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Sessão Mutual Films

Retratos: Filmes de Ute Aurand e Margaret Tait

A Sessão Mutual Films de setembro traz filmes de artistas que foram colaboradoras e amigas. A cineasta e curadora berlinense Ute Aurand (que nasceu em 1957), uma das maiores expoentes contemporâneas do cinema experimental na Europa, virá ao Brasil pela primeira vez para apresentar dois programas de seus filmes (todos em suas estreias brasileiras) no formato original em 16 mm. Ela também apresentará um programa de curtas da cineasta e poeta escocesa Margaret Tait (1918-1999) – cujo processo de trabalho Aurand conheceu de forma profunda na década de 1990 –, em novas cópias digitais de alta resolução que passaram em festivais e cinematecas ao redor do mundo nos últimos anos em homenagem ao centenário de Tait. Aurand e Tait se especializaram em “filmes-retratos”, ou breves e cuidadosos estudos poéticos de pessoas e lugares próximos a elas. As artistas celebram o aqui e agora em obras pessoais que, enquanto captam instantes, representam um lapso temporal de anos de preparo. Os filmes enfatizam uma inseparabilidade entre o viver e o registrar, convidando os espectadores a compartilhar experiências efêmeras, porém intensas, em um gesto radical de intimidade. Os programas de filmes no Rio de Janeiro e em São Paulo incluem uma sessão comentada dos curtas de Aurand, na qual a diretora conversará com a plateia sobre seu método e sua visão de cinema.

A Sessão Mutual Films tem curadoria e produção de Aaron Cutler e Mariana Shellard.

 


Programa 1 - Curtas de Ute Aurand

Ute Aurand | Alemanha | 1980-2021, 66’ (com comentários da artista), 16 mm (cópias do acervo da artista)

A artista alemã Ute Aurand estará presente em São Paulo e no Rio de Janeiro para fazer uma sessão comentada de seis de seus mais de 40 filmes. A seleção visa apresentar um panorama do trabalho dela, desde seu primeiro filme – realizado no início da década de 1980, quando estudava cinema na universidade – até o mais recente, que estreou no ano passado. As projeções em 16 mm serão intercaladas por falas de Aurand sobre seu método de trabalho e sua relação com as pessoas registradas em seus filmes-retratos ao longo dos anos. As cineastas Maria Lang e Renate Sami, a escritora e professora Lisa Tamaru e os próprios pais da diretora são algumas das figuras que aparecem sorrindo diante de sua câmera com qualidades lúdicas e, por vezes, melancólicas. Também presente no programa, na forma de uma homenagem em um dos filmes, está a cineasta escocesa Margaret Tait, uma fonte de inspiração para Aurand e uma artista cujo trabalho ela divulgou de diversas formas.

Aurand começou a fazer cinema seguindo os exemplos impressionistas e poéticos de cineastas da vanguarda norte-americana, como Jonas Mekas e Marie Menken, e logo desenvolveu seu próprio estilo, que é ao mesmo tempo modesto e rigoroso em seu gentil olhar humano. Os filmes de Aurand que passarão no IMS contêm retratos, imagens de família, experiências banais, porém que refletem o valor absoluto da vida. Eles são registros majestosos de uma vida comum que expressam uma relação apaziguadora entre o ser humano e seu entorno, descrevendo momentos idílicos que ocupam um espaço de tempo de mais de quatro décadas. O método particular de edição dos filmes, no qual cortes rápidos são entremeados por uma breve luz ofuscante, cria um dinamismo incomum entre paisagens distintas e diferentes posicionamentos da visão subjetiva da artista no espaço. Aurand leva nossos olhos a dançarem com a imagem, nos envolvendo na impressão de que a própria vida é um breve sopro, um estouro fugaz e passageiro.

A sessão conta com os seguintes filmes, que passarão em exibição única em cada cidade em seu formato original de 16 mm. Quatro dos filmes são sonoros, e dois (De ponta-cabeça nos galhos e Meia-lua para Margaret, silenciosos. Aurand vai conversar com o público entre a projeção de cada filme.

