Fotografia, campo ativado contra a indiferença
Fórum
Profissionais da prática, da reflexão e do engajamento no campo fotográfico interrogam a obra plural e complexa de Stefania Bril
Quando
Evento online e gratuito
Em 2019, o lançamento da segunda edição da Bolsa IMS de Pesquisa em Fotografia foi a primeira estratégia institucional para estimular a compreensão e avaliação do legado de Stefania. O Fórum Stefania Bril no plural busca avançar outro degrau, convidando profissionais da prática, da reflexão e do engajamento no campo fotográfico, vozes e olhares diversos, para interrogar a obra diversificada e complexa que Stefania construiu.
Em quatro encontros online, de 25 a 28 de maio, esta obra será analisada e discutida por Boris Kossoy, Sergio Burgi, Nair Benedicto, Yara Schreiber Dines, Erika Zerwes, Rubens Fernandes Junior, Patricia Yamamoto, Alessandra Vannucci, Maíra Gamarra, Francisco Valdean e Vilma Neres.
O curso ficará disponível na íntegra posteriormente no site do IMS.
Programação
25/5/2021, terça, às 19h | Mesa 1
Stefania em contexto
São Paulo, 1960-1980: construção da fotografia como campo cultural
Participantes: Boris Kossoy, Sergio Burgi. Mediação: Alessandra Vannucci
26/5/2021, quarta, às 19h | Mesa 2
Questões de identidade
Mulher, imigrante, judia na obra de Stefania Bril
Participantes: Nair Benedicto, Yara Schreiber Dines, Erika Zerwes. Mediação: Maria Clara Lysakowski Hallal
27/5/2021, quinta, às 19h | Mesa 3
Encontros entre imagem e palavra
Interrogando a crítica de Stefania Bril
Participantes: Rubens Fernandes Junior, Patricia Yamamoto, Alessandra Vannucci. Mediação: Ricardo Mendes
28/5/2021, sexta, às 19h | Mesa 4
Engajamentos ontem e hoje
Ecos da rebeldia contra os silêncios
Participantes: Maíra Gamarra, Francisco Valdean, Vilma Neres. Mediação: Ileana Pradilla
"Indiscutivelmente o mundo de hoje é um mundo da imagem. A foto se converte em companheira, num vício enraizado na cotidianidade do homem. Como qualquer doença, provoca a produção de anticorpos. A cada impacto emocional corresponde uma dose crescente de indiferença. É necessário adquirir a consciência de que a imagem não pode nem deve substituir a realidade, para que o ser humano não se converta somente num participante ativo da imagem nem permaneça apenas como um observador atento da vida."
Stefania Bril, A fotografia como instrumento de luta, 1981
Desde o início dos anos 1970, até seu falecimento em 1992, Stefania Bril atuou como fotógrafa, crítica de fotografia no jornal O Estado de São Paulo e na Revista IRIS, curadora e agente de iniciativas engajadas no desenvolvimento do campo da fotografia no Brasil. Essa atuação pública não foi exclusiva de Stefania. Vários fotógrafos e fotógrafas escreveram, lecionaram, criaram ou dirigiram espaços de reflexão e difusão da fotografia, mas poucos desempenharam tantos papéis e o fizeram de forma tão intensa em sua época, quanto Stefania Bril.
Como fotógrafa, Stefania era atraída pela rua, e sobretudo por aquilo que, por sua aparente banalidade, passava despercebido a qualquer olhar. Enquanto crítica, analisou exposições, entrevistou os ícones da fotografia mundial e informou sobre os eventos internacionais na área, muitos dos quais ela presenciou. Como curadora, discutiu o lugar social e as diversas faces da atividade fotográfica e promoveu intercâmbios entre o Brasil e o exterior. Por seu trabalho crítico e curatorial, Stefania se tornou uma voz influente, sobretudo em São Paulo nas décadas de 1970 e 1980.
A partir de meados dos anos 1990, após seu falecimento, contudo, a memória de seu trabalho ficou rarefeita, tornando-se mesmo uma ausência em boa parte das narrativas que analisam os domínios da fotografia contemporânea e seus diversos contextos no Brasil.
