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Intelectuais Negras na América Latina

Danielle Almeida

Gal Souza

Danielle Almeida é cantora artivista antirracista e pela vida das mulheres, mestre em Ciências da Educação pela Universidad de Monterrey (México), especializada em História da África e dos Afro-brasileiros pela UFMG e Casa das Áfricas e licenciada em Canto pela Universidade Federal de Pelotas. Orienta seus estudos e atuações laborais no campo da presença e manifestações culturais negras na América Latina e Caribe.

Gal Souza é formada em História pelo Centro Universitário Fundação Santo André, atua como pesquisadora, produtora cultural e educadora.

Victoria Santa Cruz e a experiência da educação

Danielle Almeida

Y ya comprendí
Al fin
¡Ya tengo la llave!
Negra, Negra Negra Negra Negra
Negra Soy!1

Victoria Santa Cruz (1922-2014), pensadora, coreógrafa, dramaturga, poeta, peruana, latino-americana e negra, foi singular entre os mais importantes conhecedores de cultura popular do século XX e figura-chave na revitalização das manifestações culturais negras nas Américas. Criadora da Cumanana2 (1958) − a primeira companhia de teatro negro no Peru, dedicada à recuperação e à visibilização do repertório cultural de ascendência africana, especialmente presente na região costeira do país −, Santa Cruz estabeleceu as bases do que foi considerado e se consolidou como o renascimento da cultura afro-peruana, movimento que teve nela sua maior representante. A companhia surgiu com o propósito de dar à juventude negra, por meio do teatro, uma forma de se expressar, uma vez que sua idealizadora considerava que, por conta da exclusão e das desigualdades, era necessária a criação de meios que favorecessem a autoestima e positivassem a experiência de ser negro no Peru.
Depois do sucesso alcançado com a Cumanana e de estudar3 design de figurino, direção coreográfica e fisiologia do movimento em Paris, de volta a Lima e com parte de seu antigo elenco, Santa Cruz forma o Teatro y Danzas Negras del Perú (1967)4, um grupo constituído unicamente por pessoas negras. Nas rigorosas audições que deram início à companhia, conduzidas pela batuta precisa da maestra, eram requeridos dos candidatos os seguintes critérios: “primero que tenga ritmo; segundo, que tenga ritmo; tercero que tenga ritmo. !ritmo, ritmo y ritmo!"5.

O elenco aprendia a tocar, a cantar e a se comunicar com diferentes aspectos de suas próprias potencialidades, pois para Santa Cruza arte deveria ser considerada um meio e não uma meta. Acreditava que o meio possibilita o desenvolvimento da intuição, e esta, com o tempo, se transforma em níveis elevados de consciência. A meta, por outro lado, é a conexão interna do indivíduo com ele mesmo, com o mundo e com a vida.

Transformando lo que hace y transformándose a sí mismo, va el artesano deviniendo artesano, preparando su camino, y, lejos de quedar atrapado en la forma, en lo que es solo un medio, llegará a adquirir el nivel de consciencia que lo transformará (si preserva), en el hombre de conocimiento, el artista6.

Quando questionada sobre seu elenco, costumava dizer que os jovens escolhidos tinham o principal: ritmo e sensibilidade, qualidades que segundo ela não se ensinam, se educam. Não obstante, se engana aquele que acredita existir um método que sintetize o trabalho de Victoria Santa Cruz. A experiência proposta respeitava a unicidade do sujeito, a maestra era consciente de que o resultado esperado seria alcançado por caminhos diversos e únicos, justificando assim a ausência de uma metodologia. Para Santa Cruz, a qualidade do fazer (dançar, tocar, cantar, atuar, viver) estava no grau de conexão interior que cada um pudesse alcançar, mas considerava que um processo educativo eficaz pressupunha um papel central do professor como alguém que vivenciou e aprendeu com seu próprio processo, e que continua aprendendo.

Si el profesor no está en contacto consigo mismo, no sabe de dónde viene la dificultad de aquel. [...] el profesor que ha trabajado dentro, [...] lo orienta para que el otro despierte desde si y crezca, para que pueda ir más lejos y más profundamente que el profesor7 (SANTA CRUZ, 2000).

