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Anri Sala: o momento presente

Visitação

Encerrada.
De 10 de setembro a 20 de novembro de 2016.

IMS Rio

Rua Marquês de São Vicente, 476
Gávea - Rio de Janeiro/RJ

Horário

De terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h.

Contato

(21) 3284-7400
[email protected]

Apresentação

Curadoria

Heloisa Espada

Na Internet

#AnriSalaNoIMS 

Imprensa

(11) 3371-4455
[email protected]

Em Anri Sala: o momento presente, o Instituto Moreira Salles é invadido por uma música dissonante e aparentemente improvisada. Após ter se tornado conhecido por trabalhos como Intervista (Finding the Words) (1998) e Dammi i Colori (2003), que refletem sobre questões políticas de seu país de origem, a Albânia, Anri Sala (Tirana, 1974) elegeu o som e suas relações com a arquitetura como matéria-prima central de sua produção. Para o artista, a música não se confunde com a ideia de uma linguagem universal. Além de interferir nos tempos e na composição de arranjos que vão do pop ao clássico, ele apresenta a música como uma linguagem suscetível a circunstâncias sociais, técnicas, físicas e emocionais, sendo única a cada execução.

A exposição explicita a dimensão política e, ao mesmo tempo, estética da obra de Anri Sala, por meio de fotografias, objetos e, sobretudo, videoinstalações sonoras, de diferentes fases de sua produção. Por um lado, o espectador é levado a avaliar criticamente o momento atual a partir de um ponto de vista histórico; por outro, é lançado com radicalidade no tempo presente por meio de abordagens do som como fenômeno físico de alto impacto sensorial. Além disso, Anri Sala potencializa a experiência do público com a arquitetura, propondo uma nova forma de circulação nos espaços do IMS, bloqueando passagens usuais e induzindo o visitante a percorrer áreas externas pouco habitadas.

Entre performance, ficção e documentário, os trabalhos aqui mostrados propõem experiências nada apaziguadoras por meio da sobreposição de contingências pessoais, históricas e políticas. Extraindo significados do que não é dito, por meio de ausências, transfigurações, ambiguidades e lacunas de toda ordem, o artista aponta para o que não pode ser resgatado por nenhuma narrativa histórica.

Heloisa Espada


Obras

1. Title Suspended (Sky Blue), 2008

resina, luvas de borracha, motor elétrico
Cortesia Hauser & Wirth

 

2. No Barragán No Cry, 2002

impressão cromogênica
Cortesia Hauser & Wirth; Galerie Chantal Crousel, Paris
Cópia de exposição

 

3. No Window No Cry (Olavo Redig de Campos, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro), 2016

caixa de música, vidro, esquadria de metal
Cortesia Marian Goodman Gallery

 

4. Làk-kat 3.0 (Brazilian Portuguese/Portuguese/Angolan Portuguese), 2016

videoprojeção em três canais, som estéreo, cor (9'38")

Tradução brasileira de Noemi Jaffe/ Tradução portuguesa de José Luís Peixoto / Tradução angolana de Ondjaki

Cortesia Esther Schipper, Berlim

Gravado em Senegal, o vídeo mostra três garotos num ambiente escuro, onde um adulto os faz repetir palavras em uólofe, idioma original da região que atualmente abrange alguns países da chamada África Ocidental (Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali e Mauritânia). A princípio, os vocábulos se referem aos conceitos de escuridão e claridade e, em seguida, descrevem tons de pele e maneiras variadas de se referir a estrangeiros.

O diálogo surgiu do interesse de Anri Sala pelo fato de que hoje em dia, no Senegal – onde uólofe e francês são idiomas oficiais –, muitos nomes de cores são falados apenas na língua do colonizador. Por outro lado, o uólofe tem mais palavras do que a maior parte das línguas para definir diferentes tons de preto e branco, o que está presente em Làk-kat.

As três telas da instalação mostram simultaneamente traduções do uólofe para o português falado no Brasil, em Portugal e em Angola. Como se referem a relações culturais muito específicas do Senegal, as traduções, assumidas como recriações, muitas vezes transformam o sentido da palavra original ao adaptá-la às realidades culturais de cada um dos três países.

