Museus no Japão
Visitação
Exposição encerrada.
9 de abril a 12 de junho de 2016 (Museu Kochi) / 18 de junho a 18 de julho de 2016 (Museu Itami) / 22 de outubro a 4 de dezembro de 2016 (Museu Kiyosato)
Horário
Das 9h às 17h. (Museu Kochi) / Das 10h às 18h. Fechado às segundas-feiras. (Museu Itami) / Das 10h às 18h. Em dezembro, das 10h às 17. (Museu Kiyosato)
Contato
Tel.: (11) 3371-4455
A presente mostra tem como objetivo ampliar o contato do público japonês com a obra de Haruo Ohara e apresentará cerca de 400 obras, mais um conjunto com 39 objetos, documentos, ferramentas, álbuns e algumas fotografias originais.
A exposição começará a ser exibida em Kochi, terra natal de Haruo, indo em seguida para mais 2 cidades, Itami e Kiyosato. Por ocasião da abertura da exposição em Kochi haverá o lançamento de um catálogo, porém, com textos somente em japonês.
Por decisão da família do fotógrafo, seu acervo foi doado ao Instituto Moreira Salles em janeiro de 2008, e passou então a ser tratado e preservado na Reserva Técnica Fotográfica do IMS no Rio de Janeiro, principal instalação dedicada à conservação da memória fotográfica no Brasil. Suas obras já foram expostas pelo IMS em São Paulo, Londrina, Curitiba e, mais recentemente, no centro cultural do IMS no Rio de Janeiro.
Haruo Ohara: Fotografias
por Sergio Burgi
Imigrante, lavrador e fotógrafo, Haruo Ohara nasceu em Kochi, no Japão, em 1909. Aos 17 anos, veio para o Brasil com seus pais e irmãos, e cultivou a terra ao longo de boa parte de sua vida adulta com dedicação e arte, ao mesmo tempo que fotografava sua vida e a de seus familiares.
Sua obra, alinhada com a fotografia moderna e humanista de meados do século XX, contribui para mostrar que alguns dos antagonismos atávicos da cultura brasileira, como o que contrapõe o campo e a cidade como símbolos do arcaico e do moderno, herança de nosso período colonial extrativista e escravocrata, não resiste ao surgimento de uma nova personagem histórica na passagem do século XIX para o XX: o imigrante europeu ou asiático, que renova cultural e economicamente o país a partir do campo e que, no caso específico de Haruo Ohara, encarna tanto o homem da terra quanto o homem da cultura. Ao lado do trabalho diário na lavoura, Haruo cultivou a delicadeza dos infindáveis registros fotográficos possíveis da luz, delineando formas abstratas a partir de volumes e texturas dos objetos e da natureza presentes em seu ambiente e no entorno. Produziu também marcantes imagens documentais e humanistas de sua família, de sua região e do mundo do trabalho associado à abertura da nova fronteira agrícola no norte do Paraná pelos imigrantes japoneses e de outras nacionalidades que para lá acorreram.
O trabalho fotográfico de Haruo, ainda que um pouco isolado, por ter sido feito na nova fronteira agrícola do sul do Brasil, é realizado também dentro de um quadro de referências fotográficas e artísticas associadas à sua participação ativa nos fotocineclubes da região de Londrina e no Foto Cine Clube Bandeirante de São Paulo, local de atuação de outros importantes nomes da fotografia brasileira, como German Lorca, Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e Chico Albuquerque.
Da mesma maneira que os frutos da terra, as fotografias em preto e branco produzidas por Haruo entre os anos 1940 e 1970, reunidas nesta mostra, também exigiram seu próprio tempo de processamento e maturação. A emoção do fotógrafo em ver sua intuição e a pré-visualização de uma determinada cena lentamente materializando-se no papel fotográfico processado na penumbra do laboratório certamente foi semelhante à emoção do lavrador Haruo, que, na luz atenuada do amanhecer ou do entardecer, contemplava o esforço de seu trabalho desabrochando em flor e fruto em seus campos cultivados. Tanto é assim que Haruo sempre transcreveu em seus diários, álbuns fotográficos e cartas os seguintes dizeres: “Hoje você vê a flor. Agradeça a semente de ontem.”