Maria e o mundo
(Maria und die Welt)
Ute Aurand | Alemanha | 1995, 15’, 16 mm

Renate
(Renate)
Ute Aurand | Alemanha | 2021, 6’, 16 mm

Profundamente envolvida numa conversa silenciosa
(Schweigend ins Gespräch vertieft)
Ute Aurand | Alemanha | 1980, 8’, 16 mm

De ponta-cabeça nos galhos
(Kopfüber im Geäst)
Ute Aurand | Alemanha | 2009, 15’, 16 mm

Lisa
(Lisa)
Ute Aurand | Alemanha | 2017, 4’, 16 mm

Meia-lua para Margaret
(Halbmond für Margaret)
Ute Aurand | Alemanha | 2004, 18’, 16 mm

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
14/9/2022, quarta, 19h
Sessão comentada ao vivo pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala da diretora)

IMS Rio
17/9/2022, sábado, 17h
Sessão comentada ao vivo pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala da diretora)


Programa 2 - Onde eu estou é aqui: Filmes de Margaret Tait

Margaret Tait | Escócia | 1951-1976, 76’, 16 mm para DCP (LUX)

Uma poça d’água. A roda de um carro. Um prédio em construção, tijolo sobre tijolo. Um castelo de cartas sendo construído em stop motion. Prédios e mais prédios em construção. A noite se aproxima, caminhando na beira da praia. DANGER [PERIGO]. Água. Fogo. Gelo. Um pássaro. Ouvimos o pássaro quadros para a frente, sobre a imagem do fogo. Palavras aparecem em stop motion. Música vai e vem. Uma carta sendo escrita. Brincadeiras na neve. Lua. “Um começo, um fim”.

As imagens listadas acima vêm do filme Onde eu estou é aqui (1964), um retrato plácido e melodioso da cidade de Edimburgo. Ele é um dos filmes mais renomados de Margaret Tait (1918-1999), uma artista pouco conhecida em vida, mas que hoje é tida como uma pioneira do cinema poético realizado no Reino Unido. O filme, como a maioria de seus trabalhos cinematográficos, foi rodado pela própria Tait em sua Escócia natal – muitas vezes ao redor de sua casa, na ilha de Orkney. “Eu não estou, de fato, interessada em ‘registrar para a posteridade’”, ela falou em uma entrevista transmitida pelo Channel Four em 1983. “Isto é um valor acidental ou incidental que meus filmes podem ter, e não o seu propósito. Eu faço meus filmes para audiências que estão presentes no momento – para uma resposta no momento... No meu uso da linguagem cinematográfica, eu mostro coisas desse tipo – às vezes –, e se eu as uso, gosto de que elas tenham precisão; porém, mais em função da reverberação do que do registro”.

Tait estudou medicina na Universidade de Edimburgo e trabalhou com o Royal Army Medical Corps na Ásia durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, ela chegou a sentir que “era necessário fazer algo mais do que apenas trazer as pessoas de volta à saúde corporal”, e resolveu cursar cinema na década de 1950 no Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma. Entre este momento e o final de sua vida, Tait fez mais de 30 filmes, a maioria deles nos formatos de curta e média-metragem (a única exceção foi Blue Black Permanent, de 1992, o primeiro longa-metragem de ficção feito por uma diretora na Escócia). Ela também escreveu contos e livros de poesia, tendo autores como Federico García Lorca e Hugh MacDiarmid como importantes referências. Os filmes chamados por ela de “filmes-poemas” são estruturados de forma lírica e breve, e expressam a beleza e o sublime de momentos fugidios.