 

5. Untitled (corner), 2004

oito fotografias em preto e branco sobre papel barita
Cortesia Hauser & Wirth
Cópia de exposição

 

6. Bridges in the Doldrums, 2016

instalação de som em sete canais com quatro tambores, partes de alto-falantes, presilhas, baquetas, duas caixas de som e subwoofer (23'10")

Baseado em To Each His Own (in Bridges) (2015), arranjo em três partes para clarinete, saxofone, trombone, percussão e amplificador de baixo, por Anri Sala em colaboração com André Vida

Mixed by Olivier Goinard

Cortesia Marian Goodman Gallery

Fotografia de Vicente de Mello

Bridges in the Doldrums ocupa e conecta dois espaços do IMS: a sala de azulejos, no interior da casa, e a varanda do painel de cobogó, na parte externa.

A instalação é baseada no arranjo musical To Each His Own (in Bridges) (2015), de autoria de Anri Sala, em colaboração com o músico André Vida, composto para clarinete, saxofone, trombone, percussão e amplificador de baixo. Trata-se de uma colagem de 74 “pontes musicais” – termo usado para denominar a parte da música que faz a transição entre o tema principal e o fim, com melodia e ritmo significativamente diferentes do restante da composição – de canções pop, de jazz e folk, de diferentes épocas e lugares. As “pontes” foram compiladas em ordem de tempo, criando um ritmo crescente e a sensação de gradual aceleração.

Na sala de azulejos, ouvem-se a gravação original de um clarinete, um trombone e um saxofone executando To Each His Own (in Bridges). Na varanda, ouvimos fragmentos da mesma melodia a partir de caixas de som instaladas no interior de quatro tambores e por meio de um aparelho subwoofer, que paira sobre os demais sons e transmite somente suas baixas frequências.

Cada um dos quatro tambores (três suspensos de cabeça para baixo e um no chão) emite gravações de um dos três instrumentos de sopro e da percussão. Neles, o artista alterou um pouco os sons originais para enfatizar as baixas frequências e, assim, fazer vibrar a pele dos tambores a partir do som que vem de dentro deles. Em consequência, as baquetas se movem.

Segundo o artista, os fragmentos da música em baixa frequência ouvida a partir do subwoofer seriam como a memória imprecisa de uma performance realizada no passado, mas que ainda permanece nos ouvidos.

Fotografia de Vicente de Mello

 

7. Le Clash, 2010

vídeo hd em canal único, som surround 5.0, cor (8'31")

Cortesia Galerie Chantal Crousel, Paris; Marian Goodman Gallery; Hauser & Wirth; Johnen Galerie, Berlim; kurimanzutto, Cidade do México

Um homem carregando uma caixa de música e um casal empurrando um realejo caminham em direção à casa de concertos Salle de Fêtes, fechada desde 1993, em Bordeaux. Eles tocam versões da música “Should I Stay or Should I Go”, do grupo britânico The Clash, símbolo da cultura punk rock do início dos anos 1980.

Tlatelolco Clash, 2011

vídeo hd em canal único, som surround 5.0, cor (11'49")

Cortesia kurimanzutto, Cidade do México;Marian Goodman Gallery; Hauser & Wirth; Galerie Chantal Crousel, Paris; Kaikai Kiki, Tóquio.

Na praça das Três Culturas, Cidade do México, transeuntes manuseiam cartões perfurados de realejo que correspondem a quatro segundos da música “Should I Stay or Should I Go”, da banda inglesa The Clash. As pessoas inserem os cartões num órgão mecânico disposto no local, e a música é tocada em diferentes ritmos.

A praça das Três Culturas é conhecida por reunir três momentos emblemáticos da formação cultural do México: as ruínas do templo asteca Tlatelolco, uma igreja espanhola do período colonial e um conjunto habitacional modernista. Também foi onde ocorreu a última batalha entre os astecas e os espanhóis, vencida pelos europeus, e foi palco do Massacre de Tlatelolco, em 1968, quando cerca de 300 estudantes foram mortos por forças da polícia e do exército a dez dias dos Jogos Olímpicos da Cidade do México.