Como educadora ajudava a construir no operário, o artista; no excluído, o cidadão; no empregado, o dono de si mesmo. Entre ensaios e coordenações, Santa Cruz educava não só os corpos, educava sobretudo as consciências de seu elenco, com base nos estudos de história da África e da diáspora, porque entendia que

el negro para encontrar su sitio debe tener la conciencia de que puede ser útil a sí mismo y a la sociedad, debe conocer su propio valor como ser humano con los derechos y deberes que le corresponden por haber nacido. Para encontrarse a sí mismo, el arte es el medio más justo8.

Após o completo êxito do Teatro y Danzas Negras del Perú, Victoria Santa Cruz passou a dirigir o Conjunto Nacional de Folklore (1973-1982), em que foi responsável por desenvolvimento, pesquisa, integração e direção de repertórios e dançarinos da região da Serra, da Costa e da Amazônia peruana. Para a consolidação desse trabalho, viajou o país inteiro convidando os(as) mestres(as) da tradição para compor o grupo e proporcionar conhecimento sobre valores ancestrais da música e da dança, segundo cada território. Para Santa Cruz os mestres eram os que conheciam a cultura popular a partir da vivência e da conexão com a memória ancestral, diferentemente de um especialista ou um acadêmico que, segundo ela, usando apenas o intelecto, desconhece absolutamente tudo o que é a vida (SANTA CRUZ, 2000).

Com o Conjunto Nacional de Folklore, Victoria Santa Cruz fez a arte e a cultura peruanas conhecidas mundialmente. Conquistou incontáveis prêmios e convites, realizou trabalhos com grandes companhias de dança e teatro, como por exemplo a companhia do renomado coreógrafo Peter Brook. Mais tarde, como professora catedrática da Universidade Carnegie Mellon nos Estados Unidos (1982-1999), aprofundou suas experiências com o ritmo, transformando-as no livro Ritmo: el eterno organizador, uma obra poderosa que ainda não foi descoberta e muito menos entendida.

Apesar de ser reconhecida por sua excelência e sua disciplina, sua importância e seus feitos, Victoria Santa Cruz ainda é pouco conhecida no Brasil, e, mesmo no Peru, segue sendo o nome de uma personagem enigmática e injustiçada. Mulher-negra-latino-americana, Victoria Santa Cruz transnacionaliza experiências que nos instigam a mergulhar nas densas complexidades do pensamento das mulheres negras no sul do mundo. Conhecer e dar visibilidade à sua obra e sua biografia é um compromisso urgente, pois a invisibilidade de uma mulher negra compromete a dignidade de um povo inteiro.

 

1 Excerto do poema “Me Gritaron Negra”, de Victoria Santa Cruz, como parte do Documentário Black and Woman (1978), de Eugenio Barba, disponível no Youtube.
2 A Cumanana foi criada por Victoria Santa Cruz e seu irmão Nicomedes. Em âmbito internacional faz parte de movimento por visibilização e reconhecimento das culturas afro-latino-americanas através da educação e da arte, ocorrido na América Latina a partir dos anos 1940, no qual se enquadra o Teatro Experimental do Negro (1944 -1961), fundado no Brasil por Abdias do Nascimento (ALMEIDA, 2017).
3 Como consequência do sucesso alcançado com o Cumanana, Victoria recebeu uma bolsa de estudos do governo francês.
4 O Teatro y Danzas Negras del Perú estreou em 1967 e com pouco tempo de existência, em 1968, foi convidado para representar o país nos Jogos Olímpicos do México, conquistando os prêmios máximos dessa competição e iniciando uma exitosa carreira internacional.
5 PASTOR, Luis Rodrigues. Las Palabras de Victoria. Museo Afroperuano. Lima, 2016.
6 SANTA CRUZ, Victoria. Ritmo: El eterno organizador. Ediciones Copé, Petro Perú, Lima, 2004.
7 La Función de la Palabra con Victoria Santa Cruz. TV Perú, 2000. Disponível no Youtube.
8 Ibidemdem nota 5

 

 

Victoria Santa Cruz. Arquivo de Família

Thereza Santos: entre memórias e afetos de uma saudosa malunga

Gal Souza

Manhã de um domingo de março de 2012, Rio de Janeiro, sol a pino. Estava em casa quando recebi uma ligação da casa de repouso Cliger, situada na rua Itabaiana, 85, no Grajaú. Era a Lidiane, assistente de enfermagem, ligando para avisar que a Thereza pediu para eu ir visitá-la e levar um lanche.