O programa que passará no IMS conta com seis desses filmes, apresentados em ordem cronológica e em novas cópias digitais de alta resolução preparadas pela distribuidora britânica LUX, a partir de materiais em 16 mm. Ele começa com dois filmes-retratos, o primeiro de pessoas que Tait conheceu durante seus estudos na Itália (entre elas, o diretor argentino Fernando Birri), e o segundo, de sua mãe, após voltar para a Escócia. Onde eu estou é aqui é seguido por três filmes mais curtos que oferecem impressões de momentos no tempo, com explorações ousadas de paisagens, cores, texturas de seu ambiente e sons cristalinos que remetem a processos de reflexão e andança.

A curadoria do programa foi feita por Sarah Neely e Matt Lloyd em 2018 em homenagem ao centenário de Tait. Três esboços de retratos é um filme mudo, enquanto os outros filmes do programa são sonoros. A cineasta alemã Ute Aurand vai apresentar a primeira exibição do programa no IMS Paulista e sua exibição única no IMS Rio.

Três esboços de retratos
(Three Portrait Sketches)
Margaret Tait | Reino Unido/Itália | 1951, 10’, 16 mm para DCP

Retrato de Ga
(A Portrait of Ga)
Margaret Tait | Reino Unido | 1952, 5’, 16 mm para DCP

Onde eu estou é aqui
(Where I Am Is Here)
Margaret Tait | Reino Unido | 1964, 35’, 16 mm para DCP

Aéreo
(Aerial)
Margaret Tait | Reino Unido | 1974, 4’, 16 mm para DCP

Poemas de cores
(Colour Poems)
Margaret Tait | Reino Unido | 1974, 12’, 16 mm para DCP

Arremate
(Tailpiece)
Margaret Tait | Reino Unido | 1976, 10’, 16 mm para DCP

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
15/9/2022, quinta, 18h
Sessão apresentada pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala de apresentação)

18/9/2022, domingo, 19h20
Apenas exibição dos filmes, sem apresentação

IMS Rio
18/9/2022, domingo, 16h
Sessão apresentada pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala de apresentação)


Programa 3 - "Verde correndo com cavalos"

Ute Aurand | Alemanha/Inglaterra | 2019-2020, 86’, 16 mm

Em 2015, a cineasta alemã Ute Aurand começou a trabalhar na edição do que se tornou seu primeiro longa-metragem. Ela mergulhou em seus arquivos fílmicos e revisitou um total de seis horas de material gravado em 16 mm para criar o romântico Verde correndo com cavalos. Da janela de um trem em movimento, observamos um gramado verde onde correm duas pessoas a cavalo, intercalando com árvores ora de folhagem verde, ora de flores brancas. Conforme a proximidade dos objetos, vemos apenas um borrão colorido ou, ao longe, formas bem definidas. O filme desenvolve um movimento de aproximação e distanciamento das imagens registradas, o que passa a sensação de uma valsa de lembranças. Vemos crianças crescerem, tornarem-se adultos e tornarem-se pais, vemos adultos envelhecerem. Vemos protagonistas de diversos outros filmes de Aurand e momentos domésticos com o cineasta norte-americano Robert Beavers – uma presença importante na vida e no trabalho da artista desde a década de 1990. Esses personagens vêm e vão, e, quando nos esquecemos de alguém, logo este alguém retorna para relembrarmos de sua presença, em momentos que saboreiam simultaneamente o passado e o presente.

Como descreve Aurand, o filme é um “conjunto de observações e encontros breves, filmados entre 1999 e 2018, em casa e em viagem, com amigos e a sós. Gestos íntimos despertam a minha atenção: o 94º aniversário de Jón, Sofia dançando, James e Robert transportando o projetor de 16 mm, neve em Cape Cod, Detel [sua irmã artista] no estúdio dela, o casamento de Sabrina e Franz, uma visita a Detroit. Vemos as mesmas pessoas em idades diferentes. Por vezes, alguém fala. Outras vezes, há música ou silêncio.”

Verde correndo com cavalos estreou em 2019 no Festival Internacional de Cinema de Berlim, na mostra Forum Expanded, e tem viajado o mundo desde então. Ele terá sua estreia brasileira no IMS, em seu formato original de 16 mm, com a presença de Aurand para apresentar as sessões. Ele vai passar com um curta-metragem mudo recente de Aurand, Relances de uma visita a Orkney no verão de 1995, que foi comissionado pelo projeto Margaret Tait 100 junto a curtas de outros nove artistas e cineastas em homenagem à diretora Margaret Tait.

