Reestreado em circuito nos EUA em 2017 pela distribuidora Milestone, Abençoe seus pequeninos corações é centrado em Charlie, um desempregado que arranja bicos para sustentar a família, e Andais, que precisa administrar a vida doméstica e cuidar dos filhos. Este drama, trabalho de conclusão de mestrado na UCLA, se passa no bairro de Watts, em Los Angeles, onde orquestra o choque entre dois movimentos de vida, de marido e mulher, e, na mais fina tradição da crônica social desenvolvida no contexto da L.A. Rebellion, atenta para a complexidade dos laços e das relações entre as pessoas – para a empatia em meio ao conflito moral –, por meio de aguda sensibilidade realista.
Billy Woodberry se reuniu aqui ao eventual colaborador e colega de classe Charles Burnett – que já havia sido um dos fotógrafos de seu curta A bolsa, três anos antes –, responsável pelo roteiro deste que é até hoje o único longa-metragem de Woodberry como diretor. A escrita melodramática de A bolsa, calcada na compaixão diante de ruínas morais – como fazer o que se diz certo se as coisas do mundo não vêm vindo bem? –, é retomada para que se desenvolva talvez um dos filmes da L.A. Rebellion em que as consequências da dramaturgia são encaradas de forma mais frontal, longa e dedicada. É preciso, como na melhor colaboração entre cinema clássico e consciência crítica, que a cena comunique paixão e contingência do conflito.
Para tanto, Nate Hardman e Kaycee Moore, protagonistas, estão afiados e partilham pontos de vista de densidade semelhante, que não só expressam a expectativa histórica dos papéis de gênero como problema – político e dramático –, como catalisam o retrato melancólico de um tempo e de um espaço. Como em A bolsa, o valor do dinheiro e do trabalho na sociedade americana é objeto e disruptor de uma hipótese, enquanto o jazz empresta notas emocionais e subtexto político.
IMS Rio
17 de março, às 18h30
A exibição será seguida por fala de Bernardo Oliveira
IMS Paulista
20 de fevereiro, às 19h30
A exibição será seguida por fala de Aaron Cutler e Mariana Shellard
Aaron Cutler e Mariana Shellard são os co-fundadores da iniciativa Mutual Films, idealizadores do evento bimestral Sessão Mutual Films, no Instituto Moreira Salles. Os projetos da Mutual Films incluem as mostras Pioneiros americanos: Filmes da coleção Milestone, cuja programação contou com Bless Their Little Hearts, e Hollywood e além: O cinema investigativo de Thom Andersen, que apresentou outros dois filmes de Billy Woodberry
Bernardo Oliveira é professor adjunto da Faculdade de Educação/UFRJ, pesquisador, crítico de música e cinema, produtor. É produtor do selo musical QTV e do Quintavant, evento de música de vanguarda que ocorre semanalmente na Audio Rebel (Botafogo-RJ). Co-produziu os filmes Noite e Sutis Interferências, de Paula Maria Gáitan e Un, de Sergio Mekler . Publicou em dezembro de 2014 o livro Tom Zé - Estudando o Samba (Editora Cobogó).
Não há sessões previstas para esse filme no momento.
Mais IMS
Programação
Nenhum evento encontrado.