No começo da tarde, passei na padaria Luar do Grajaú e pedi para o Zeca preparar um lanche de mortadela defumada com muçarela no pão francês, levemente passado na chapa. Carregava o lanche com culpa, porque não fazia parte do cardápio que o médico permitia em razão da diálise que Thereza fazia três vezes na semana. Mas quando a via comer eu ficava contente; ela fechava os olhos e lambia os lábios como se estivesse saboreando um manjar dos deuses e depois me agradecia pela cumplicidade em seu desatino.

Naquela tarde, além de me agradecer pelo lanche, Thereza me olhou profundamente e disse: “minha jornada está chegando ao fim”. Me deu um aperto no coração, e rebati a comunicação mudando imediatamente de assunto. Ela, porém, insistiu: “só estou esperando meu amigo chegar”. O amigo a que se referia era o dançarino e coreógrafo Ismael Ivo, que na época morava na Alemanha.

Conversamos mais um pouco, acabou o tempo da visita e fui embora triste, Thereza tinha se tornado uma grande amiga, gostava de encontrá-la aos domingos. Era incrível como ela se mantinha conectada aos acontecimentos, me atualizava das notícias do mundo, me impressionava com lucidez, inteligência, humor apurado e com a rabugice, que de tão aguda ficava engraçada.

Poucos meses depois, mais precisamente no dia 7 de julho, Thereza aceitou comemorar seu aniversário, que eu organizei e para o qual convidei algumas amigas. Estavam lá Lelette Couto, Maria Ceiça, Clícea Maria, Simone Ricco e o jovem Juan, que fez o registro fotográfico dessa tarde. Na sala de visitas rimos muito, ouvimos e contamos histórias, cantamos parabéns. Thereza assoprou as velas, e antes de cortar o bolo a Maria Ceiça pediu pra ela fazer um pedido. Thereza disse: “eu quero sair daqui! ” Silêncios de tristeza e impotência!

No dia seguinte, ao encontrar a Maria Ceiça no trabalho, conversamos sobre a ideia de fazer um longa-metragem de ficção contando a vida de Thereza. A primeira cena sugerida por Ceiça foi: interna – tela preta e som da música “Parabéns pra você”. Abre lentamente com uma luz de vela de aniversário, foco no rosto da atriz, que diz: “eu quero sair daqui! Eu quero sair daqui! ” Depois seguiríamos o roteiro gravando várias sequências das muitas facetas da história da Thereza: como filósofa, professora de português e militante do PAIGC (Partido Africano pela Independência da Guiné e do Cabo Verde) em Guiné-Bissau, como professora de teatro em Luanda e atuante como apoiadora do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), como atriz de televisão, cinema e teatro, como dramaturga e jurada de carnaval. Toda sua história foi atravessada por afirmação na luta antirracista, por igualdade de gênero e pelo fim das opressões seculares. Seguimos com esse projeto de que a atriz Maria Ceiça represente a Thereza Santos no cinema.

Alguns meses depois a Thereza me pediu para entrevistá-la novamente, disse que contaria coisas que ainda não havia contado. A primeira entrevista que ela me concedeu foi em 2008 no seu antigo apartamento na rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. Foi uma conversa rápida porque ela estava com pressa, tinha compromisso na quadra da escola de samba Unidos do Peruche. Essa entrevista foi gravada pelo arte-educador Luís Grillo e um ex-aluno nosso, do curso de audiovisual na extinta ONG Eremim, o Douglas, mais conhecido como Debate.

Para mim, o pedido da Thereza era uma ordem. Reservei com a Nilcemar Nogueira, diretora do Museu do Samba – que então se chamava Centro Cultural Cartola –, a sala da exposição permanente sobre o samba, para fazer a gravação da entrevista; afinal a Thereza teve uma atuação importante na Mangueira.

