A Bolsa IMS de Pesquisa em Fotografia acaba de anunciar os projetos vencedores de sua quarta edição, que tem como tema A Amazônia por Albert Frisch.
O vencedor do Eixo Temático 1, destinado exclusivamente a pesquisadores autodeclarados indígenas, é De dentro para fora: produções etnográficas de Albert Frisch sob a ótica indígena Mura e Miranha, de Jé Hãmãgãy (Jéssica Tôrres de Oliveira), de Lagoa Santa (MG). Já o projeto vencedor do Eixo Temático 2, destinado a pesquisadores em geral, inclusive indígenas, é Gravuras Teóricas: observações e vertigens gráficas acerca de um acervo fotográfico histórico baseado nos Povos Indígenas, de Kunhã Jeguakai Guarani (Bruna Lopes Silva), de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Os projetos foram selecionados por uma comissão formada por Marcia Mura (Márcia Maciel), historiadora, escritora e ativista indígena; João Paulo Tukano (João Paulo Lima Barreto), antropólogo, ativista indígena e professor na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e idealizador e cofundador do Centro de Medicina Indígena da Amazônia; Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS; e Ileana Pradilla Ceron, responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia do IMS.
Houve apenas dois inscritos para o Eixo Temático 1 – Amazônia de dentro. Leitura indígena sobre o conjunto de fotografias editadas no álbum [Résultat d´une Expédition Photographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro]. Já para o Eixo Temático 2 – Amazônia por Frisch e seus contextos, nas coleções do IMS – foram 24 os projetos inscritos, sendo que três candidaturas eram de indígenas.
Jé Hãmãgãy (Jéssica Tôrres de Oliveira) é indígena da etnia Tikmu'un (Maxakali) e museóloga formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, com pesquisas focadas na Museologia Social. Artista independente que aborda em seus trabalhos maternidade, cultura, sonhos, memória e pautas da luta indígena. Membro do Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas. O projeto apresentado à Bolsa vai focar nas perspectivas de representantes dos povos do território do Rio Madeira que foram fotografados por Albert Frisch, em específico os Mura e Miranha. Estes povos passaram por processos de perseguição, integração na sociedade nacional através de trabalho forçado e proibição de manifestar sua cultura e que agora passam por um caminho próprio de etnogênese. O projeto tenciona produzir uma leitura crítica dessas imagens pelo olhar desses povos e dos processos únicos que perpassam sua existência.
Kunhã Jeguakai Arandū (Bruna Lopes Silva) é indígena Guarani Nhandeva, artista multimídia, pesquisadora e arte-educadora, produtora cultural e ativista. Bacharela em Artes Visuais com a monografia “akiteoppolítika: a (des) construção estétika do discurso” na Universidade Federal de Pelotas (UFPel, 2018), e Mestranda em Antropologia na linha Ritual, Representações e Identidades na Universidade Federal Fluminense (UFF, 2021). É ainda cofundadora da coletiva interétnica de mulheres Artivismo Indígena. Seu projeto propõe analisar do ponto de vista indígena, semiótico e antropológico o acervo fotográfico de Christoph Albert Frisch e os desenhos de Franz Keller, no IMS, e produzir a partir deles “Gravuras Teóricas”, releituras de texto e imagem – tanto texto na imagem quanto texto sobre as imagens - para que possamos ampliar o paradigma representativo que há muito já não cabe na lógica da tutela, e assim instituir uma visão crítica concisa e científica sobre a identidade nacional brasileira. O trabalho tem por objetivo oferecer contribuição ética Guarani Nhandeva para uma terra com menos males, e para uma renovação ética do tratamento material e patrimonialista no Brasil contemporâneo.