Luciano Carneiro
Cronologia
Luciano Carneiro era um repórter nato. Além de registar momentos marcantes do século XX, documentou a vida cotidiana no Japão e na União Soviética, acompanhou movimentos sociais e estudantis no Brasil e lançou seu olhar sobre fatos que não cabiam em grandes reportagens. Na seção "Do arquivo de um correspondente estrangeiro", na Cruzeiro, em que produzia fotos e textos, entrevistou Cartier-Bresson, clicou as estrelas de Cannes, contou a experiência na coroação de Elizabeth II. Na estreia, em 11 de fevereiro de 1956, escreveu: "A vida é tão rica de sugestões, há tanta poesia perdida até no meio da rua, que basta a gente manter os olhos abertos, e a máquina pronta, para selecionar as imagens que tenham significação, e assim interpretar a vida. Eis a fórmula. O resultado, este depende da sensibilidade e da experiência do homem que fica por trás das lentes.”
1926: José Luciano da Mota Carneiro nasce em Fortaleza, em 9 de outubro.
1942 a 1946: Aos 16 anos, inicia sua carreira, trabalhando no Correio do Ceará, como revisor-auxiliar sem remuneração. Poucos meses depois, tem acesso à redação, onde exerce todas as funções. Posteriormente entra na Ceará Rádio Clube pelas mãos do poeta, compositor e cronista Antônio Maria (1921-1964). Tira o brevê de piloto de aviação civil. Também, nesse período, ingressa na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Troca um terreno que havia comprado à prestação por uma máquina fotográfica Rolleiflex.
1948: Começa a trabalhar na revista O Cruzeiro. Sua primeira reportagem para a revista, com texto de sua autoria e fotos de Antônio Albuquerque, é "Jerônimo vai ao Rio", publicada em 15 de maio. Contava a jornada do pescador cearense Jerônimo de Albuquerque que, em 1941, viajou de jangada da Praia de Iracema, em Fortaleza, até o Rio de Janeiro.
Em 12 de julho, é personagem, no Cruzeiro, da reportagem "O encontro das gerações", com texto de Ibiapaba de Oliveira Martins e fotos de Norberto Esteves. A matéria falava da realização, em Poços de Caldas, Minas Gerais, da Segunda Convenção dos Aviadores Civis, quando quatro gerações de aviadores se encontraram. Foi fotografado junto com o português Gago Coutinho (1869-1959), pioneiro da aviação; com Assis Chateaubriand (1892-1968), todo-poderoso dos Diários Associados; e com o piloto Luciano Magalhães.
1949: O Correio do Ceará publica em 5 de março a reportagem "A praia do futuro", de sua autoria. O título acabaria dando nome à então longínqua e deserta praia de Fortaleza. Nesse mesmo ano, em 1º de outubro, seu nome passa a constar no expediente da revista O Cruzeiro como integrante da equipe de reportagem. Sua primeira matéria na revista A Cigarra, intitulada Goiânia, a princesa do planalto, com texto de José Leal e fotos de sua autoria, foi publicada em dezembro de 1949.
1950: Em 21 de outubro, O Cruzeiro publica a primeira matéria de sua autoria, texto e fotos, com chamada na capa: "Correu sangue em Alagoas".
Tira brevê de paraquedista para poder realizar a reportagem "Saltei de pára-quedas", publicada em O Cruzeiro, 2 de dezembro de 1950.
1951: Embarca para a Coreia, onde realiza diversas reportagens como correspondente de guerra de O Cruzeiro. O primeiro trabalho desse período é "Operação Tomahawk", quando Luciano foi um dos quatro correspondentes de guerra que saltou de paraquedas ao lado do exército americano sobre as linhas inimigas na Coreia do Norte (O Cruzeiro, 28 de abril). Os outros foram John “Jack” Burby , da United Press; Robert “Bob” Lasher, da Voice of America; e Claude de Chabalier, da Agence France-Press.
1952: Encontra-se com o repórter David Nasser (1017-1980) e juntos produzem reportagens no México e nos Estados Unidos. Foi autor de outras matérias nos Estados Unidos, dentre elas uma sobre a atriz e cantora Carmen Miranda (1909-955), que na época estava em Hollywood.