 

8. Untitled (cactus_II), 2011

impressão cromogênica sobre alumínio
Cortesia Hauser & Wirth
Cópia de exposição

 

9. Long Sorrow, 2005

Super 16 mm transferido para vídeo hd em canal único, som estéreo, cor (12'57")

Produzido por Fondazione Nicola Trussardi, Milão

Cortesia Marian Goodman Gallery; Hauser & Wirth; Galerie Chantal Crousel, Paris; Johnen Galerie, Berlim; Galerie Rüdiger Schöttle, Munique

O saxofonista Jemeel Moondoc faz uma improvisação de jazz pendurado do lado de fora do 18º andar de um prédio em Berlim, um conjunto habitacional modernista apelidado pelos moradores como Langer Jammer, que significa “long sorrow” [sofrimento longo] em inglês.

 

10. Jemeel Moondoc responde à sua própria performance em Long Sorrow

Gravado no dia 22 de abril de 2006, na Galerie Chantal Crousel, em Paris

 

11. Untitled (tagplant 1), 2005

fotografia em preto e branco sobre papel barita

Cortesia Galleria Alfonso Artiaco, Nápoles

 

Untitled (tagplant 2), 2005

fotografia em preto e branco sobre papel barita

Cortesia Galleria Alfonso Artiaco, Nápoles

 

12. Answer Me, 2008

vídeo hd em canal único, som estéreo, cor (4'51")

Cortesia Marian Goodman Gallery; Hauser & Wirth; Johnen Galerie, Berlim; Galerie Rüdiger Schöttle, Munique; Galerie Chantal Crousel, Paris

Uma mulher tenta se comunicar com o parceiro, que se nega a ouvi-la e toca bateria com força. Os dois estão fisicamente distantes, em cantos opostos de um grande salão: ele voltado para a parede de uma cúpula geodésica que amplifica e ecoa o som de sua performancemusical; ela, ao lado de um tambor sobre o qual duas baquetas se mexem aparentemente sozinhas. O poder de ressonância do domo permite que o som da bateria se multiplique e faça vibrar a superfície do tambor que está diante da mulher. Como consequência, as baquetas se movem.

Answer Me foi filmado no interior de uma das cúpulas geodésicas baseadas no projeto de Buckminster Fuller construídas em 1963 para servir como estação de escuta e espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos em Berlim ocidental, para monitorar o antigo bloco soviético. O conjunto de quatro cúpulas – hoje uma ruína da Guerra Fria – fica no topo de Teufelsberg [Montanha do Diabo], uma colina artificial erguida com destroços retirados da cidade na Segunda Guerra. Teufelsberg foi construída sobre o projeto inacabado de uma faculdade militar nazista projetada por Albert Speer.

 

13. Who Is Afraid of Red, Yellow and Green, 2008

vídeo em canal único em monitor, som estéreo, cor (2'35")
Cortesia Hauser & Wirth; Galerie Chantal Crousel, Paris; Johnen Galerie, Berlim

 

14. Intervista (Finding the Words), 1998

vídeo em canal único, som estéreo, cor (26')
Cortesia Idéale Audience International, Paris; Galerie Chantal Crousel, Paris; Johnen Galerie, Berlim; Galerie Rüdiger Schöttle, Munique

Em 1997, numa visita a Tirana, sua cidade natal, o estudante de artes Anri Sala encontra um rolo de filme preto e branco, sem som, em que sua mãe aparece num Congresso da Juventude Comunista da Albânia ocorrido há 20 anos. Ele entrevista pessoas que aparecem no filme e recorre a uma escola de surdos para descobrir o que é dito.

Intervista (Finding the Words) foi o primeiro trabalho de Anri Sala a chamar a atenção do meio artístico internacional, tendo recebido os prêmios de Melhor Documentário no Festival Entrevues, em Belfort, França, e no Brooklyn Film Festival, em Nova York, além de Melhor Curta-Metragem no Festival Amascultura, em Lisboa.

