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Carolina Maria de Jesus, presente

Ocupação no Instagram

Depoimentos de dez escritores e escritoras negros em celebração ao aniversário de CMJ

Quando

14 de março de 2021, domingo

Evento online e gratuito

Publicações ao longo do dia no perfil de Instagram do IMS. Mais informações abaixo.
A escritora Carolina Maria de Jesus
POR

Autora do best-seller Quarto de despejo (1960) e de vários outros livros, além de poeta e compositora, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) tem sua obra e sua trajetória celebradas no dia de seu nascimento. Ao longo do domingo 14/3, o Instagram do IMS será ocupado com depoimentos gravados por dez escritores e escritoras negros. Serão pequenos vídeos que trazem leituras de trechos de seus livros, seguidos ou não de comentários sobre eles, ou ainda um depoimento pessoal sobre a importância da autora e sua influência na produção literária dos que a homenageiam. Haverá ainda algumas atividades interativas na plataforma, como um quiz.

Carolina Maria de Jesus, presente faz, no título do evento, alusão à data festiva – o presente que é celebrar o seu aniversário – e à presença dela no universo literário-intelectual brasileiro, 61 anos depois da publicação do livro que contava seu cotidiano na favela do Canindé, em São Paulo. O livro fez sucesso imediato no Brasil e no exterior – traduzido para 13 línguas, foi distribuído em mais de 40 países. Não à toa, é a obra mais lembrada na Ocupação. Vários participantes, como Mel Duarte, Cuti, Carmen Faustino, Fernanda Bastos e Jeferson Tenório, escolheram ler, e alguns também comentar, diferentes trechos da publicação.

Mas vão além. Autor do elogiado romance O avesso da pele (2020), Jeferson Tenório, que também é professor, conta a experiência de trabalhar Carolina em sala de aula, com alunos do Ensino Médio de uma escola privada em Porto Alegre. Edimilson de Almeida Pereira, que além de poeta também é professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, faz um depoimento crítico voltado para questões literárias e lê um poema de sua autoria, A mão de Carolina, em homenagem à autora.

O romancista e poeta paulistano Ferréz, autor de, entre outros, Capão pecado (2000),  faz um comentário emocionado sobre veia literária de Carolina, que, afirma, deve ser considerada para além de um enfoque sociológico. O impacto de Carolina na literatura também é lembrado pela escritora carioca Eliana Alves Cruz, autora de Água de barrela (2016) e O crime do Cais do Valongo (2018).

A gaúcha Fernanda Bastos, jornalista, poeta e editora, comenta como o racismo opera no mercado editorial. Lê ainda um poema de sua autoria, Doutor, inspirado na autora homenageada. Poeta e escritor, Sergio Vaz, fundador, em São Paulo, da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), fala sobre a descoberta e influência da autora de Quarto de despejo com um agradecimento contundente à homenageada: "Carolina salvou a minha vida".

O agradecimento a Carolina perpassa a grande maioria dos depoimentos e falas. De Oswaldo de Camargo, poeta, escritor, crítico e historiador da literatura, que, como ela, também rompeu paradigmas – é filho de trabalhadores da lavoura do café em Bragança Paulista –  tendo conhecido a autora em encontros da militância negra nos anos 1960, a Mel Duarte, jovem poeta e slammer paulistana.

"Carolina continua mais viva do que nunca", considera a historiadora Raquel Barreto. "Acabou se ser agraciada com o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, será tema de exposição no IMS e de outros projetos importantíssimos, sua obra completa será editada."

Raquel e o antropólogo Hélio Menezes são os curadores da exposição Carolina Maria de Jesus – Um Brasil para os brasileiros, que será inaugurada este ano no IMS Paulista (a previsão inicial, 12/6, pode ser modificada devido à pandemia de Covid-19). Ao longo da pesquisa de levantamento de material para a mostra, eles puderam identificar, de forma bem precisa, o seu papel no cenário literário do Brasil. Para Hélio, mais do que uma escritora, Carolina é uma escritora-intérprete do país:

"Ela mira o país a partir de uma experiência de mulher negra empobrecida, imigrante, trabalhadora, mãe solo de três filhos, uma série de marcadores sociais que a habilitam a olhar o Brasil a partir da inteligência que lhe foi distinguida, e de um ponto de vista ainda não presente na literatura nacional. Carolina inaugura uma literatura que não apenas mira para a pobreza; é o próprio pobre falando de si".

Para o curador, ela promove "uma cisão na literatura brasileira, até então, como até hoje, muito marcadamente dominada por autores homens brancos, e por autores homens brancos herdeiros, oriundos das altas classes", diz.

"Não parece à toa que aquela mulher, cujo avô era um negro escravizado e a mãe, como ela mesma dizia, uma filha do Ventre Livre, passada a euforia com o sucesso de Quarto de despejo, tenha caído num quase esquecimento pelos meios literários, mantendo-se, no entanto, como um símbolo nas lutas negras e populares."

Para Raquel, "é sempre bom enfatizar que Carolina era uma escritora  consciente de seu projeto estético-literário". Ela observa que existe uma tendência a se reduzir a complexidade da criação literária de escritores que não são cânones – "especialmente quando não se trata de pessoas brancas escrevendo, tende-se a considerar que tudo é vivência e não criação literária". Carolina derruba essa visão. "Há uma autoconsciência literária. Há uma pluralidade na autora na passagem por gêneros literários, por exemplo, a poesia dela é mais tradicional enquanto a narrativa é muito mais disruptiva, trazendo o uso do idioma vivo, em movimento."

É a língua viva, e muito presente, de Carolina Maria de Jesus que se celebra em seu aniversário.


Ocupação Carolina Maria de Jesus, Presente

Depoimentos publicados no Instagram do IMS durante a ocupação do dia 14 de março de 2021 em comemoração ao aniversário de Carolina Maria de Jesus.

Eliana Alves Cruz e Cristiane Sobral

Jeferson Tenório

Cuti e Fernanda Bastos

Cidinha Silva

Edimilson de Almeida Pereira

Geni Guimarães

Carlos de Assumpção

Mel Duarte

Sérgio Vaz

Fernanda Bastos e Carmen Faustino

Jeferson Tenório e Carmen Faustino

Miriam Alves

Oswaldo Camargo e Carlos de Assumpção

Negafya

Edimilson de Almeida Pereira

Ferréz


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Sobre Carolina Maria de Jesus