A iniciativa Mutual Films destaca a obra do cineasta, escritor e fotógrafo indiano Ruchir Joshi (que nasceu em Calcutá, em 1960). Joshi chama seu cinema de “uma terceira criatura” – nem ficção, nem documentário tradicional, mas uma não ficção que trilha seu próprio caminho em diálogo com os trabalhos e pensamentos de outros artistas. O programa que passará no IMS Poços conta com dois filmes de Joshi que foram rodados em 16 mm e lançados no início da década de 1990, e que serão apresentados em novas restaurações digitais. O curta-metragem Memórias da cidade do leite (1991) explora a cidade de Amedabade com um olhar poético, em parceria com o dramaturgo Madhu Rye, e o filme-ensaio de média-metragem Contos do planeta Kolkata (1993) (feito em colaboração com o artista norte-americano Tony Cokes, entre outros) cria um jogo de espelhos entre a metrópole indiana do título e suas representações difamatórias na mídia ocidental. A sessão também inclui uma versão remasterizada do curto retrato da cidade de Bombaim Chegada (1980), do grande cineasta indiano Mani Kaul, uma referência-chave para Joshi em sua busca cinematográfica por formas únicas.

Filmes
A sessão tem duração de 74min. Classificação indicativa da sessão: 14 anos
Memórias da cidade do leite
Memories of Milk City
Ruchir Joshi | Índia | 1991, 14’, Arquivo digital (Arsenal) | Classificação indicativa: 14 anos
Chegada
Arrival
Mani Kaul | Índia | 1980, 20’, Arquivo digital (Ashish Rajadhyaksha + National Film Development Corporation of India) | Classificação indicativa: 14 anos
Contos do planeta Kolkata
Tales from Planet Kolkata
Ruchir Joshi | Índia | 1993, 40’, Arquivo digital (Arsenal) | Classificação indicativa: 14 anos
O programa de três filmes passa pelas ruas de três cidades indianas, cada uma com suas particularidades. E assim reflete um deslocamento feito pela família de Ruchir Joshi, cujos pais migraram de Amedabade, no estado de Gujarate, para Calcutá antes dele nascer. Em um texto escrito para o WdW Review em 2015, o cineasta e escritor Ruchir lembra da viagem anual feita durante sua infância para o outro lado do país para visitar seus parentes gujaratis, com a cidade de Bombaim se inserindo no caminho: “Os contrastes entre Calcutá, Bombaim e Amedabade eram enormes. Calcutá era tropical, superpopulosa, decrépita, com a sensação de que em todo lugar coisas e sistemas quebravam... Bombaim era tropical, superpopulosa e assustadora: as coisas funcionavam, mas a um ritmo feroz e surreal... Amedabade, entretanto, parecia ser completamente desconectada das tensões que torturavam as duas cidades grandes. As pessoas eram relaxadas, calorosas e generosas, e até seu humor era gentil”1.
Memórias da cidade do leite apresenta cenas de Amedabade (filmadas por Ruchir e Ranjan Palit), com texto e narração do dramaturgo gujarati Madhu Rye, que casa versos rimados de uma peça de rádio da década de 1960 com um texto autobiográfico. Inúmeras vacas nos guiam pelas ruas de uma cidade popular e simples, com aspecto pacato, enquanto ouvimos sobre um processo rápido de modernização e americanização que atinge os habitantes. Os rebanhos de animais compartilham as praças com bancas de comida de rua e um fluxo constante de motocicletas. Acompanhando os momentos lúdicos, há um tom sombrio que aponta para a história de violência e opressão na cidade contra a minoria muçulmana. Enquanto crianças, mulheres e homens brincam, comem e se divertem à noite, Rye fala de “Amedabade... Onde basta uma folha cair para incitar rebeliões religiosas”.
A Bombaim percorrida por Mani Kaul em Chegada é também uma cidade de contradições. Embora Kaul seja mais conhecido por dirigir obras-primas narrativas do movimento de Cinema Paralelo indiano, como Uski Roti (1970) e Duvidha (1973), ele também fez documentários majestosos, nos quais sua liberdade formal driblou as restrições da obra comissionada. As imagens de Chegada (embaladas pela trilha sonora do renomado compositor clássico indiano Raghunath Seth) descrevem, quase sem diálogos, a variedade dos trabalhos precários oferecidos aos mais pobres. Operários da construção civil sobem de chinelo, sem capacete, num elevador estruturado por finas toras de madeira. Trabalhadoras carregam bacias de pedras nas cabeças. Centenas de pessoas dormem no chão de uma estação de trem. As variedades das comidas são ao mesmo tempo produtos de labor e ocasiões para descanso de pessoas que olham para a câmera com expressões marcantes.
Em Contos do planeta Kolkata, Joshi (um artista influenciado por Kaul) coloca sua cidade nativa na tela com o intuito de questionar a maneira como o cinema e a mídia ocidentais a percebem – por exemplo, na exploração da miséria por Louis Malle no documentário Calcutá (Calcutta, 1969), parodiado pela interpretação de Ruchir de um cineasta francês em busca da “câmera impossível”, e na superficialidade hollywoodiana de A cidade de esperança (City of Joy, 1992), cujas filmagens com Patrick Swayze e um grande elenco são captadas ao lado das reações de habitantes de Calcutá, que não se reconhecem na história. O filme também apresenta outras narrativas possíveis, como em uma cena no qual o videoartista norte-americano Tony Cokes, cuja obra descontrói o racismo latente na mídia de seu país, aparece conduzindo um riquixá e encara o público para declarar que “parece haver uma indústria do medo do outro lado da câmera... Imagens familiares de Calcutá parecem existir para que o espectador ocidental se sinta mais confortável, mais humano e talvez até mais sortudo do que ele realmente é”. E há a vontade melancólica narrada por Ruchir de fazer um filme sobre a cidade com seu mentor Deepak Majumdar, um pesquisador e músico que morreu logo antes do começo do projeto a que estamos assistindo. A Calcutá do filme é uma e muitas cidades, aqui vista por alguém em busca de seu encantamento.
1 O texto Ahmedabad Mutations pode ser encontrado, em inglês, no site da WdW Review. Um outro texto marcante de Ruchir Joshi sobre sua história familiar, Tracing Puppa, pode ser conferido, em inglês, no site da Granta Publications.
PROGRAMAÇÃO
IMS Poços
16/8/2025, sábado, 16h
IMS POÇOS
16/8/2025, sábado
16h - Amedabade, Bombaim, Calcutá
Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos online ou na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.
Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.
Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.
IMS Poços
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Poços e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês. Os preços variam de acordo com o filme ou a mostra.
Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.
Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.
