Ernesto Nazareth
Apresentação
Compositor, professor e pianista, considerado um dos maiores expoentes da música brasileira, Ernesto Nazareth é autor de uma obra que, situada num lugar de difícil definição entre a música erudita e a popular, tem importância fundamental para a cultura brasileira dos séculos XIX e XX.
Ernesto Júlio de Nazareth nasceu em 20 de março de 1863, no Rio de Janeiro. Era o segundo dos quatro filhos de Vasco Lourenço da Silva Nazareth, despachante aduaneiro, e Carolina Augusta da Cunha Nazareth, dona de casa e pianista amadora.
Com cerca de três anos, o menino Ernesto começou a demonstrar interesse pelas peças de compositores como Chopin, Beethoven e Arthur Napoleão, que sua mãe executava ao piano, e passou a ter com ela as primeiras noções do instrumento, aprendendo também a solfejar.
Aos seis anos, acompanhou o padrinho Júlio Augusto Pereira da Cunha, pianista amador, chamado para ajudar um amigo na afinação dos pianos que seriam usados por Louis Moreau Gottschalk num grandioso concerto para 31 pianos e duas orquestras. Assim conheceu pessoalmente Gottschalk, compositor norte-americano que é apontado por pesquisadores como uma de suas principais influências.
Quando tinha dez anos, ao cair de uma árvore, sofreu uma forte concussão na cabeça e teve hemorragia nos ouvidos, principalmente no direito. As sequelas desse acidente perduraram por toda a sua vida, levando-o, na velhice, à quase completa surdez. Aos 14 anos, fez sua primeira composição: a polca-lundu Você bem sabe, dedicada ao pai. Com 16 anos, participou do que seria sua primeira apresentação pública, num recital no salão do Clube Mozart.
Aos 20, já era conhecido no Rio de Janeiro como compositor, intérprete e professor de piano. Em 1886, casou-se com Theodora Amália Leal de Meirelles, 11 anos mais velha. Ambos ficariam juntos até a morte dela, em 1929. O casal teve quatro filhos.
Em 1893, Nazareth publicou o primeiro tango brasileiro: Brejeiro, uma das composições mais executadas de todos os tempos na música brasileira. O primeiro concerto de suas obras aconteceu em 1898, no Salão Nobre da Intendência da Guerra, por iniciativa do Clube São Cristóvão.
As gravações em disco no Brasil tiveram início em 1902, com o primeiro registro fonográfico de uma música de Nazareth, feito para a Casa Edison do Rio de Janeiro: Está chumbado, pela Banda do Corpo de Bombeiros, com regência de Anacleto de Medeiros.
O tango Brejeiro foi lançado em disco em 1905 pela Odeon, sob o título Sertanejo enamorado, com letra de Catulo da Paixão Cearense e interpretação de Mário Pinheiro. Também em 1905, foram editados os tangos Escovado e Ferramenta, sendo que, na partitura deste último, logo abaixo do nome do autor, apareceu pela primeira vez o epíteto “Rei do tango”.
Em 1910, costumava se apresentar na sala de espera do cinema Odeon. Muita gente comparecia apenas para ouvi-lo tocar. Odeon acabou sendo o nome de um de seus tangos mais famosos.
Nazareth completou 50 anos em 1913, quando deixou de tocar no cinema. Onze de suas composições foram editadas neste ano, entre elas Ameno Resedá (polca), Atrevido (tango), Batuque (tango característico), Confidências (valsa), Eponina (valsa), Fon-fon! (tango), Reboliço (tango) e Tenebroso(tango). Sua polca Apanhei-te, cavaquinho!…, editada em 1914, obteve sucesso imediato, e suas peçasBrejeiro e Dengoso, publicadas nos Estados Unidos, receberam no país gravações de diversos artistas. Dois anos depois, Apanhei-te, cavaquinho!… foi registrada em disco para a Casa Edison pelo grupo O Passos no Choro e pela Orquestra Odeon.
Atendendo a convite de Eduardo Souto, também compositor e pianista, passou a trabalhar, em 1919, como demonstrador na Casa Carlos Gomes, onde tocava diariamente das 12h às 18h, alcançando grande notoriedade.
Heitor Villa-Lobos dedicou a ele, em 1920, seu Choros n. 1, para violão. Por essa época, já existiam cerca de 60 gravações de suas músicas. Dez composições de sua autoria foram editadas pela Casa Bevilacqua & Cia. em 1921. No ano seguinte –, quando se deu a Semana de Arte Moderna – foi publicado o tango O futurista. E, em 1923, com 60 anos, retribuiu a homenagem feita três anos antes por Villa-Lobos, dedicando ao amigo o estudo de concerto Improviso.