Esse silêncio causa espanto, mas não deixa de ser eloquente. A escassez de estudos sobre a obra de Stefania, seja em sua pluralidade ou direcionados para aspectos específicos, dificulta hoje o dimensionamento de sua atuação, mas ao mesmo tempo revela a existência de lacunas e fragilidades nos critérios e cânones que têm instruído leituras e narrativas sobre a fotografia contemporânea brasileira.
Alessandra Vannucci
Dramaturga e diretora teatral, atuando no Brasil e na Itália. Possui graduação em Letras e Filosofia, mestrado em Teatro e doutorado em Letras. É professora de Direção Teatral e de Linguagem Fotográfica na Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, onde também coordena o Laboratório de Estética e Política (LEP) e a diretoria adjunta de extensão da ECO. Publicou ensaios e livros focando ideias e artistas viajantes, entre outros, Crítica da razão teatral (2004), Uma amizade revelada (2005), Un baritono ai tropici (2007) e A missão italiana: histórias de uma geração de diretores italianos no Brasil (2014). Em 2019 foi vencedora da segunda edição da Bolsa IMS de Pesquisa em Fotografia, com o projeto Fechar os olhos para ver: o banal insólito nas imagens e no pensamento fotográfico de Stefania Bril.
Boris Kossoy
Fotógrafo, teórico e historiador da fotografia. Professor Livre-Docente e Titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Como historiador, é reconhecido por seu empenho em tornar a história da fotografia brasileira um campo de estudo sistemático e pela compreensão dos documentos fotográficos como fonte histórica relevante. Possui também uma relevante atuação institucional, tendo sido diretor do Departamento de Fotografia do Museu de Arte de São Paulo – MASP (1976-1978); diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo - MIS (1980-1983). É autor de Viagem pelo Fantástico (1971); Hercules Florence, 1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil (1977); Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro (2002); Fotografia e História (1989); Boris Kossoy, Fotógrafo (2010); O Olhar Europeu: o Negro na Iconografia Brasileira do Século XIX, este em parceria com a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro (1994); Lo Efímero y lo Perpetuo em la Imagen Fotográfica (2014); O Encanto de Narciso. Reflexões sobre a Fotografia (2020), entre outros livros.
Erika Zerwes
Formada em Filosofia, é doutora em História pela Unicamp, com estágio-sanduíche na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, EHESS de Paris. Realizou pós-doutorado no MAC-USP, pesquisando a fotografia humanista em seus diversos aspectos e dimensões políticas. É autora de Tempo de guerra. Cultura visual e cultura política nas fotografias dos fundadores da Agência Magnum (2018), tema de sua tese de doutorado. É coautora, com Iara Schiavinatto, de Cultura visual. Imagens na modernidade, finalista do Prêmio Jabuti de 2019 e, com Helouise Costa, de Mulheres fotógrafas / Mulheres fotografadas. Fotografia e gênero na América Latina (2021). Atualmente pesquisa fotografia latino-americana na segunda metade do século XX e as diversas relações entre gênero e fotografia.
Francisco Valdean
Fotógrafo e pesquisador, desenvolve projetos autorais e reflexões sobre as imagens das paisagens cotidianas das favelas e subúrbio do Rio de Janeiro. Formado em fotografia na primeira turma da Escola de Fotógrafos Populares, projeto do Observatório de Favelas, desenvolvido na região da Maré desde 2004. Graduado em Ciências Sociais pela UERJ, Mestre em Antropologia Visual pela mesma universidade e atualmente doutorando pelo PPGARTES-UERJ. Foi coordenador do projeto Imagens do Povo, em que também atua como fotógrafo. Foi vencedor do prêmio Territórios de Cultura, da Secretaria de Cultura da cidade do Rio de Janeiro em 2015. É criador do museu MIIM, um museu ambulante composto por um acervo histórico-poético das Imagens da Maré.
