Bolsa IMS de Pesquisa
Edição 2025
Gramáticas femininas
Fotografia e imaginação - Lily Sverner
Arte e política - Hilde Weber
Inscrição: 25 de março a 8 de junho de 2025.
A seleção ocorrerá em junho de 2025 e o resultado será divulgado em julho de 2025.















Gramáticas femininas
Apesar da grande presença de mulheres e de sua relevância nas artes visuais no Brasil, desde o início do século XX, a representatividade feminina nas coleções do IMS e nos programas de pesquisa e projetos de difusão de seus acervos ainda é bastante desigual. Com o objetivo de dar maior visibilidade às produções de autoras presentes nos acervos do IMS e, sobretudo, para incentivar a elaboração de visões críticas que, mais do que incluir as mulheres em narrativas historiográficas existentes, busquem elaborar outras perspectivas a partir das singularidades das visadas das diversas autoras, a sexta edição da Bolsa IMS de Pesquisa propõe o estudo de Gramáticas femininas, a partir de dois eixos temáticos: Fotografia e imaginação, sobre o trabalho da fotógrafa Lily Sverner (Antuérpia, 1934-São Paulo, 2016) e Arte e política, sobre a obra da artista visual, mais conhecida por sua obra como ilustradora e chargista, Hilde Weber (Waldau, 1913-São Paulo, 1994), cujos acervos abrangendo quase a totalidade de sua produção, encontram-se no IMS.
A alemã Hilde e a belga Lily construíram sua obra no Brasil. Hilde não era judia e migrou sozinha, aos 19 anos, em busca de seu pai, já residente no país desde os anos 1920. Lily, de família judaica, aos sete anos, acompanhou o exílio de seu grupo familiar, que abrangia além de seus pais e irmã, outros tios e primos, buscando refúgio do nazismo.
Não obstante na formação de suas sensibilidades estejam presentes as raízes culturais das autoras, serão estimulados projetos que busquem tanto indagar a singularidade das gramáticas artísticas que Hilde e Lily produziram, em diálogo com contextos culturais e sociais específicos, assim como interrogar a pertinência de sua produção para nosso presente.
Serão bem vindas ainda propostas de pesquisa que tenham como propósito a construção de interpretações sobre a obra das autoras, levando em conta a representação do feminino, evidente no grande interesse de Lily Sverner em fotografar universos de mulheres, crianças, jovens e idosas, assim como a perspectiva de Hilde Weber sobre o mundo da política e a esfera pública brasileira, e suas figurações do feminino, nesses espaços tradicionalmente considerados “masculinos”.
Dada a amplidão dos acervos, em quantidade e possibilidades de abordagem, é recomendada a delimitação de recortes conceituais e/ou temáticos nas propostas que serão apresentadas.
Lily Sverner (Bélgica, 1934-São Paulo, 2016) é originária de uma família judia que imigrou para o Brasil em 1941 fugindo do nazismo. Viveu inicialmente no Rio de Janeiro, e fixou residência em São Paulo por ocasião de seu casamento com Isaac Sverner, em 1954.
Por um bom tempo, Lily dedicou-se à família e a acompanhar os negócios e viagens de seu marido, industrial fundador da conhecida CCE, fabricante de equipamentos eletro-eletrônicos. Depois de criar seus quatro filhos, nos anos 1970, como aconteceu com várias mulheres de sua geração, encontrou na fotografia um campo para o desenvolvimento de uma linguagem própria, mas também descobriu nela o gosto por colecionar. Tornou-se fotógrafa e, simultaneamente, colecionadora de fotografia. Essas duas pulsões: a expressão artística e o mecenato, estiveram presentes na vida de Lily desde então.
Após sua separação, manteve o sobrenome Sverner, e casou-se, em 1983, com o professor Isaac Epstein, intelectual estudioso das teorias da comunicação, com o qual construiu o Centro Mandala de Estudos e Bem-estar em Itatiba, interior paulista, local onde reunia, entre outros, intelectuais, monges, fotógrafos, antropólogos e indígenas, para pensar o mundo desde várias perspectivas, além de promover exposições, oficinas e buscar harmonia com o meio ambiente.
Fotografou sua família, suas inúmeras viagens, nacionais e internacionais e, desenvolveu alguns projetos mais longos, que configuraram ensaios fotográficos, alguns divulgados pela própria autora em exposições ou publicações.
Embora em seu arquivo as fotografias mais antigas datem de 1974, boa parte de sua obra foi desenvolvida nos anos 1980, 1990 e 2000. O conjunto mais difundido talvez seja o ensaio Nomes, formado por fotografias realizadas em dois asilos, em São Paulo e em Itatiba, retratando os idosos residentes. As 472 fotografias desta série, tiradas com uma câmera Hasselblad de médio formato, foram doadas pela fotógrafa ao Instituto Moreira Salles, em 2005.
A ideia de registrar a vida em instituições que tradicionalmente evocam a ideia de abandono e solidão também se materializou nas fotografias menos conhecidas que realizou durante vários anos, de 1993 a 1997, no Instituto Cristóvão Colombo - ICC, em Vila Prudente, de meninas e adolescentes.