Em 1952, vai ainda a Pistoia, na Itália, fazer a cobertura da viagem, patrocinada pela O Cruzeiro, da mãe do pracinha Aurélio Venâncio de Oliveira, da Força Expedicionária Brasileira – FEB. A reportagem, "Flores do Brasil nos túmulos de Pistoia", é publicada em 22 de novembro.
Produz ainda, no exterior, duas matérias: em Krasic, pequena aldeia da Iugoslávia, encontra o arcebispo de Zagreb, Aloisio Stepinac (1898-1960), que acabara de ser elevado a cardeal pelo Papa Pio XII (1876-1958): "O repórter de O Cruzeiro foi o primeiro a anunciar em Krasic: 'Monsenhor Stepinac, agora sois cardeal'" (O Cruzeiro, 20 de dezembro). Stepinac havia sido acusado de traição pelo governo de seu país e estava, na época, exilado em sua cidade natal. Em Belgrado, Luciano entrevistou com exclusividade o marechal Josip Broz Tito (1892-1980), futuro presidente da Iugoslávia ("O homem forte da Iugoslávia – Tito 'com a palavra'", O Cruzeiro, 27 de dezembro).
1953: Realiza diversas reportagens, dentre elas sobre o Padre Pio ??? X e sobre o Festival de Cinema de Cannes. Faz a cobertura da coroação da Rainha Elizabeth II (1926-).
Uma das fotos publicadas na matéria "Os conselhos de Antônio Conselheiro", parte da série de reportagens de Luciano Carneiro sobre o cangaço, foi considerada a melhor do ano.
Esteve como correspondente de O Cruzeiro na Itália, na França e na Inglaterra.
1954: Viajou para o Egito como enviado especial de O Cruzeiro, e por intermédio de Maria Carmem Pascal, mulher do ministro Antonio di Pasca, chefe da legação do Uruguai no Cairo, consegue fazer uma reportagem com o presidente do Egito, o general Mohammed Naguib (1901-1994): "Pouco antes de ser deposto disse Nagib a O Cruzeiro: 'O coronel Gamal Nasser é um velho amigo'", publicada em 8 de maio. Foi também o fotógrafo da matéria "No país dos faraós", com texto de Odorico Tavares (O Cruzeiro, 5 de junho).
Integra a equipe de O Cruzeiro que fez a cobertura da Copa do Mundo, na Suíça. Os outros repórteres foram Luiz Carlos Barreto (1928- ) e Indalécio Wanderley (1926-2001), sob o comando de David Nasser (1917-1980).
Esteve como correspondente de O Cruzeiro na Alemanha, no Egito, na Holanda, na Suíça, na França, na Itália e na Tchecoslováquia.
1955: Como correspondente de O Cruzeiro, entrevistou em Lambaréné, no Gabão, o filósofo e médico alemão Albert Schweitzer (1875-1965). No mesmo ano ainda viaja, como correspondente da revista, para a França, a Bélgica, a Alemanha e a Itália.
Foi um dos paraquedistas citados e fotografados para a reportagem "Eles saltam cantando", de Armando Nogueira, publicada em 29 de outubro na revista Manchete.
1956: Na revista Manchete de 14 de janeiro, Luciano conta a sua tentativa de entrevistar o imperador do Japão, Hirohito (1901-1989). Só conseguiu ser apresentado ao cavalo branco do monarca.
Início da publicação da coluna "Do arquivo de um correspondente estrangeiro” que, segundo Luciano, se comporia de "quadros singelos": "Em cinco anos de viagem pelo mundo colhi muito material no gênero, que não pode figurar em minha colaboração mensal para a revista”, explicou.
A edição de O Cruzeiro de 26 de maio publica a matéria "Um repórter brasileiro nas página de Camera", transcrevendo reportagem sobre Luciano Carneiro na revista suíça Camera, identificada como a mais importante publicação sobre fotografia da Europa.
No Egito, produz a reportagem "O Egito de Nasser" (O Cruzeiro, 29 de setembro).
Esteve como correspondente de O Cruzeiro no Egito, no Paraguai e no Uruguai.
1957: Na reportagem "O Cruzeiro traz o mundo ao seu lar", publicada em 5 de janeiro, é apontado como um dos 30 globe-trotters de O Cruzeiro em 1956.