Não apenas a urbanização crescente do país, como também a mudança da base tecnológica da fotografia em direção à fotografia digital, torna tais processos pouco compreensíveis às novas gerações. Dentro de um quadro de intensa urbanização e industrialização em escala mundial como o de hoje, a crescente velocidade e a artificialidade dos ciclos econômicos e tecnológicos pretende se impor como a “ordem natural” dos mercados e da vida moderna e contemporânea.
O trabalho de Haruo aponta para o fato de que, mesmo neste momento de forte transformação e aceleração tecnológica, talvez apenas o tempo real de maturação das flores, frutos e filhos, fortemente representado em sua obra, seja também o tempo real e necessário para a criação artística. E essa insistente sinalização para o verdadeiro ciclo da vida e da terra, com seus ritmos ancestrais, é o seu principal legado.
Haruo Ohara no acervo do Instituto Moreira Salles
por Sergio Burgi
Por decisão da família do fotógrafo Haruo Ohara (1909-1999), seu acervo foi doado ao Instituto Moreira Salles em janeiro de 2008 e passou então a ser tratado e preservado na Reserva Técnica Fotográfica do IMS no Rio de Janeiro, principal instalação dedicada à conservação da memória fotográfica no Brasil.
Este importante acervo, de um dos grandes nomes da fotografia brasileira da segunda metade do século XX, é composto por cerca de dez mil negativos em preto e branco, 12 mil negativos coloridos, dezenas de álbuns e centenas de fotografias de época, além de equipamentos fotográficos, objetos, documentos pessoais, diários e livros. A reunião desse conjunto permite um estudo aprofundado da obra do fotógrafo e agricultor da cidade de Londrina, no norte do estado do Paraná.
Imigrante, lavrador e fotógrafo, Haruo Ohara nasceu no Japão em 1909. Aos 17 anos, veio para o Brasil com os pais e irmãos, e cultivou a terra ao longo de boa parte de sua vida adulta com dedicação e arte, ao mesmo tempo que fotografava sua vida e a de seus familiares.
Sua obra, alinhada com a fotografia moderna e humanista de meados do século XX, contribui para mostrar que alguns dos antagonismos atávicos da cultura brasileira, como o que contrapõe o campo e a cidade como símbolos do arcaico e do moderno, herança do período colonial extrativista e escravocrata, não resiste ao surgimento de um novo personagem histórico na passagem do século XIX para o XX: o imigrante europeu ou asiático, que renova culturalmente e economicamente o país a partir do campo e que, no caso específico de Haruo Ohara, encarna tanto o homem da terra quanto o homem da cultura. Ao lado do trabalho diário na lavoura, Haruo cultivou a delicadeza dos infindáveis registros fotográficos possíveis da luz, delineando formas abstratas a partir de volumes e texturas dos objetos e da natureza presentes em seu ambiente e no entorno. Produziu também marcantes imagens documentais e humanistas de sua família, de sua região e do mundo do trabalho associado à abertura da nova fronteira agrícola no norte do Paraná pelos imigrantes japoneses e de outras nacionalidades que para lá acorreram.
A fotografia em preto e branco, como técnica e forma de expressão artística, é uma linguagem que exige de quem a pratica o domínio preciso da luz no momento do registro da cena, grande domínio técnico e sensibilidade nos trabalhos de laboratório de revelação e ampliação final da imagem. Fotógrafos que, em meados do século XX, desenvolveram-se nessa linguagem construíram um universo marcante de referências culturais e estéticas, influenciando nosso olhar contemporâneo sobre o presente e o passado recente. No Brasil, nomes como Marcel Gautherot, José Medeiros, Thomaz Farkas e Hans Gunter Flieg; e, no exterior, Minor White, Edward Weston, Walker Evans e Ansel Adams, entre outros, formam uma linhagem que deixou sua marca autoral, estabelecida pessoalmente ou sob sua supervisão direta, nos dois momentos principais do processo fotográfico: o da tomada da fotografia e o da posterior tradução dessa imagem capturada na câmera em imagem sobre papel que represente o momento, a luz e as formas visualizadas originalmente.
