadunidense. A premissa de Família nuclear, filmado em 2019, é retomar essa viagem, numa tentativa de exorcizar os pesadelos do cineasta causados pelas recentes eleições no país. Embarcam Travis, sua esposa, a também cineasta Erin Wilkerson, seus filhos e o cachorro. Acompanhamos a família em uma jornada que reflete sobre a relação entre a história de violência dos colonos americanos contra os povos indígenas e a construção de uma cultura estruturada no empoderamento bélico. Encontramos campos vastos e vazios, que parecem ser ocupados apenas pela família de turistas acidentais, enquanto ouvimos o patriarca descrever ora uma batalha histórica realizada em um local não marcado, ora dados e notícias sobre os silos, guardados por militares que vivem isolados e em condições precárias. Esporadicamente, a tela é preenchida por fotos polaroides de flores nativas e não nativas tiradas por Erin. A trilha sonora inclui as músicas que a família escutou durante a viagem, como “Nuclear War”, da The Sun Ra Arkestra, cujas letras alarmantes se transformam em um refrão melancólico.

O casal Wilkerson criou o coletivo Creative Agitation [Agitação Criativa] em 2009 e, por meio dele, colaborou em diversos projetos, entre filmes, videoinstalações e uma revista eletrônica de arte política. Família nuclear marca a primeira colaboração dos dois artistas na autoria de um longa-metragem. Erin possui um extenso trabalho em artes visuais, com um olhar voltado para a arquitetura e para o impacto destruidor da intervenção humana sobre a paisagem. Travis possui uma longa filmografia, focada em eventos que subvertem a história ilibada dos Estados Unidos, seu conceito de liberdade e as consequências de um sistema capitalista nocivo – muitas vezes fazendo conexões com seus próprios antepassados. Quando a família visita um fosso na cidade de Butte, em Montana (onde Travis cresceu) – considerado o primeiro grande desastre ambiental do país, consequência da exploração indevida de uma empresa de mineração do início do século XX –, ouvimos que, ano após ano, centenas de gansos morrem ao pousar nas águas superácidas do fosso. A família, ao mesmo tempo vítima e agressor, prenuncia o futuro de uma sociedade que caminha para sua autoextinção.

Família nuclear teve sua estreia mundial em 2021 no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, onde ganhou uma menção honrosa na mostra competitiva Estados Alterados. Desde então, ele tem passado em diversos festivais, como os de Jeonju e Yamagata, e na mostra Forum, no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Ele terá sua estreia brasileira no IMS.

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
10/11/2022, quinta, 19h - sessão seguida de debate com Neusa Barbosa, Mariana Shellard e Aaron Cutler
27/11/2022, domingo, 20h

IMS Rio
12/11/2022, sábado, 18h - sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard


Programação

IMS PAULISTA

9/11/2022, quarta
19h30 - Nossa voz de terra, memória e futuro
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

10/11/2022, quinta
19h - Família nuclear
Sessão seguida de debate com Neusa Barbosa, Mariana Shellard e Aaron Cutler

27/11/2022, domingo
17h45 - Nossa voz de terra, memória e futuro
20h - Família nuclear

 

IMS RIO

12/11/2022, sábado
18h - Família nuclear
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

13/11/2022, domingo
16h30 - Nossa voz de terra, memória e futuro
Sessão seguida de debate com Fabián Núñez, Mariana Shellard e Aaron Cutler

Da esquerda para direita, cenas dos filmes Nossa voz de terra, memória e futuro e Família nuclear

Ingressos

Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos no site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.

Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.


IMS Paulista

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, a venda é semanal: toda quarta-feira, às 18h, são liberados ingressos para as sessões que acontecem até a quarta-feira seguinte.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.

IMS Rio

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na recepção.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, as vendas para as sessões de cada mês acontecem a partir do 1º dia do mês vigente.


Sessão Mutual Films

Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.