Ileana Pradilla Ceron
Pesquisadora e historiadora de arte, é mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio. Foi diretora da Divisão de Artes Visuais no Instituto Municipal de Arte e Cultura (RioArte) e diretora da Plural Comunicação Memória & Cultura. É autora de Marc Ferrez. Uma cronologia da vida e da obra (2019), coautora da Coleção Palavra do artista (2000) e organizadora de Kant. Crítica e estética na modernidade (1999). No Instituto Moreira Salles desde 2016, é responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia.
Maíra Gamarra
Fotógrafa, curadora, editora, produtora cultural e pesquisadora. Bacharel em comunicação social/fotografia e mestra em Estudos Latino-Americanos. Foi coordenadora de operações do Museu Paço do Frevo e gerente de projetos na Art. Monta Design, especializando-se na elaboração, gestão e montagem de projetos, eventos e exposições artísticas. É curadora do Mira Latina, laboratório de acompanhamento de projetos, onde desenvolve mentorias, pesquisas e intercâmbios com fotógrafas e fotógrafos da América Latina. Cocriadora e cocuradora do coletivo 7Fotografia e do festival Mesa7. É uma das coordenadoras do Grupo de Estudos Imagens e Feminismos – GIF e atua como pesquisadora convidada no projeto Redlafoto, do Centro de Fotografia de Montevidéu.
Maria Clara Lysakowsky Hallal
Doutoranda e mestra em História pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e bacharela em História pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). É pesquisadora do Laboratório de Política e Imagem (LAPI-UFPEL). Sua área de estudos abrange cultura visual, cidades, gênero e processos migratórios. Em sua tese de doutorado estuda a obra da fotógrafa alemã, naturalizada brasileira, Hildegard Rosenthal (1913-1990). É autora de Fechar os olhos para ver: Discursos fotográficos de Stefania Bril sobre a cidade de São Paulo, apresentado no XV Encontro Estadual de História – ANPUH, na Universidade de Passo Fundo, em julho de 2020.
Nair Benedicto
É fotógrafa formada em Rádio e Televisão pela ECA/USP. Militante durante o período da ditadura, trouxe sua atuação política para a fotografia. Em 1979 fundou a Agência F4 com Juca Martins, Delfim Martins e Ricardo Malta, uma proposta inspirada na lendária agência Magnum, que buscava a liberdade dos fotógrafos para produzir suas pautas e o autofinanciamento dos seus projetos, além de lutar pelos direitos trabalhistas e autorais dos profissionais da imagem. Em 1991 fundou o Núcleo dos Amigos da Fotografia – Nafoto com Stefania Bril, Rosely Nakagawa, Juvenal Pereira, Isabel Amado, Rubens Fernandes Junior e Fausto Chermont. Nesse mesmo ano se desligou da F4 e fundou a N Imagens, que dirige até hoje. Entre suas premiações, destaca-se o 11º Prêmio Abril de Fotojornalismo, em 1985. É autora dos livros A greve do ABC (1980), A questão do menor (1980), em parceria com Juca Martins, As melhores fotos de Nair Benedicto (1988), entre outros.
Patricia Yamamoto
Mestre em Estética e História da Arte pela USP, graduada em Fotografia pelo Centro Universitário Senac e em Educação Artística pela Unicamp. Atua na área de Fotografia como docente, fotógrafa e artista visual. Autora da dissertação Circuito em transformação: O Estado de São Paulo e a cultura fotográfica paulistana nos anos 1970 (2018), em que estuda, entre outros, a crítica fotográfica publicada por Stefania Bril nesse jornal nos anos 1970 -80.
Ricardo Mendes
Graduado em Cinema (ECA-USP) e Arquitetura (FAU-USP) pela Universidade de São Paulo (1977, 1980) e Mestre em Biblioteconomia – Ação Cultural pela ECA USP (2001). É pesquisador na área de Artes, com ênfase em História da Fotografia. Em 1997 criou o projeto de referência documental FotoPlus, sobre a fotografia no Brasil. Atualmente, coordena as interfaces públicas de dados do projeto, cuja base documental em suporte físico foi doado em 2017 ao Instituto Moreira Salles. Entre 1980 e 2015, atuou como pesquisador do Centro Cultural São Paulo, na coordenação da Equipe Técnica de Pesquisas em Fotografia, e no Arquivo Histórico Municipal. Entre os trabalhos relevantes destacam-se: Antologia Brasil, 1890-1930: pensamento crítico em fotografia (São Paulo: XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. 2013) e Noticiário geral da Photographia paulistana: 1839-1900, com Paulo Cezar Alves Goulart (São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2007).