Como era comum acontecer, ao solicitar a entrevista, Thereza mobilizou um trabalho coletivo. Convidei o cineasta Wellington Darwin, que viajou de São Paulo até o Rio de Janeiro para gravar a entrevista. Simone Ricco, professora e escritora, colaborou com perguntas que dispararam memórias e fez uma foto que gosto muito. Esse dia guardo com muito carinho!

Foi emocionante chegar à Mangueira com a Thereza. Ao sair do táxi ela se deparou com a estátua do Cartola, ficou alegre e disse que ele merecia todas as homenagens e que se sentia orgulhosa por ter convivido com ele e ajudado na produção do bar que o cantor e compositor criou com sua grande companheira Dona Zica, o famoso ZiCartola, que funcionou entre os anos de 1963 e 1965 na rua da Carioca, 53.

Dessa entrevista, quero destacar apenas o encontro de Thereza com a Mangueira e sua amizade com Nelson Cavaquinho, Cartola e Dona Zica. Nossa entrevistada estava emocionada por estar de volta ao pé do morro que sedia a escola de samba que a acolheu lá pelos idos de 1962. Como conta em sua autobiografia, tinha interesse em desenvolver um trabalho lá, ao que parece queria apoio do Partido Comunista Brasileiro, ao qual era filiada, mas percebia que o partido não demonstrava interesse em discutir a questão racial. Então foi por conta própria, com apoio de amigos/as mangueirenses e moradores/as, que criou o departamento cultural da escola, uma ala infantil que depois culminou na escola mirim Mangueira do Amanhã e também defendeu a escola como passista ao lado do artista Hélio Oiticica.

Na entrevista, Thereza falou que as noites no ZiCartola eram muito boas, as vezes Dona Zica a incumbia de ir acordar o Cartola de seu cochilo para se apresentar e receber convidados/as ilustres. Contou que certa noite, depois do fim do show, Nelson Cavaquinho disse que queria andar de barco. Então, com mais um amigo, partiram para a Praça XV e entraram na barca rumo a Niterói. Lá, à beira da baía da Guanabara, tomaram algumas cervejas. Na volta, Nelson Cavaquinho pediu que o seguissem em sua companhia até ao morro do Vidigal na zona sul, onde sua companheira o aguardava. O Sol já tinha raiado há muito tempo e a hora do almoço se aproximava. Nelson, então, estendeu o convite para o almoço. Thereza disse que não queria dar trabalho, e ele retrucou: “que trabalho? A comida está pronta, olha aqui!” Tirou de baixo do braço um embrulho, e quando abriu a embalagem era um frango assado! Thereza havia notado que aquele pacote o acompanhava desde o ZiCartola. Sorriu e terminou essa história dizendo que era típico do Nelson e fez silêncio saudoso por uns instantes.

Chegou dezembro. Era dia 19, eu estava trabalhando no arquivo de história da ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins, que fica no bairro de São Cristóvão. Meu telefone tocou, era o Ismael Ivo, que estava na casa de repouso onde Thereza morava há quase quatro anos. Me avisou com muito cuidado e carinho que a Thereza tinha encerrado sua jornada aqui na terra e que ele estava preparando tudo para o velório, que seria naquela tarde no Cemitério de São Francisco Xavier, mais conhecido como cemitério do Caju. Fiquei sem ação por uns minutos, depois avisei o Everaldo Frade, coordenador do setor, e fui para o velório.

Recebi o corpo da minha amiga, minutos depois o Ismael Ivo chegou, nos apresentamos e ficamos por um tempo lembrando dos feitos da Thereza Santos e assistimos um trecho da peça teatral Olhos D’água, concebida por Ismael Ivo, na qual Thereza Santos fez sua última atuação nos palcos. A peça ficou em cartaz na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, em 2004. Orgulhoso, Ismael contou que foi um sucesso, provocou um encontro com três mulheres potentes para celebrar o futuro do Atlântico Negro. Estavam no palco contando suas histórias junto com Thereza, a yalorixá Mãe Beata e a dançarina Othella Dallas.