Visitou São Paulo no início de 1926, apresentando-se no Theatro Municipal (onde Mário de Andrade proferiu uma palestra a seu respeito) e no Conservatório Dramático e Musical. Passou ainda por Campinas, Sorocaba e Tatuí. No Rio de Janeiro, sua obra foi tema de conferência proferida pelo musicólogo Andrade Muricy. Nazareth retornou ao Rio somente em março de 1927, com um piano Sanzin (presente do público paulista, hoje pertencente ao acervo do Museu da Imagem e do Som do RJ) e novas composições: os tangos Cruzeiro, Cubanos e Paraíso e a valsa Faceira. Em 1928 e 1929, suas músicas foram gravadas pelos dois maiores cantores populares da época: A voz do amor (adaptação da polca Cuyubinha, com letra de Marina Stella Quirino dos Santos), Favorito e Primorosa, por Francisco Alves, e Êxtase (letra de Frederico Mariath), por Vicente Celestino.
No início de 1929, participou de um festival organizado no Instituto Nacional de Música, onde se apresentaram vários artistas amadores e principiantes, entre eles a jovem Carmen Miranda, com apenas 19 anos. Em 5 de maio, faleceu sua esposa Theodora Amália, aos 77 anos, fato que o deixou bastante abalado. Um mês depois, mudou-se para a rua Jardim Sul América (atual Pires de Almeida), no Cosme Velho. Sua última composição, a valsa Resignação, foi terminada em maio de 1930. Em setembro, gravou ao piano quatro de suas músicas para a Odeon: Apanhei-te, cavaquinho!…, Escovado, Nenê e Turuna, sendo que apenas as duas primeiras foram lançadas em disco. Fez, em março de 1931, duas audições na Rádio Sociedade, com enorme sucesso. Em maio, a Rádio Mayrink Veiga produziu um programa especial sobre ele, com uma hora de duração e com participação do próprio homenageado, que executou 13 obras de sua autoria.
Em janeiro de 1932, em companhia das filhas, partiu de navio para o Rio Grande do Sul, levando sua última partitura editada: o tango brasileiro Gaúcho, em homenagem ao povo rio-grandense. Fez recitais em Porto Alegre, em Rosário do Sul e em Santana do Livramento (onde fez, no dia 26 de fevereiro, sua derradeira apresentação, debruçado ao piano, pois seu problema auditivo quase não o deixava mais escutar o que tocava). No dia 29, chegaram a Montevidéu, capital do Uruguai. Durante um passeio pela cidade, sofreu uma séria crise nervosa. Teve ligeira melhora ao voltar para o Rio, mas, em julho, com a surdez em estado avançado, foi diagnosticado como portador de sífilis e internado no Pavilhão Guinle do Hospício Pedro II, na Praia Vermelha, de onde saiu em janeiro de 1933.
Dois meses depois, a dias de completar 70 anos, deu entrada na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Numa das visitas que Eulina fez ao pai, ouviu dele: “Descobri um caminho para Laranjeiras. Basta que eu siga por ali, que eu chego lá em casa!…”. No ano seguinte, fugiu da colônia.
Ernesto Nazareth morreu entre os dias 1 e 4 de fevereiro de 1934. Seu corpo foi encontrado no dia 4, domingo de Carnaval, nas águas de uma represa pertencente à floresta situada nos fundos do manicômio.
Em 2007, o Instituto Moreira Salles publicou o livro O enigma do homem célebre: ambição e vocação de Ernesto Nazareth, no qual o historiador Cacá Machado faz um estudo profundo da obra e da vida do compositor e pianista, estabelecendo uma relação com o conto O homem célebre, de Machado de Assis. Em 20 de março de 2012, exatamente no dia dos 149 anos do compositor, o Instituto Moreira Salles deu a partida para as comemorações do seu sesquicentenário de nascimento, com a inauguração, na internet, da página ernestonazareth150anos.com.br. O lançamento foi marcado por um recital apresentado no mesmo dia no auditório do IMS, do qual fizeram parte os músicos Alexandre Dias (piano), Marcelo Bernardes (flauta), Marcílio Lopes (bandolim), Luciana Rabello (cavaquinho), Maurício Carrilho (violão) e Paulo Aragão (violão).
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