WALTER FIRMO
no verbo do silêncio a síntese do grito
Walter Firmo: desajustar a realidade para reajustar o Brasil
Walter Firmo é um nome de referência na fotografia brasileira. Ao longo de sua trajetória, fotografou tanto o que estava próximo, nas cidades e nas periferias das metrópoles, como chegou às lonjuras deste imenso país, à sua “Amazônia de ninguém”, aos ritos e festividades populares do Nordeste, buscando ancestralidades, construindo retratos, enquadrando paisagens, revelando cotidianos, interpretando o Brasil como poucos o fizeram de forma tão coerente, abnegada e corajosa. Revelou as cores de um país, nessa sua paleta infinita, sempre ciente de que “o Brasil é um desvario de cor”, ao reivindicar, numa brasilidade profunda, o esquecimento do “olho europeu e americano”.
A sua condição de fotógrafo, quantas vezes em missão comissionada, jamais diminuiu o programa rigoroso e emancipatório do artista que subverte as regras do jogo que pratica, exemplificando no seu fazer uma peculiar teoria da fotografia, que soube construir enquanto crítica da noção de realidade e objetividade fotográficas, combatendo qualquer pretensão de uma neutralidade fotográfica num mundo onde tão pouco a neutralidade existe. Em cada fotografia, Firmo convida o espectador à “reflexão imediata sobre a realidade exibida e sobre o próprio ato de fotografar”, consciente de que “o poder do olhar deve influenciar as pessoas porque o ato de fotografar tem que ser político, e não um mero acaso instantâneo”.
O Instituto Moreira Salles guarda e preserva nos seus acervos, em regime de comodato, o extenso arquivo de Walter Firmo, sendo esta exposição um momento relevante para a construção de um ponto de vista sobre esse arquivo, impulsionando a sua divulgação e propondo linhas de leitura e de interpretação. É uma ocasião rara para percorrer o trabalho do fotógrafo, reunindo quase três centenas de imagens, apresentadas inicialmente na sede do IMS em São Paulo.
A exposição, após ter sido apresentada nos CCBBs do Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, e no MAM Bahia, em Salvador, chega agora ao IMS Poços, que reabriu ao público em janeiro deste ano de 2024, após o processo de sua requalificação arquitetônica. Agradecemos a todas e todos que no IMS possibilitaram esta realização, especialmente a Sergio Burgi, Alessandra Coutinho e Janaina Damaceno, pela incansável dedicação a cada nova etapa da mostra.
Exprimimos por fim a nossa incomensurável gratidão a Walter Firmo. Toda a sua vida e todo o seu trabalho são um ensinamento único para aprendermos, através do seu olhar, a desajustar a realidade para reajustar o Brasil. Agradecemos todo o carinho e o imenso entusiasmo com o qual acolheu e acompanhou este projeto, toda a confiança que em nós depositou para a construção deste olhar sobre a sua obra, que esperamos possa ser condigno da admiração com que agora a homenageamos e a divulgamos.
Diretoria do Instituto Moreira Salles