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As construções de Brasília

IMS Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente, 476

Gávea - Rio de Janeiro/RJ

CEP 22451-040

Visitação

Exposição encerrada.
De 30 de abril a 25 de julho de 2010 

Horário

De terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h

Contato

(21) 3284-7400
[email protected]

Apresentação

Curadoria

Heloisa Espada

Na Internet

#ConstrucoesBrasiliaIMS

Imprensa

(11) 3371-4455
[email protected]

As fotografias de Marcel Gautherot, Peter Scheier e Thomaz Farkas realizadas em Brasília entre o final dos anos 1950 e a década seguinte estão entre os mais importantes testemunhos visuais sobre a construção da nova capital. Essa produção de qualidade notável que hoje integra o acervo do Instituto Moreira Salles é o ponto de partida da exposição As construções de Brasília, sendo também o mote para uma reflexão sobre os modos de ver e de representar a cidade em seus 50 anos. Além de trazer a público imagens até hoje inéditas desses três fotógrafos, a mostra reúne obras de linguagens variadas, realizadas desde o período da fundação, que abordam a capital tanto no plano das aparências quanto no plano simbólico.

A proposta de transferir a capital para o interior surgiu no século XIX, quando a ideia de nação brasileira, tal como a entendemos hoje, estava sendo formada. No século seguinte, no contexto do pós-guerra, a construção de Brasília foi como um imenso cartaz anunciando ao mundo que o Brasil era capaz de realizar tamanho empreendimento. Esse destino era coerente, cabe relembrar aqui, com o devir da própria arquitetura moderna brasileira que, desde o projeto do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1936, se desenvolveu sob encomenda do Estado, com a enorme responsabilidade de representar a modernidade do país.

Brasília é reconhecida mundialmente como a realização mais integral das ideias apresentadas num documento intitulado Carta de Atenas, de 1933, no qual alguns dos mais importantes arquitetos modernos, entre eles o suíço Le Corbusier, expuseram e apresentaram soluções para os principais problemas urbanos gerados pela Revolução Industrial: o crescimento desordenado das cidades e de seus subúrbios, moradias insalubres, redução das áreas verdes, poluição e barulho excessivos, inadequação dos meios de transporte e de vias acarretando em perda de tempo no deslocamento entre casa e trabalho. Para esses arquitetos, o remédio seria um planejamento urbano pautado na divisão das cidades em zonas de habitação, trabalho, circulação e lazer que, no fim dos anos 1950, vimos realizado no plano-piloto de Brasília.

A exposição é formatada em dois núcleos. Num primeiro momento, são apresentadas séries fotográficas de Marcel Gautherot, Thomaz Farkas e Peter Scheier, junto de obras gráficas de Mary Vieira, Aloísio Magalhães e Eugene Feldman, além de filmagens em 16 mm realizadas por este último em sua visita a Brasília, em 1959. Esses trabalhos revelam a construção da capital muitas vezes sob um ponto de vista épico, bem como as qualidades estéticas de sua arquitetura e seu urbanismo.

Num segundo momento, a exposição apresenta um conjunto de obras que, por um lado, discutem o status da cidade como emblema da nação, por outro, provocam uma reflexão sobre a condição atual da arquitetura e do urbanismo modernos. São trabalhos de Waldemar Cordeiro, Cildo Meireles, Almir Mavignier, Regina Silveira, Orlando Brito, Emmanuel Nassar, Robert Polidori, Jac Leirner, Mauro Restiffe, Rubens Mano e Caio Reisewitz.

Os trabalhos aqui reunidos explicitam que Brasília é, antes de mais nada, um organismo vivo que, desde a época de sua construção, existiu fora dos limites do Plano Piloto. Além de imagem do país do futuro, a capital tornou-se palco de crises econômicas e políticas. Sob certos ângulos, ela perde sua dimensão monumental, confundindo-se com outras cidades do país.

Heloisa Espada
Curadora – Instituto Moreira Salles


Brasilien baut Brasilia

brasilien baut brasilia (brasil constrói brasília) foi o título da participação brasileira na Interbau, exposição de arquitetura inaugurada em Berlim, em 1957, que exibiu pela primeira vez para um público europeu o Plano Piloto e os projetos da nova capital. A artista brasileira Mary Vieira (1927-2001) foi responsável pela organização da mostra, tendo também desenhado o cartaz e o projeto expositivo do pavilhão brasileiro construído para a ocasião. 

O pôster brasilien baut brasilia parece inspirado na vista aérea de uma imensa floresta. Seus poucos elementos, organizados com extrema clareza, traduzem visualmente a ideia de que Brasília seria um foco de civilização no meio da mata. Verde como a bandeira nacional, o cartaz anuncia a nova capital como um novo emblema do país. 