 

15. 1395 Days without Red, 2011

vídeo hd em canal único, som surround 5.0, cor (43'46")

Um filme de Anri Sala em colaboração com Liria Bégéja a partir de um projeto de Šejla Kamerić e Anri Sala em parceria com Ari Benjamin Meyers © Anri Sala, Šejla Kamerić, Artangel, scca/2011

Cortesia Marian Goodman Gallery; Hauser & Wirth

O filme mostra a Orquestra Filarmônica de Sarajevo praticando o primeiro movimento da Sinfonia patética, a sexta e última composta por Tchaikovsky, em 1893. Ao mesmo tempo, uma musicista atravessa a cidade sitiada a caminho do ensaio. O filme faz referência aos 1395 dias do cerco de Sarajevo, entre 5 de abril de 1992 e 29 de fevereiro de 1996, durante a guerra da Bósnia-Herzegovina, quando vestir roupas vermelhas e brilhantes era extremamente perigoso por atrair a atenção dos franco-atiradores.


Vídeos

Entrevista com Anri Sala
Anri Sala fala sobre a importância dos espaços físicos e dos sons em seu trabalho. Nesta entrevista feita pela curadora da mostra, Heloisa Espada, Sala comenta o impacto que a casa do IMS Rio de Janeiro provocou nele, e de como pensou a mostra a partir desta forte impressão. Assista à entrevista, com legendas em português.

 

Conversa com Anri Sala na abertura da exposição no IMS-RJ
“O processo de pensar sobre a exposição esteve muito ligado à primeira sensação que tive ao conhecer a casa. É um cenário muito bonito, uma casa muito especial”, disse Anri Sala durante a conversa, com mediação Heloisa Espada, que aconteceu por ocasião da abertura da exposição do artista albanês no IMS do Rio de Janeiro. Assista a um trecho da conversa, com legendas em português.

Também é possível assistir ao vídeo da conversa com Anri Sala na íntegra com o áudio original em inglês no YouTube.

 

https://www.youtube.com/watch?v=rRcQyu1GeKY

Conversas na galeria com André Parente
Construída a partir de sons e imagens que se relacionam em várias camadas de significados – políticos, históricos, pessoais – a obra de Anri Sala pede ao público que “ouça o canto das sereias”, caso queira de fato usufruí-la. A observação é de André Parente, que participou do projeto Conversas na Galeria, no IMS-RJ. Assista a um vídeo com trechos da palestra.

 

Teasers da exposição

 

https://www.youtube.com/watch?v=Dxu2wV_gThU

YouTube do IMS
Você também pode assistir esses e outros vídeos relacionados à exposição Anri Sala: o momento presente, no canal do YouTube do IMS.


Sobre Anri Sala

Anri Sala nasceu em 1974, na cidade de Tirana, capital da Albânia. Estudou na Academia Nacional de Artes de Tirana e na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs, em Paris, de 1996 a 1998, quando começou a trabalhar com vídeo. Ainda na graduação, dirigiu Intervista (Finding the Words) (1998). O filme de 26 minutos – um trabalho de conclusão de curso – recebeu prêmios em diversos festivais internacionais. Em 1998, deu início à pós-graduação em direção na Le Fresnoy, Studio National des Arts Contemporains.

Desde Intervista, Anri Sala tem se destacado no meio artístico internacional. Em 2000, participou da Manifesta 3, em Liubliana, Eslovênia. Um ano depois, ganhou o Leão de Prata para jovem artista pelo trabalho Uomoduomo (2000), na 49ª Bienal de Veneza. Em 2004, realizou a sua primeira grande individual, Entre chien et loup/When the Night Calls It a Day, organizada pelo Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris. No Brasil, participou da 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, e da 29ª edição do evento, em 2010.

Em 2013, Anri Sala representou a França na 55 ª Bienal de Veneza com a videoinstalação Ravel Ravel Unravel, com a qual recebeu o 10º Prêmio Benesse. No ano seguinte, participou da retrospectiva Une Histoire, art, architecture et design, des années 80 à aujourd'hui no Centre Georges Pompidou, em Paris. No início de 2016, o artista realizou a individual Anri Sala: Answer Me no New Museum, em Nova York, com trabalhos do início de sua carreira até obras recentes. Atualmente, ele vive e trabalha em Berlim.

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Anri Sala: o momento presente

O catálogo da exposição do artista albanês apresenta textos inéditos de Heloisa Espada, Moacir dos Anjos e Natalie Bell, além da tradução de um artigo de Jacques Rancière.

Exposição encerrada.

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