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Panoramas: a paisagem brasileira no acervo do IMS

IMS Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente, 476
Gávea - Rio de Janeiro/RJ
CEP 22451-040

Visitação

Exposição encerrada.
De 3 de setembro a 13 de novembro de 2011

Horário

De terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h

Contato

(21) 3284-7400
[email protected]

Apresentação

Curadoria

Carlos Martins

Sergio Burgi

Na Internet

#panoramasims

Imprensa

(11) 3371-4455
[email protected]

O gosto pela paisagem em grandes perspectivas, vistas à distância, foi estimulado a partir da última década do século XVIII, quando começaram a surgir panoramas apresentados em rotundas construídas nas principais cidades da Europa. As rotundas eram edifícios de forma cilíndrica, projetados especialmente para abrigar grandes pinturas – paisagens pitorescas ou exóticas, cenas históricas ou religiosas de reconhecido apelo popular – executadas sobre um suporte contínuo de 360º. Essas instalações panorâmicas envolviam totalmente o espectador que, imerso na ilusão, experimentava a surpresa e a novidade com deslumbramento.

A partir de 1808, o Brasil passou a fazer parte da rota de viajantes e artistas de espírito romântico, como Johann Moritz Rugendas, Carl von Martius e Charles Landseer, entre outros, que partiam em busca de oportunidades em cenários estrangeiros. Empenhados em ver e registrar tudo que chamasse atenção, deixaram um legado inestimável de documentos iconográficos sobre papel – esboços do natural, estudos preparatórios ou pequenas aquarelas, bem como uma quantidade incontável de gravuras. Essa produção de larga escala ilustrava álbuns de suvenir e livros de viagem, mas também era comercializada na forma de peças avulsas, muitas delas em formato panorâmico. A invenção da litografia, no final do século XVIII, foi fundamental para a popularização de gravuras, tanto pelo baixo custo quanto pela praticidade.

Em 1839, com a invenção da fotografia, simbolizada pelo anúncio público da daguerreotipia em Paris, as possibilidades de registro e de documentação visual foram ampliadas, uma vez que se tornou possível a captura em uma superfície fotossensível da imagem projetada dentro da câmara escura. Já em janeiro de 1840, a fotografia chegava ao Rio de Janeiro, com os daguerreótipos realizados pelo abade Louis Compte na praça XV, e despertou um grande interesse, tanto do público como do imperador d. Pedro II. Esse interesse permitiu que se desenvolvesse aqui, em data bastante precoce, uma atividade fotográfica intensa, por obra de nomes como Augusto Stahl, Victor Frond, Georges Leuzinger e Marc Ferrez, entre outros, que se especializariam no registro da paisagem urbana e natural do país – novamente, lançando mão do formato panorâmico em suas várias configurações e possibilidades.

A fotografia, associada às demais técnicas de impressão, propiciaria também, alguns anos depois, o desenvolvimento dos processos de reprodução da imagem por meios fotomecânicos. Aliado a essa expansão da circulação de imagens em múltiplos suportes, o formato panorâmico se estabeleceu, ao longo do século XIX, como uma das principais formas de representação iconográfica da paisagem brasileira.

A presente exposição, uma seleção de obras do acervo IMS, tornou-se possível graças à incorporação da coleção de Martha e Erico Stickel, constituída, sobretudo, de desenhos, gravuras e aquarelas que retratam o Brasil do século XIX. As obras dessa coleção somadas à vasta coleção oitocentista de fotografias do IMS, tornaram possível ao visitante de Panoramas travar contato com muitos procedimentos e atitudes que moldaram a representação da paisagem brasileira, contribuindo para a formação da imagem do país no decorrer do século XIX e sua divulgação no exterior.

São Paulo a partir da estrada para Santos, c. 1825-1826. William John Burchell / Acervo Instituto Moreira Salles

Dois panoramas

Londres, 1828

O folheto aqui exposto foi disponibilizado aos visitantes do panorama Rio de Janeiro, exibido em 1828 na rotunda localizada na Leicester Square, em Londres. É o único registro conhecido da exibição de um panorama do Brasil na Inglaterra nesse período. Com informações sobre a história do Brasil, peculiaridades e dados estatísticos sobre a cidade do Rio de Janeiro, destaca os pontos de interesse, os acidentes geográficos e os navios fundeados, todos enumerados sobre a gravura que reproduz o panorama.

Do ponto da baía da Guanabara em que a vista foi tomada, a cidade e o perfil das montanhas aparecem ao longe, envolvendo a composição, que privilegia, em plano mais próximo, uma profusão de embarcações ancoradas. A legenda identifica inúmeros navios, a maioria deles de bandeira britânica, como o Doris, o Spartiate e o Blanche. Está retratado também o Pedro I, a nau capitânia da recém-formada marinha imperial. Em um pequeno barco, está presente o lorde Cochrane, herói britânico que se destacou em batalhas contra as frotas napoleônicas e foi o primeiro comandante da frota naval brasileira, a convite do imperador.

Não é de se surpreender que o gênero marinha, tão caro aos britânicos, tenha sido explorado com esmero para atribuir um diferencial a essa composição. As relações Brasil-Inglaterra são valorizadas pelas inúmeras referências facilmente reconhecíveis, o que certamente veio aguçar o interesse popular dos ingleses por essa ampla paisagem dominada pelas águas da Guanabara.

A rotunda de Leicester Square foi a primeira a ser construída pelo inventor do panorama, Robert Barker, que idealizou e patenteou essa forma ousada de pintura para entretenimento público, em 1787. Robert Burford, o pintor do panorama do Rio de Janeiro, assumiu o empreendimento em 1826 e, mostrando sempre dois atraentes temas por ano, manteve aberta a sua sala de panoramas até 1861.

 

Paris, 1824

A primeira rotunda construída em Paris foi a do bulevar Montmartre, com duas salas de exposição medindo 17 metros de diâmetro por 7 de altura, cada uma. Mesmo com dimensões consideradas modestas, imediatamente conquistou o grande público, atraído pela nova moda de entretenimento. Em atividade desde 1793, uma vista do Rio de Janeiro foi uma das grandes atrações de 1824.

O Panorama do Rio de Janeiro, tomado do morro do Castelo, foi a primeira pintura em formato panorâmico a ser apresentada em uma rotunda na Europa. Obra de Guillaume Frédéric Ronmy, a partir de aquarelas de Félix Émile Taunay, mostra a cidade e seu entorno, destacando nessa representação os detalhes minuciosos das principais edificações. Ao longe, em cores tênues, a silhueta das montanhas define a linha do horizonte e abraça o espelho da baía da Guanabara, repleto de embarcações. No morro do Castelo, no primeiro plano, uma comitiva acompanha d. Pedro I e a imperatriz Leopoldina, que são aclamados pelas pessoas pegas de surpresa. A extensão do traçado urbano, a considerável movimentação do porto e a presença do jovem imperador imprimem à cena o vigor que se pretende ao país de recente independência política, no momento em que se buscava o reconhecimento das nações amigas.

O panorama de Ronmy e a aquarela de Taunay deram origem à gravura de Friedrich Salathé, editada por Johann Jakob Steinmann. A sutileza das águas-tintas e o colorido delicado garantem à composição um aspecto que certamente corresponde ao panorama exibido em Paris. Se este impressionou o grande público naquela época, a gravura proporciona, ainda hoje, o prazer do que teria sido usufruir daquela vertiginosa amplitude.

Exposição encerrada.

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