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AUDIOdescrição

Walter Firmo

no verbo do silêncio a síntese do grito

06 Artista Arthur Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira

Parada 6 - Obra 5: Artista Arthur Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira

Audiodescrição: A fotografia colorida, retangular na horizontal, intitulada Artista Arthur Bispo do Rosário, de 1985, com moldura fina escura, pende do teto, pendurada com cabos de aço. Mede 153 cm de comprimento por 103 cm de altura. Retrata em plano americano (dos joelhos para cima) e de perfil Arthur Bispo no canto direito, de frente para uma parede branca de cobogós, tijolos vazados com aberturas circulares, olhando para fora. Arthur Bispo do Rosário é um homem negro de meia-idade, baixo, com cabelos crespos armados, cavanhaque grisalho, rosto enrugado, olhos pequenos e fundos. Usa uma veste conhecida por Manto da apresentação, uma vestimenta que criou ao longo de décadas. O manto trata-se de um antigo cobertor marrom, todo bordado com frases, algarismos romanos e pequenos desenhos coloridos, contornado por franjas bege e cordões brancos. A claridade do dia entra pelos cobogós, iluminando a figura do Bispo. Sua obra, construída no longo período de sua vida que esteve internado na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, era, segundo Bispo, um inventário do mundo, representado através de objetos, bordados e palavras para apresentar a Deus. Toda uma produção considerada sagrada pelo seu autor, mas que foi reconhecida como arte, nacional e internacionalmente. Arthur Bispo do Rosário é considerado como um dos grandes artistas brasileiros, embora nunca tenha em vida se identificado e se reconhecido como tal.

Ouça agora o depoimento de Walter Firmo sobre esta ob

Eu estava na revista IstoÉ, em 1984, quando o chefe da redação, Aluizio Maranhão, que me tinha como louquinho, né?, isso há muitos anos atrás, disse. "Walter Firmo, tem um trabalho que parece muito com você, que você é meio doidinho, e o homem é um artista, ele realiza... pinta quadros, ele se acha o rei, ele tem uma vestimenta, enfim, de uma pessoa que não é desse planeta, ele junta objetos. Queria que o senhor fosse lá fazer um ensaio com ele." Aí fui, né?, com o José Castelo, repórter. O José só aguentou ficar um dia, ele disse que o cheiro, os gases, né?, as coisas não... Ele não voltou no dia seguinte. Eu voltei. Fui lá no dia seguinte, fiquei dois dias confinado com o Bispo e pude fazer um trabalho de excelência, né?, fotografando o Bispo. O Bispo era uma pessoa, assim, menor do que eu. Eu sou baixo, tenho 1,60 m. Ele era um pouco menor. E ele, tudo o que eu pedia a ele, ele não falava comigo, ele fazia positivamente, né?, com a cabeça que sim. Mas é um... ídolo da minha vida, mudou a minha vida de homem. Faltou fingir que trabalhou em jornais e revistas, porque só eu que fotografei ele, inclusive, não mais ninguém.

O artista visual Arthur Bispo do Rosário destaca-se por ter desenvolvido uma produção artística reconhecida nacional e internacionalmente utilizando objetos do cotidiano e trabalhando na instituição em que viveu internado. Firmo foi o primeiro a registrá-lo de forma extensa e ter seu ensaio fotográfico publicado na grande imprensa (matéria “Quando explode a vida - O desafio criativo do interno Bispo” publicada na revista IstoÈ de 31 de julho de 1985). Ele comenta como este encontro com o artista mudou a sua vida:

“Mas foi uma descoberta conviver com Arthur Bispo do Rosário, porque foi uma grande lição de vida, de louco e de fotógrafo todos nós temos um pouco. E o mundo para mim sempre foi uma grande interrogação. Por quê? (...) me abriu certamente grandes possibilidades para que eu me entendesse como gente também. E essa avaliação posterior foi super legal, essa descoberta, mas também teve aquela coisa ligada à arte, aquilo me comoveu, aquela maneira dele se comunicar com o mundo, no final da vida. Afinal, também sou um comunicador.”

Vamos conhecer a próxima obra: Cantora Dona Ivone Lara Ramos. Peça ajuda a um orientador ao público para deslocar-se até lá. O QR code encontra-se na parede, à direita da obra.