Relances de uma visita a Orkney no verão de 1995
(Glimpses from a Visit to Orkney in Summer 1995)
Ute Aurand | Alemanha/Reino Unido | 2020, 4’, 16 mm

Verde correndo com cavalos
(Rasendes Grün mit Pferden)
Ute Aurand | Alemanha | 2019, 82’, 16 mm

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
15/9/2022, quinta, 20h
Sessão apresentada pela diretora Ute Aurand (tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala de apresentação)

IMS Rio
18/9/2022, domingo, 17h45
Sessão apresentada pela diretora e seguida de debate com Ute Aurand e o pesquisador e curador Lucas Murari (tradução consecutiva para a fala da diretora e interpretação em Libras para todo o evento)


Participantes

Ute Aurand nasceu em 1957 em Frankfurt/Main, na Alemanha, e cresceu em Berlim. Entre 1979 e 1985, ela estudou cinema na Deutsche Film und Fernsehakademie Berlin (DFFB). Produz seus próprios filmes desde 1985. Também trabalha como curadora de cinema desde 1990, inclusive de exibições inéditas na Alemanha de filmes experimentais dirigidos por mulheres. Mais informações sobre seu trabalho podem ser conferidas no site da diretora.

 

Lucas Murari é Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com período sanduíche na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3. É professor de cursos de arte e cinema, membro-fundador da plataforma RISCO Cinema e um dos organizadores do DOBRA – Festival Internacional de Cinema Experimental. Organizou retrospectivas e mostras como “Feitiçarias, químicas e bytes: janelas de animação experimental no Brasil” (MAM/RJ), “O cinema de John Akomfrah – Espectros da Diáspora (CCBB), “Filmar Kafka” (SESC-SP), entre outros. Em 2022 publicou na França a antologia Expanded Natures – Écologies du cinéma expérimental (Ed. Light Cone).


Programação

IMS PAULISTA

14/9/2022, quarta
19h - Programa 1: Curtas de Ute Aurand
Sessão comentada ao vivo pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala da diretora)

15/9/2022, quinta
18h - Programa 2: Onde eu estou é aqui: Filmes de Margaret Tait
Sessão apresentada pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala de apresentação)

20h - Programa 3: “Verde correndo com cavalos”
Sessão apresentada pela diretora Ute Aurand (tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala de apresentação)

18/9/2022, domingo
19h20 - Programa 2: Onde eu estou é aqui: Filmes de Margaret Tait
Apenas exibição dos filmes, sem apresentação

 

IMS RIO

17/9/2022, sábado
17h - Programa 1: Curtas de Ute Aurand
Sessão comentada ao vivo pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala da diretora)

18/9/2022, domingo
16h - Programa 2: Onde eu estou é aqui: Filmes de Margaret Tait
Sessão apresentada pela diretora Ute Aurand (com tradução consecutiva e interpretação em Libras para a fala de apresentação)

17h45 - Programa 3: “Verde correndo com cavalos”
Sessão apresentada pela diretora e seguida de debate com Ute Aurand e o pesquisador e curador Lucas Murari

Da esquerda para direita, cenas dos filmes Meia-lua para Margaret, Arremate e Relances de uma visita a Orkney no verão de 1995

Vídeo

IMS Paulista

Vídeo de Maria Clara Villas

IMS Rio

Vídeo de Laura Liuzzi


Ingressos

Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos no site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.

Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.


IMS Paulista

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, a venda é semanal: toda quarta-feira, às 18h, são liberados ingressos para as sessões que acontecem até a quarta-feira seguinte.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.

IMS Rio

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na recepção.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, as vendas para as sessões de cada mês acontecem a partir do 1º dia do mês vigente.


Sessão Mutual Films

Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.