Casa-se em Petrópolis, em 19 de maio, com Maria da Glória Stroebel (1933 - ).
O Cruzeiro publica, em 30 de novembro, a reportagem "Na era do Sputnik que abre o ano I do universo, a Lua não é mais dos namorados". O material é condensado por Armando Nogueira a partir das correspondências de Luciano.
Esteve como correspondente de O Cruzeiro nos Estados Unidos, na França, na União Soviética, na Itália e na Inglaterra.
1958: Em 12 de fevereiro, nasce Tatiana, sua primeira filha com Maria da Glória.
Esteve como correspondente de O Cruzeiro na Suécia e na União Soviética.
1959: Esteve como correspondente de O Cruzeiro em Cuba, onde fez a cobertura da Revolução Cubana, registrando a chegada de Fidel Castro a Havana.
Fotografa o marechal Henrique Teixeira Lott (1894-1984) em sua casa. A imagem ilustra a entrevista "Lott aceita", feita por Carlos Castelo Branco (1920-1993) e publicada em O Cruzeiro no dia 6 de junho.
É um dos 14 fotógrafos no livro Brazil: portrait of a great country, editado por Stefan Geyerhahn com texto de Ellen Bromfield Geld. Luciano Carneiro figura ao lado de Francisco Albuquerque, Claudia Andujar, Alice Brill, Hans Mann e Peter Scheier, entre outros.
Morre em 22 de dezembro, aos 33 anos, em um acidente de avião quando voltava de Brasília, onde havia ido fotografar o primeiro baile de debutantes da nova capital. Luciano saíra de Brasília em um Convais da Cruzeiro do Sul, mas na escala do voo, em São Paulo, encontrou Helder Martins, ex-repórter da Cruzeiro, que acabara de chegar à cidade em um novíssimo Viscount da Vasp. Apaixonado por aviação, ele trocou o voo para conhecer o novo modelo. No mesmo acidente, faleceu Benjamin Soares Cabello (? – 1959), colaborador da Cruzeiro.
1960: A revista O Cruzeiro publica, em sua edição de 16 de janeiro de 1960, o material do último trabalho de Luciano, depois que os rolos de filmes foram recuperados do desastre do avião. São imagens do baile de debutantes de Brasília, chamuscadas pelo fogo.
Em 3 de fevereiro, no andar térreo do Hotel Serrador, no Rio de Janeiro, é inaugurada exposição de fotos de sua autoria, com 20 imagens que haviam sido escolhidas por Luciano, 20 por seus colegas de O Cruzeiro e outras publicadas em uma reportagem especial da revista suíça Camera em homenagem a ele. A exposição seguiu para Fortaleza, Recife, Salvador e Porto Alegre. Em junho, foi inaugurada no Museu de Arte de São Paulo.
Em 29 de fevereiro, nasce seu filho Luciano Carneiro Filho.
1963: Os cinejornais do Canal 100, produzidos por Carlos Niemeyer, ganham o Prêmio Luciano Carneiro, destinado ao melhor conjunto de filmes de atualidade produzidos na Guanabara.
2012: Fotografias de Luciano Carneiro integram a exposição As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro (1940-1960), inaugurada no IMS Rio em 11 de julho. Em 23 de novembro, a mostra chega ao IMS Paulista.
O Instituto Moreira Salles adquire da família de Luciano Carneiro seu acervo fotográfico, composto de 136 cópias ampliadas de fotografias.
2016: Realização, no Instituto Moreira Salles de São Paulo, da exposição Do arquivo de um correspondente estrangeiro: fotografias de Luciano Carneiro.
2018: Realização da exposição Luciano Carneiro: O olho e o mundo, no Museu da Cultura Cearense, localizado no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). A exposição foi fruto da parceria entre o Instituto Dragão do Mar (IDM) e o Instituto Moreira Salles (IMS).
2020: Lançamento, em outubro, do livro Luciano Carneiro – Fotojornalismo e reportagem (1942-1959), organizado por Sérgio Burgi. A edição da obra é uma parceria da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), Fundação Demócrito Rocha (FDR) e Instituto Moreira Salles.
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