Ismael havia chegado ao Rio na segunda-feira, 17 de dezembro. Passou pela casa de repouso, pegou a Thereza e foram almoçar lá no restaurante Sobrenatural, em Santa Tereza, bairro onde nossa malunga nasceu e passou a primeira infância. Depois do almoço fizeram um passeio pela orla, conversaram sobre a vida, Ismael notou que ela estava reflexiva, emotiva e saudosa. Fez-lhe algumas recomendações, porém não imaginava que seria o último encontro. Ao deixá-la de volta à casa de repouso, combinou que retornaria na quarta-feira para outro passeio. Thereza se encantou na madrugada de quarta-feira, dia 19 de dezembro. Seu sepultamento foi no dia 20, acompanhada por poucas pessoas, lamentavelmente.

Conheci a Thereza através da Gevanilda Santos (Gê), comentei com ela que havia lido o livro Cartas a Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo, de Paulo Freire. A Gê me disse: “conheço uma pessoa que esteve lá, atuou na luta pela libertação e também viveu e trabalhou em Angola; vou te dar o contato”. Foi um presente! Nosso reencontro no Rio de Janeiro aconteceu através de um pedido da saudosa Sônia Leite, que me enviou um e-mail em setembro de 2009, informando que a Thereza estava no Rio, na casa do seu único filho (Jorge Omi) porque estava doente e não conseguia ficar sozinha em São Paulo.

Na ocasião, a Sônia pediu que eu gravasse um depoimento da Thereza para exibir no evento em que esta seria homenageada. Tratava-se do projeto Palmas às Nossas Guerreiras, uma articulação de formação e ação política de mulheres negras ligadas ao Partido dos Trabalhadores e a Soweto Organização Negra. Liguei para o filho da Thereza e combinei a visita. Para minha surpresa e alegria éramos vizinhas: eu morava no Grajaú e a casa do Jorge Omi ficava no Engenho Novo, bairro onde a Thereza viveu parte de sua adolescência.

Três anos depois de sua partida, em 22 de agosto de 2015, idealizei a homenagem Malunga Thereza Santos, realizada no auditório da Ação Educativa. A celebração integrou a 5ª edição do Encontro Estéticas das Periferias, sob a coordenação de Eleilson Leite. Reunimos no palco a atriz Nádia Bittencourt e o ator William Simplício, para a leitura dramatizada da peça E Agora Falamos Nós, com a direção de Lucélia Sérgio. Ismael Ivo apresentou o solo Ode ao Rei do Harlem, de Frederico Garcia Lorca, que havia sido dirigido por Thereza e criado para um evento em que ambos participaram, na cidade de Nova York. Encerramos a noite com uma conversa entre Gevanilda, Ismael e eu para rememorar as lutas e a vida da saudosa Malunga.

Foi uma alegria imensa ver o auditório lotado, e ao final do evento conhecer a Ester Vargem e reencontrar a Vanderli Salatiel. Ambas integraram o elenco que estreou a primeira temporada da peça E Agora Falamos, em 1971. Também estavam presentes alguns atores que participaram da retomada da peça reescrita por Thereza Santos, após a morte do coautor Eduardo de Oliveira e Oliveira, na década de 1980.

A menina carioca, nascida Jaci dos Santos em 7 de julho de 1938, transformou-se na malunga Thereza Santos, lutadora incansável pela liberdade aqui e além-mar. Como outras militantes de sua geração, abriu caminhos para mulheres negras contemporâneas, que como produtoras de conhecimento compreenderam e incorporaram a valorização dos saberes e legados africanos. Sua trajetória como intelectual negra mesclou ação e pensamento sobre liberdade dos povos negros no Brasil e na África, nos legando a ideia de que a luta é internacional.

O que aprendemos com Thereza Santos, portanto, é que as ações coletivas são condição para a autonomia. Sua trajetória nos mostra que a arte é elemento formador, arma para denúncia e transformação. E Agora Falamos Nós anuncia a escuta necessária das falas e demandas negras, como um grito político, artístico e estético que já passou da hora de ser ouvido.

Clique nas imagens para ampliá-las.
Aniversário Thereza Santos. Foto de Juan Couto.
Thereza Santos e Gal Souza na entrada do antigo Centro Cultural Cartola (atual Museu do Samba). Foto de Vitor Vint.
Thereza Santos. Foto de Simone Ricco.

Publicado em 26/11/20

Outras seções da Revista O Menelick 2º Ato

Projeto realizado a convite da área de Educação e acompanhado por Renata Bittencourt, da equipe do IMS

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