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Harun Farocki: quem é responsável?


Mais sobre a exposição no IMS Paulista

Após passar pelo IMS Rio, a mostra Harun Farocki: quem é responsável? chega ao IMS Paulista. As sete obras que compõem a exposição – entre filmes e videoinstalações – são distintas das exibidas no Rio de Janeiro. A seleção é de Antje Ehmann, curadora do espólio Harun Farocki, em Berlim, e Heloisa Espada, coordenadora de Artes Visuais do IMS.

Somadas, as duas exposições constituem a maior exibição de videoinstalações do artista alemão Harun Farocki (1944-2014) já apresentada no Brasil. Enquanto as obras no Rio de Janeiro tratavam do papel das imagens em sistemas de observação e controle, as de São Paulo investigam o mundo do trabalho a partir de situações que vão do século XVI ao cenário contemporâneo. Farocki reflete sobre como os meios de produção e as tecnologias delineiam relações pessoais e a organização social, além de abordar diferentes estratégias de exploração e alienação do trabalhador.

Um dos destaques da mostra é a videoinstalação A saída dos operários da fábrica em 11 décadas (2006). Composta por 12 televisores, a obra reúne cenas de inúmeros filmes, produzidos de 1890 aos anos 2000. O ponto de partida é um dos primeiros registros do cinema: um filme dos irmãos Lumière, de 1895, que mostra um grupo de funcionários saindo apressados de uma fábrica de produtos fotográficos, de propriedade dos próprios Lumière. A partir desse marco inaugural do cinema, Farocki apresenta um compilado de outras cenas que retratam a mesma situação, incluindo produções de diretores como Fritz Lang, Charles Chaplin e Lars Von Trier. O artista reflete sobre a representação dos operários ao longo da história do cinema, abordando o papel político das imagens.

O tema do trabalho esteve no centro das preocupações de Farocki até seus últimos anos de vida, quando o artista se dedicou às obras Trabalhadores deixando seu local de trabalho (2011-2014) e Plano-sequência sobre trabalho (2011-atual), realizadas em parceria com Antje Ehmann. Ambas foram produzidas a partir de uma série de workshops ministrados pelos artistas em 15 cidades, de cinco continentes, com a colaboração de cerca de 300 pessoas.

Em Trabalhadores deixando seu local de trabalho (2011-2014), as imagens contemporâneas mostram uma diversidade de espaços, ao contrário das cenas dos irmãos Lumière, em que o universo da fábrica é central. Ao reunir imagens de locais como escritórios ou as ruas das grandes cidades, a obra reflete as transformações do sistema econômico. Já Plano-sequência sobre trabalho (2014-atual) apresenta cenas de sujeitos executando as mais diversas atividades, formais ou informais, remuneradas ou não, em diferentes cidades do globo. Segundo Heloisa Espada, “as obras revelam um extremo respeito por todos os meios de sobrevivência e, ao mesmo tempo, denunciam a dimensão absurda dos gestos repetidos e da exploração do trabalho em diferentes lugares do mundo”.

Os efeitos dos modos de produção na organização social são retratados em Termos de comparação (2007), que mostra a confecção de tijolos em Burkina Faso, Índia, França e Alemanha. Sobre a obra, Farocki comenta: “Eu queria pensar em um filme que contribuísse para o entendimento do conceito de trabalho. Que comparasse o trabalho em uma sociedade tradicional, como a africana, com uma sociedade industrializada recentemente, como a Índia, e uma sociedade muito industrializada, como a Europa.” A videoinstalação contrapõe a produção manual, comunitária e coletiva de tijolos aos processos de escala industrial, que envolvem alta tecnologia e em que as relações interpessoais estão excluídas.

A mostra exibe ainda a videoinstalação A prata e a cruz (2010), na qual o artista analisa a pintura “El Cerro Rico y la Villa Imperial”, de Gaspar Miguel des Berrío, realizada em 1758. A tela representa a montanha de Cerro Rico, na cidade de Potosí, na Bolívia. Nos séculos XVI e XVII, Potosí pertencia ao Alto Peru. A montanha, então rica em prata, foi intensivamente explorada pela metrópole espanhola. O artista contrapõe as imagens do quadro com cenas contemporâneas da cidade, abordando as consequências devastadoras do genocídio indígena e da exploração do minério.

A mostra Harun Farocki: quem é responsável? conta com uma extensa programação paralela, composta por projeções de filmes e encontros sobre temas relacionados à exposição. 

Durante o período expositivo, o cinema do IMS exibirá gratuitamente três filmes de Farocki: Sauerbruch Hutton Arquitetos (2013), A saída dos operários da fábrica (1995) e Natureza-morta (1997). Os títulos serão projetados às sextas e aos sábados, de forma alternada. A programação completa pode ser conferida no site do IMS.


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