Se a maior parte dos nomes citados é de fotógrafos que, ao longo de suas carreiras, atuaram nos principais centros urbanos no Brasil e no exterior, em meio a referências culturais e estéticas contemporâneas de seus momentos, o trabalho de Haruo, ainda que mais isolado, por ter se desenvolvido na nova fronteira agrícola do sul do Brasil, é realizado também dentro de um quadro de referências fotográficas e artísticas – associadas à sua participação ativa, no início da década de 1950, nos fotocineclubes da região de Londrina e no Foto Cine Clube Bandeirante de São Paulo, local de atuação de outros importantes nomes da moderna fotografia brasileira, como German Lorca, Farkas, Geraldo de Barros e Chico Albuquerque. Haruo produziu, nesse período, imagens que, por um lado, percorrem o limite entre o abstrato e o figurativo e, por outro, trabalham, pelo uso da encenação, de maneira crítica e criativa a dissolução da fronteira entre natureza e cultura, alinhando-se com outros fotógrafos e artistas modernos neste momento de transição na cultura e na sociedade brasileira do pós-guerra.
Sua fotografia transita, portanto, entre o pictórico e o moderno, entre o documental e o conceitual, entre a tradição e a ruptura, podendo ser entendida como paradigmática de um orientalismo virtual na cultura brasileira, como propõe Edward King, em que a simultânea evocação e obliteração de valores orientais pode também ser compreendida como uma reação, ainda que ambígua e hesitante, às reestruturações espaciais e temporais da modernidade. Entretanto, a própria compreensão desse processo maior de transição não pode deixar de considerar os processos individuais dos atores envolvidos nessa dinâmica. Como informam Marcos Losnak e Rogério Ivano, biógrafos de Haruo Ohara, a trajetória do fotógrafo é pautada pela herança cultural que traz de seu país e pelos desafios que a nova realidade lhe impõe. E é em sua própria fotografia que, em grande parte, Haruo busca elaborar simbolicamente esses conflitos e confrontos.
Da mesma maneira que os frutos da terra que semeou, as fotografias produzidas por ele também exigiram seu próprio tempo de maturação. A emoção do fotógrafo em ver sua intuição e a pré-visualização de uma determinada cena lentamente materializando-se no papel fotográfico processado por ele na penumbra do laboratório certamente foi equivalente à emoção do lavrador, que, na luz atenuada do amanhecer ou do entardecer, contemplava o esforço de seu trabalho desabrochando em flor e fruto em seus campos cultivados. Haruo transcreveu em muitos de seus diários, álbuns fotográficos e cartas os seguintes dizeres: “Hoje você vê a flor. Agradeça a semente de ontem.” Esta relação entre tempo, processo e ética é o que define muito de sua história pessoal e de sua produção artística.
Não apenas a urbanização crescente, como também a mudança da base tecnológica da fotografia em direção à fotografia digital tornam tais processos e posturas pouco compreensíveis às novas gerações. Dentro de um quadro de intensa urbanização e industrialização em escala mundial, como o de hoje, a crescente velocidade e a artificialidade dos ciclos econômicos e tecnológicos pretende se impor como a “ordem natural” dos mercados e da vida moderna e contemporânea. O trabalho de Haruo aponta, entretanto, para o fato de que, mesmo neste momento de forte transformação e aceleração tecnológica, talvez apenas o tempo real de maturação das flores, dos frutos e dos filhos, fortemente representado em suas imagens, seja também o tempo real e necessário para a criação artística. E é nessa insistente sinalização para os ciclos da vida e da terra, construída por meio de uma linguagem própria e refinada, em que interagem tradição e modernidade, que se encontra um dos principais legados da obra fotográfica de Haruo Ohara.
Haruo Ohara. Fotografias. Ed. Sergio Burgi. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2008
Losnak, Marcos e Ivano, Rogério. Lavrador de imagens: uma biografia de Haruo Ohara. Londrina, 2003
Costa, Helouise e Silva, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2004
King, Edward. Virtual Orientalism in Brazilian Culture. Nova York: Palmgrave Macmillan, 2015.