A temática feminina como questão estruturada parece ter aparecido anteriormente, a partir de 1988, quando passou a fotografar mulheres, muitas delas suas amigas, e que reuniu no ensaio “Mulheres e feitiços”, apresentado em exposição dez anos depois.
Outras séries que também difundiu em suas publicações foram Fábricas, na fábrica de Chapéus Cury, em Campinas e Padarias do Bexiga, nos centenários estabelecimentos no bairro paulistano.
Nas exposições que realizou e nos livros e catálogos que publicou é possível perceber como ela compreendia a dinâmica de seu trabalho. A possibilidade de acessar seu arquivo, fazer cruzamentos entre os diversos conjuntos, investigar a formação de sua linguagem, permitirá possivelmente construir análises, não necessariamente vinculadas à interpretação da artista sobre sua própria obra.
Com o fotógrafo André Boccato, Lily foi sócia da Sver & Boccato, primeira editora de livros de qualidade dedicada à fotografia no Brasil. Criou também o Gabinete da Imagem, uma galeria de fotografia, em São Paulo, onde também apresentava sua coleção particular, que contava, entre outros com obras de fotógrafos e fotógrafas consagrados da cena internacional como Ansel Adams, Edward Steichen, Graziela Iturbide,Marucha, Sophie Molins e Walter Rosenblum. Entre os autores e autoras brasileiros estão Alécio de Andrade, Alice Brill, Araquém Alcântara, Eustáquio Neves e Nair Benedicto.
Além da totalidade de imagens da série Nomes, doada pela fotógrafa, o IMS recebeu em 2019, de seus herdeiros, negativos, contatos, slides e ampliações vintage que cobrem sua produção fotográfica. Atualmente, o arquivo encontra-se no IMS Rio e passa por processamento técnico.
Considerada por muitos a primeira mulher chargista na imprensa brasileira, Hilde Weber (Waldau, Alemanha, 1913-São Paulo, 1994) passou sua vida desenhando. À diferença de outras conterrâneas imigrantes na primeira metade do século XX, Hilde não era judia e sua vinda ao Brasil, embora estivesse no contexto da ascensão do nazismo em seu país natal, não foi diretamente provocada por ele.
Hilde cruzou o Atlântico sozinha em busca de seu pai, um piloto condecorado pelo exército alemão, que havia perdido seu lugar na Alemanha derrotada na Primeira Guerra. Foi criada em Hamburgo durante a República de Weimar, num meio cultural de escritores e jornalistas. Trabalhou desde muito cedo em seu país, fazendo ilustrações para jornais e editoras. Ao chegar ao Brasil, em 1933, com apenas 19 anos, foi acolhida de imediato por Assis Chateaubriand, e passou a trabalhar como ilustradora em diversos periódicos do seu conglomerado Diários Associados, acompanhando jornalistas, como o futuro cronista Rubem Braga, em suas reportagens.
No período de 1936 e 1940, que coincide com os quatro anos de seu primeiro casamento com Enrique Müller-Carioba, pertencente a uma família de industriais de origem alemã, sediada em Americana, no interior de São Paulo, não trabalhou de forma regular. Após sua separação retomou sua vocação de artista visual. Ingressou no círculo paulistano de artistas modernos, participou da equipe de cenógrafos do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, integrou diversas exposições artísticas, incluindo seis Bienais Internacionais de São Paulo, e mergulhou em seu trabalho de ilustração, publicando em muitos veículos de imprensa.
Ainda na década de 1940 casou-se pela segunda vez com o jornalista Claudio Abramo, com quem teve seu único filho, Cláudio Weber Abramo.
A charge política como atividade cotidiana foi iniciada em 1950, a convite do jornalista e político Carlos Lacerda, que arregimentou Hilde para seu novo jornal Tribuna da Imprensa, para fazer frente, sobretudo, ao time de chargistas que seu antagonista político Samuel Weiner contratava no jornal Ùltima Hora, entre os quais os consagrados Lan e Nássara. Ingressou posteriormente no jornal O Estado de São Paulo, onde permaneceu até o início da década de 1990, quando se aposentou após 40 anos de atividade ininterrupta acompanhando acontecimentos políticos e sociais no Brasil e no mundo.
O arquivo de Hilde Weber no IMS cobre sua atuação na imprensa e nas artes brasileiras desde sua chegada ao país, até seu falecimento. É formado por charges, caricaturas, desenhos de humor (originais e reproduções), estudos de modelo vivo, desenhos abstratos e gravuras. Inclui também fotografias P & B, documentos, periódicos, álbuns de recortes de jornais, livros e CDs.
O arquivo foi doado ao IMS por sua família e chegou em novembro de 2022. Atualmente encontra-se em processamento no IMS Paulista.
Embora o trabalho de Hilde Weber seja tido como pioneiro na charge política na imprensa brasileira, e admirado por seus pares e seus sucessores, ainda está longe de ter sido analisado em sua especificidade artística, política e cultural. Um índice desse espaço ainda a ser construído sobre seu legado é a escassa bibliografia publicada a seu respeito, sendo Brasil em Charges 1950-1985, editado em vida pela autora, em 1986, o único livro monográfico até hoje dedicado a seu trabalho.
Inscrição: 25 de março a 8 de junho de 2025.
A seleção ocorrerá em junho de 2025 e o resultado será divulgado em julho de 2025.