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Instantâneas: a música em foto

25 de junho DE 2021
Com chat ao vivo a partir das 21h do sábado (3/7), o YouTube do IMS exibe em vídeo pré-gravado o espetáculo audiovisual Metamorfoses, com Filipe Catto e participações especiais de Alma Negrot, Ciro Barcelos e Maria Alcina. Inspirado na exposição de Madalena Schwartz em cartaz no IMS Paulista, a performance musical abre a série Instantâneas: a música em foto, idealizada pelo curador Juliano Gentile (leia texto abaixo) com espetáculos originais unindo duas áreas de excelência no acervo do Instituto: música e fotografia.

O vídeo Metamorfoses, dirigido por Iago Mati, será exibido simultaneamente no Facebook do evento Paulista Cultural, e ficará permanentemente acessível na página da exposição Madalena Schwartz: As metamorfoses - Travestis e transformistas na SP dos anos 70.

Foto de Iago Mati

Espetáculo audiovisual abre série

Juliano Gentile

A série Instantâneas: a música em foto nasce a partir de duas situações colocadas em momentos distintos. De um lado, a impossibilidade de shows ao vivo, com público, trazida pela pandemia; de outro, o olhar do Instituto Moreira Salles para a memória cultural brasileira por meio da extroversão de seus acervos nas diversas áreas em que atua. A primeira deixava em aberto a questão sobre como manter uma programação musical nesse novo contexto, a segunda permanecia como um convite à pesquisa e à interdisciplinaridade. Instantâneas surge dessa confluência, unindo duas áreas caras ao IMS, a música e a fotografia, a partir da criação de espetáculos originais que revisitam o acervo do Instituto.

A série estreia com Metamorfoses, espetáculo audiovisual inspirado na exposição Madalena Schwartz: As metamorfoses - Travestis e transformistas na SP dos anos 70, em cartaz no IMS Paulista com curadoria de Gonzalo Aguilar e Samuel Titan Jr. Metamorfoses é um vídeo pré-gravado, dirigido por Iago Mati, e que parte da internet como contexto, não só como meio, de modo a instigar possíveis formatos no saturado ambiente online. Daí optarmos por não fazer uma live e utilizarmos recursos proporcionados pela edição, sem a intenção de simular um show ao vivo, presencial. Não por acaso o resultado é um vídeo (veja abaixo o making of das gravações), uma metamorfose da fotografia. É como um álbum audiovisual, cuja narrativa é uma sequência de músicas interpretadas e performadas por Filipe Catto, que abraçou desde o início a proposta de construir um espetáculo a partir da exposição, e com quem tive o prazer de compartilhar a direção artística.

Somam-se a ela as participações muito especiais da performer Alma Negrot, residente da festa Mamba Negra; do ator e coreógrafo Ciro Barcelos, expoente do Dzi Croquettes, em destaque na mostra; e da androginia carnavalesca da cantora Maria Alcina, também fotografada por Madalena. No repertório, uma ponte entre diferentes gerações atualiza e costura transgressões e lutas. Do desbunde de Secos & Molhados, Gal, Caetano e Novos Baianos, ao questionamento de gênero de Pabllo Vittar e Johnny Hooker, passando pelas bandas Gang 90 & Absurdettes, Almôndegas, o duo NoPorn, além dos internacionais António Variações, David Bowie e Lou Reed (este na versão de Claudia Wonder). Marcam presença “Dois pra lá, dois pra cá”, bolero de João Bosco e Aldir Blanc, um clássico nas apresentações do Dzi Croquettes, e ainda um pot-pourri com marchinhas de carnaval, momento em que o travestismo era permitido, desejado, e confinado. É também da saída desse confinamento de que trata o espetáculo. Como diz Gonzalo Aguilar, a fotografia de Madalena Schwartz oferecia um lugar para se viver.

A cenografia, a iluminação e as projeções foram pensadas a partir de materiais translúcidos, permitindo o deslocamento e a sobreposição de retratos junto às artistas, sem transformar a foto em um pano de fundo para a performance musical, e vice-versa. Ainda que as fotos sejam projetadas em uma cenografia, a foto em si não é o cenário. Quando ela está projetada, é para tornar o cenário vivo, performando com as artistas, que por vezes assumem elas mesmas o papel fotográfico, fixando-se em retratos. A escolha pela gravação em diferentes espaços do prédio do IMS Paulista – a praça, o camarim, as escadas, o cineteatro, o mirante, o prédio vizinho – acabou por transformar a arquitetura em uma outra personagem.

Mesmo contando com os infinitos recursos da edição, Metamorfoses foi gravado em poucas tacadas, já que as condições impostas pela pandemia limitaram a equipe e o tempo necessários. Nesse sentido, o primeiro espetáculo da série Instantâneas retoma algo da experiência ao vivo, enquanto momento único, mas sobreposto por outras camadas, com destaque para as imagens captadas por Madalena Schwartz.

Metamorfoses é, por fim, um trabalho essencialmente coletivo, feito de múltiplas contribuições em torno do tema e do formato, de pessoas dispostas a colocar esses instantes em movimento.

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Juliano Gentile é músico e curador de Música do IMS Paulista.