Vir à luz
por Saulo Ohara
E o silêncio agora o acompanhava.
Não havia mais nomes a serem ditos, lugares e pessoas a serem visitados.
Seu mundo físico se reduzira aos cômodos de sua casa e à fragilidade de seu corpo.
A imagem desaparecera pouco a pouco, levando consigo os sentidos da plenitude vivida.
Ele não tinha mais a vivacidade daquele homem que conheci como “Di”, eu ainda criança, e ele sempre acolhedor, generoso e companheiro.
Nele, a alegria inspirava, e a luz o guardava.
Agora, a ausência era sempre um ardil.
A lucidez aparecia sem avisos e logo se despedia.
Seus poucos encontros aconteciam em sonhos manifestados em sua origem, nos instantes da tranquilidade da música, em passeios e banhos de sol no quintal, nos sorrisos, nas esperas.
Se algo realmente o abraçava eram os seus álbuns de fotografia.
Nesse momento, o tempo que o levava permitia a ele o respiro e seu reencontro.
Cada imagem vista com a atenção de uma primeira vez, virando as páginas na pressa de quem vislumbra a eternidade.
Ele vê Kô Ohara.
Não diz seu nome, apenas aponta para ela e para si mesmo em felicidade.
E basta para que tudo faça sentido.
Nunca o vi como fotógrafo.
Ele sempre foi o avô que tinha uma grande amiga, a câmera fotográfica.
Na minha infância, aquela sala escura de cor vermelha e odores indecifráveis, um grande abajur e carretéis de plástico que se tornariam rodas para meu carrinho, eu imaginava que segredos ele guardava.
Ele saía de lá com papéis em preto e branco, que na banheira nadavam e flutuavam.
Na incompreensão de uma criança, eu não sabia, mas hoje sei, que ali ele nos protegia.
Meu avô se desfazia aos poucos, mas ia serenamente. Parecia certo de que os valores construídos e transmitidos silenciosamente estavam sólidos.
Seu estado de ausência era apenas mais uma etapa a ser concluída com sua sempre discrição.
Os vestígios de sua existência foram sendo organizados. Nada tão difícil, visto que nele havia uma disciplina de estar consciente do que fazia.
Entre documentos, diários, anotações, álbuns e muitas fotos, descobri que ele se harmonizava com a memória, com seu lugar e seu tempo. Confundia-se com a história de sua esposa, família e amigos, da natureza e de sua cidade.
Ele existindo, perpetuou aqueles queridos em seu entorno.
Haruo é um em muitos.
Sentado na beira de sua cama, eu o vejo numa entrega – não uma desistência – à luz que sempre o guiou.
Absorto, sua procura havia terminado.
E o porvir já era existência.
Presente, ele já estava pronto para novamente vir à luz.
Tizuka Yamazaki comenta Haruo Ohara
A cineasta Tizuka Yamasaki analisa as fotos de Haruo Ohara, cuja obra conheceu em função dos filmes que realizou sobre a presença japonesa no Brasil, tema comum a ambos. Em vídeo editado pelo Blog do IMS, faz-se um passeio atento pelas imagens de Haruo, percebendo detalhes ressaltados pela diretora.
Haruo Ohara: debate
Vídeo integral do debate sobre o fotógrafo, realizado em 2013 no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, com mediação de Sergio Burgi (curador da exposição e coordenador de Fotografia do IMS) e presença de Bruno Gehring (produtor dos curtas Haruo Ohara e Satori Uso, ambos dirigidos por Rodrigo Grota) e Saulo Ohara (neto de Haruo e também fotógrafo).
Haruo Ohara e as lavouras do Paraná
Imagens de arquivo das famílias do fotógrafo Haruo Ohara e de Hikoma Udihara, um dos pioneiros da imigração japonesa no Paraná. Udihara ajudou a viabilizar o estabelecimento de muitas famílias nipônicas em solo paranaense, entre elas a família Ohara. São imagens do trabalho na lavoura de café e da construção e desenvolvimento da cidade de Londrina.
Exposição encerrada.
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