Rubens Fernandes Junior
Pesquisador e curador de fotografia. Foi cocriador e curador de fotografia do Gabinete Fotográfico da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte de São Paulo – MASP. É doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professor e diretor da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Alvares Penteado. Em 1991, ao lado de Stefania Bril, Nair Benedicto, Rosely Nakawaga, Isabel Amado, Juvenal Pereira, Marcos Santilli, Eduardo Simões, Eduardo Castanho e Fausto Chermont, funda o coletivo NAFOTO – Núcleo dos Amigos da Fotografia, responsável pela organização das onze edições do Mês Internacional da Fotografia em São Paulo. Dividiu com Stefania Bril a curadoria da mostra Colors from Brazil, no Fotofest, Houston, em 1992. Foi contemplado com a Bolsa Marc Ferrez de Fotografia e recebeu o prêmio da APCA pelas exposições Mario Cravo Neto, Masp (1995) e A(s)simetrias, fotografias de Geraldo de Barros, Galeria Brito Cimino (2006). Entre seus principais livros estão: Labirinto e identidades – Fotografia brasileira contemporânea (2003) e Papéis efêmeros da fotografia (2015).
Sergio Burgi
Coordenador e curador de Fotografia do Instituto Moreira Salles desde 1999. Estudou na Escola Politécnica na Universidade de São Paulo – USP. Durante esse período fundou, ao lado dos fotógrafos João Musa e Raul Garcez, o Laboratório de Fotografia no centro acadêmico da Poli. Formado em Ciências Sociais pela USP em 1981, cursou o mestrado em Conservação Fotográfica pela School of Photographic Arts and Sciences do Rochester Institute of Technology (NY, EUA). Foi coordenador do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Fundação Nacional de Artes, no Rio de Janeiro, entre 1984 e 1991.
Vilma Neres
É fotógrafa, pesquisadora e jornalista. Mestra em Relações Étnico-Raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, na linha de pesquisa Campo Artístico e Construção de Etnicidades e bacharela em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Jorge Amado. Tem experiência em docência (nível superior e em projetos sociais), fotojornalismo, direção e produção audiovisual, pesquisa cinematográfica, educomunicação e assessoria de comunicação. É autora da dissertação Trajetórias e olhares não convexos das (foto)escre(vivências): condições de atuação e de (auto)representação de fotógrafas negras e de fotógrafos negros contemporâneos e do livro A escrita com a luz das fotoescrevivências negras.
Yara Schreiber Dines
Antropóloga, historiadora, autora, curadora. É pós-doutora em Fotografia pela Escola de Comunicação e Artes – ECA/USP. Pesquisadora associada do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia – LISA/USP e do Grupo de Estudos de Antropologia Contemporânea – GEAC/UNESP Araraquara. É autora de Hildegard Rosenthal e Alice Brill, fotógrafas de além-mar, cosmopolitismo e modernidade nos olhares sobre São Paulo (no prelo) e de Cidadelas da cultura no lazer – Uma reflexão em antropologia da imagem do Sesc São Paulo, além de diversos outros artigos. É curadora das exposições fotográficas Acervos fotográficos Alice Brill e Hildegard Rosenthal – a antropologia e a constelação das imagens, O alter ego de Hildegard Rosenthal, artista imigrante duplos em diálogo com a fotografia moderna, dentre outras. Suas pesquisas recentes têm como foco a produção fotográfica de mulheres brasileiras, do início do século XX até a atualidade.
ESGOTADO
O curso ficará disponível na íntegra posteriormente no site do IMS.
Quando
De 25 a 28 de maio de 2021, terça a sexta, das 19h às 20h30
Evento online
Grátis, com inscrição prévia.
4 encontros online via plataforma Zoom
Certificado
O fórum fornece certificado para quem participar dos 4 encontros.
As vagas serão preenchidas por ordem de inscrição até o limite das vagas