Em 1959, Mary Vieira reuniu informações e registros sobre a exposição num livro desenhado também por ela, com tiragem de apenas dez exemplares, dos quais quatro foram presenteados, respectivamente, ao presidente Juscelino Kubitschek, a Lucio Costa, a Oscar Niemeyer e ao Arquivo Histórico de Brasília. Documento fundamental sobre a mostra brasilien baut brasilia, o livro é também uma obra dedesign. Sua capa foi feita com o mesmo tipo de alumínio que a artista usava em sua produção escultórica nos anos 1950, enquanto seu projeto gráfico ecoa a concisão do cartaz.

brasilien baut brasilia, 1957. Mary Vieira

Aloísio Magalhães

Em 1959, o artista gráfico brasileiro Aloísio Magalhães e o norte-americano Eugene Feldman produziram o livro Doorway to Brasilia, com uma série de gravuras realizada a partir de fotografias da capital em construção. Utilizaram uma técnica de produção industrial, o offset, como recurso criativo experimental, deixando margem ampla para o acaso. O resultado são imagens de aparência litográfica, repletas de sobreposições e transparências.

No início do livro, são mostradas imagens borradas de uma natureza intransponível. O canteiro de obras é tão denso quanto a selva. Nele, o alto contraste e o tratamento monocromático fazem com que os corpos dos operários se confundam com as construções.

Doorway to Brasilia
Filadélfia: Falcon Press, set. 1959. Aloísio Magalhães e Eugene Feldman

Sacolândia

As fotografias de Marcel Gautherot na Sacolândia, acampamentos onde famílias de candangos viviam em moradias feitas com sacos de cimento vazios, permaneceram inéditas até recentemente. Num dos seus poucos depoimentos, em 1989, o fotógrafo conta que tinha a intenção de editar um livro sobre as moradias populares de Brasília, o que incluía as favelas formadas na periferia do Plano Piloto, mas não encontrou apoio para tal publicação.


Marcel Gautherot em revistas e exposições

As fotos de Marcel Gautherot tiveram um papel fundamental na divulgação de Brasília. Suas imagens foram amplamente publicadas em revistas de arquitetura nacionais e internacionais, tais como Módulo: Revista de Arquitetura e Artes Plásticas, então dirigida por Oscar Niemeyer, Brasília, editada pela Novacap, as norte-americanas Architectural Forum e Arts & Architecture, e as francesas Aujourd’hui Art et Architecture e L’Architecture d’Aujourd’hui.

Em 1960, suas fotos integraram uma exposição sobre Brasília no Grand Palais, em Paris, e uma mostra itinerante de arquitetura brasileira inaugurada em Bratislava, na Eslováquia, em 1963, que seguiu para países da Europa Central e Oriental. Esta última foi organizada pelo Departamento Cultural e de Informações do Ministério das Relações Exteriores, órgão para o qual Gautherot também colaborava nesse período.


Marcel Gautherot

Entre 1958 e 1960, o fotógrafo francês Marcel Gautherot frequentou assiduamente o canteiro de obras da nova capital, sobretudo a pedido do arquiteto Oscar Niemeyer, retornando à cidade outras vezes até a década de 1970. Também registrou Brasília para agências de publicidade e empresas francesas e, já no final dos anos 1960, fotografou festas realizadas no palácio do Itamaraty a pedido do paisagista Roberto Burle Marx, então responsável pela decoração dessas cerimônias.

As longas parcerias com Niemeyer e Burle Marx foram iniciadas assim que o fotógrafo se transferiu para o Brasil, em 1940, quando documentou os projetos do arquiteto para o bairro da Pampulha, em Belo Horizonte. A partir dessa data, estabeleceu-se no país como free lancer, colaborando com regularidade para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan) e para a Campanha Nacional do Folclore, além de ter se tornado um dos principais fotógrafos da então emergente arquitetura moderna brasileira.

Gautherot realizou aproximadamente 3 mil imagens em Brasília. Em algumas delas, entre nuvens e poeira, a cidade parece surgir do nada. Nas fotos mais surpreendentes da série, uma luz rasante enfatiza o aspecto gráfico das estruturas metálicas, cria sombras alongadas e modela com cuidado os volumes arquitetônicos. Os trabalhadores aparecem entre as ferragens, quase sempre pequenos em meio à monumentalidade das construções. Nas fotos dos edifícios e espaços públicos prontos, a acuidade dos registros e o céu límpido criam uma atmosfera etérea e uniforme. A Brasília de Gautherot mostra um mundo novo, arejado e espaçoso, onde os homens poderiam circular em harmonia. Os transeuntes dão escala aos edifícios e, como era comum na pintura de paisagem dos séculos XVIII e XIX, sua presença reforça o caráter sublime das cenas.

