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Eco chega ao IMS Paulista

31 DE JANEIRO DE 2019 |

Da imensidão desértica do Catar a um vale verdejante na Nova Zelândia, das movimentadas ruas de Nova York e Londres a grandes museus e galerias, as esculturas de Richard Serra impressionam pela escala monumental em contraste com a surpreendente leveza extraída da pesada matéria-prima, o aço. O IMS Paulista integrou-se a este circuito ao receber em seu terreno a Eco, obra criada pelo artista americano, um dos principais nomes da arte contemporânea mundial.

O trabalho, composto por duas placas de aço de 18,6m de altura, cada uma pesando 70,5 toneladas, é o primeiro de Serra aberto à visitação pública permanente na América Latina. A instalação da obra ainda não está finalizada em sua base no terreno de fundos do IMS Paulista, mas quem visita o centro cultural já pode apreciar de perto a beleza grandiosa da Eco, seja a partir do espaço ao lado do Café Balaio nos fundos da Praça IMS, ou por quem passa pela rua Bela Cintra. A inauguração oficial acontece em fins de fevereiro.

A obra ainda não está totalmente finalizada, mas quem visita o IMS Paulista já pode apreciar de perto a beleza grandiosa da escultura de aço Eco, criada pelo americano Richard Serra, um dos principais nomes da arte contemporânea. A inauguração oficial acontece em fins de fevereiro. Foto de Maria Clara Villas

Nascido em São Francisco, nos Estados Unidos, em 1938, Serra começou a desenhar antes de fazer esculturas e, embora siga com os desenhos, seu nome é imediatamente relacionado a grandes peças tridimensionais. Como outras obras site-specific do artista, Eco foi projetada especialmente para o IMS Paulista e se erguerá no jardim externo dos fundos do centro cultural, cujo projeto arquitetônico já conquistou prêmios desde sua inauguração, em 2017. Todo o processo de instalação da escultura (que envolve o trabalho de mais de 60 profissionais, entre técnicos e engenheiros), do desembarque no Porto de Santos até a chegada ao IMS, tem acompanhamento do fotógrafo Cristiano Mascaro, que há cinco anos registra, a convite de Serra, algumas obras do artista pelo mundo.

“Acho que o que define bem o trabalho de Serra é que ele tirou a escultura do pedestal. O que ele faz é uma intervenção espacial”, comenta Mascaro, nome consagrado na fotografia brasileira, que já havia documentado o período de montagem e a exposição Richard Serra: desenhos na casa da Gávea, apresentada no IMS Rio em 2014. Em março, Mascaro apresentará alguns dos registros das obras do escultor numa retrospectiva intitulada Ao que os olhos alcançam, no Sesc Pinheiros. “Aprendi muito trabalhando com um grande artista. O que mais se assemelha ao que eu fotografei dele são obras de arquitetura. Apesar das dimensões, ele não faz peças para o público recuar e olhar. É para ficar com o nariz grudado nelas”.

Richard Serra, 2014. Foto de Cristiano Mascaro

Não há quem fique indiferente às curvas desorientadoras das Torqued Ellipses à mostra no Museum of Modern Art (MoMa) e no Dia Center For the Arts, ambos em Nova York, ou ao conjunto de oito obras The Matter of Time, no Museu Guggenheim de Bilbao. À beleza de Te Tuhirangi Contour, uma lâmina de aço de 260 metros instalada na Gibbs Farm, Nova Zelândia, que lembra uma longilínea e ondulada serpente cortando o terreno. Ou ainda à East-West/West-East, série de imponentes placas de aço que, em 2014, se integraram à natureza inóspita da Reserva Natural de Brouq, no Catar – país que abriga outra instalação pública de Serra, a escultura 7, localizada ao lado do Museu de Arte Islâmica em Doha.

“É um conjunto muito impressionante. Dentro da brutalidade, digamos assim, do tamanho da obra, existe um raciocínio de uma sutileza incrível”, observa Mascaro, que foi a Brouq fotografar o conjunto. “As placas estão colocadas a uma distância perfeitamente calculada que, olhando de longe, lembram uma caravana”. Tanto East-West/West-East quanto Promenade, exibida no Grand Palais, em Paris, em 2008, guardam, segundo Serra, uma relação estrutural com a escultura do IMS Paulista.

O artista trabalha com o aço como matéria-prima desde a década de 1970. O peso, a resistência e o caráter permanente do material foram fundamentais para a escolha. Como escreveu em 1988 para o catálogo de uma exposição na Holanda:

o peso é um valor para mim. Não que ele seja mais expressivo que a leveza, mas simplesmente eu sei mais sobre o peso do que sobre a leveza e tenho, portanto, mais a dizer sobre ele (...)

Ainda neste texto, reunido em Richard Serra - Escritos e entrevistas 1967-2013, organizado por Heloisa Espada, curadora da mostra do artista no IMS Rio, ele relembra o acontecimento que marcaria as reflexões em torno das questões estruturais de sua obra. Em 1943, no seu aniversário de quatro anos, foi levado pelo pai para acompanhar a inauguração de um cargueiro. O momento em que a embarcação se vê livre das amarras e desliza suavemente para a água é descrito por ele quase como uma epifania:

O navio havia passado por uma transformação: de um enorme peso morto para uma estrutura brilhante, livre, flutuante e à deriva. O espanto e a admiração que eu senti naquele momento permaneceram. Toda a matéria-prima de que eu necessitava está contida no reservatório dessa lembrança, que se tornou um sonho recorrente.

Desde 1970, quando Serra fez sua primeira exposição individual, no Pasadena Art Museum, Califórnia, suas esculturas já foram apresentadas em duas grandes retrospectivas no MoMa (em 1986 e 2007), e em dezenas de mostras individuais pelo mundo, do Museu Stedelijk em Amsterdã ao Reina Sofia, em Madri; do Dia Center em Nova York ao Centre Pompidou, em Paris. Em 1997-1998, ele criou para o Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, a série Rio Rounds, com dez círculos negros pintados nas paredes do lugar – três deles foram incorporados ao acervo permanente do centro.  Além das mostras individuais, Serra acumula passagens e prêmios em diversas edições de eventos importantes como a Documenta de Kassel e a Bienal de Veneza, assim como condecorações internacionais.

Com obras espalhadas por importantes museus e galerias, o artista também tem esculturas permanentes no acervo de instituições de ensino americanas, como Stacks (1990), na Universidade de Yale; The Hedgehog and the Fox (2000), na Universidade de Princeton; Sequence (2006), na Universidade de Stanford; T.E. UCLA (2006), na Universidade da Califórnia; e Ballast (2005), na Universidade de São Francisco, Califórnia (UCSF).


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