Cúpula da Câmara dos Deputados em construção, c. 1959. Brasília, DF. Marcel Gautherot / Acervo IMS

Núcleo Contemporâneo

As obras reunidas neste segundo núcleo da exposição, por um lado, lidam com um dado cultural, que é o status de Brasília como emblema do país; por outro, abordam criticamente a condição atual da arquitetura moderna. Cada uma a seu modo, e sem que seus significados se vinculem unicamente à imagem da capital, elas expõem a condição paradoxal de Brasília: uma cidade moderna e exemplar construída no pós-guerra, num país com problemas sociais e estruturais graves como o Brasil.

A imagem da capital aparece em trabalhos de linguagens variadas, realizados por artistas de diferentes gerações, por meio de mapas, cédulas de dinheiro, recortes de jornal, cartazes e cartões-postais. Os trabalhos lidam com o fato da arquitetura de Niemeyer ter se convertido em ícones de ampla penetração popular, sendo capaz de identificar o país dentro e fora do território nacional; comentam o desgaste da imagem da cidade, bem como seu uso ideológico, sobretudo durante o período militar, quando se tornou um dos argumentos do discurso ufanista que pretendia mostrar o Brasil como uma grande potência.

Os fotógrafos deste núcleo mostram Brasília sob um ponto de vista muito diferente daqueles registrados nos anos de sua construção. Aqui, a aliança entre arte e poder perde sua dimensão utópica; a capital é vista como um cenário político disperso e carente de ideologias agregadoras. Ela é mostrada, sobretudo, como um organismo vivo, em constante transformação, muito além dos limites do Plano Piloto, repleta de ambiguidades e contradições. Concepções de futuro e passado, preservação e abandono, planejamento e improviso, natureza e modernidade se confundem e se sobrepõem, fazendo com que, sob diversos ângulos, a capital federal se pareça com outras cidades do país.

Brasília, 1986. Emmanuel Nassar

Thomaz Farkas

Thomaz Farkas registrou o canteiro de obras de Brasília, o Núcleo Bandeirante e as primeiras favelas formadas em torno do Plano Piloto. Fez um retrato épico do dia da inauguração, mostrando Juscelino Kubitschek sendo aclamado entre a população, que, em outras cenas, ocupa com propriedade vias e monumentos. Numa das imagens mais emblemáticas da série, mulheres e homens, alguns deles candangos, caminham sobre a laje do Congresso, como se a imagem nos dissesse que Brasília finalmente seria capaz de reconciliar o Brasil rural e arcaico com sua face moderna.

Farkas é conhecido, sobretudo, por sua produção dos anos 1940 e 1950, sendo considerado um pioneiro da fotografia moderna no Brasil. Suas fotos de Brasília, feitas de forma independente, foram publicadas apenas na década de 1990, após a edição dos primeiros estudos sobre a fotografia moderna no Brasil e dos primeiros livros sobre a obra do fotógrafo.

Dia da inauguração (presidente Juscelino Kubitschek), 1960. Thomaz Farkas / Acervo IMS

Peter Scheier e a Arquitetura

A formação de Peter Scheier incluiu a experiência como fotógrafo de arquitetura para nomes como Lina Bo Bardi, Gregori Warchavchik e Rino Levi que, como ele, viviam na cidade de São Paulo. Em Brasília, o fotógrafo investiu numa visão intermediada pelas amplas fachadas de vidro dos prédios de Oscar Niemeyer, explorando a integração entre interior e espaço público proposta por essa arquitetura. Em suas fotos, os edifícios dos três poderes e dos ministérios se refletem e se interpenetram, banhados por uma claridade intensa. Diferente da Brasília de Marcel Gautherot, onde predomina a amplidão e o vazio, as paisagens urbanas de Scheier, recortadas por vidraças e venezianas, têm múltiplas camadas e enquadramentos, conferindo uma face caleidoscópica e multifacetada à capital.

 


Peter Scheier

Em viagens realizadas em 1958 e 1960, o imigrante alemão Peter Scheier retratou JK e os trabalhadores, a arquitetura e o dia a dia dos primeiros moradores de Brasília. Esteve na cidade a serviço de uma agência norte-americana e para a produção do livro Brasília vive!, cujo argumento central foi demonstrar, sobretudo por meio de imagens, que a capital já não era um lugar inóspito no interior do país. Sua habilidade para registrar as pessoas com naturalidade, de perto e em movimento, provavelmente foi cultivada no período em que trabalhou como repórter fotográfico da revista O Cruzeiro, nos anos 1940 e no início dos 1950.

Brasília, 1960. Peter Scheier / Acervo IMS

Brasília: imagem, imaginário

Realizado no período entre os dias 25 e 28 de maio de 2010, no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, o seminário Brasília: imagem, imaginário apresentou sessões de debate e leitura com a proposta de “despertar novas possibilidades de ver e pensar a cidade, a partir da sua relação com a arquitetura, as artes plásticas, a fotografia, a história e a literatura”, segundo a curadora do seminário, Ana Luiza Nobre.

Exposição encerrada.

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