Aos 26 anos, Orson Welles dirigiu e protagonizou seu primeiro longa-metragem. O personagem principal, Charles Foster Kane, é um magnata da indústria editorial, possivelmente inspirado em William Randolph Hearst. “Rosebud” é o mistério do filme, a última palavra dita pelo empresário, que se torna a primeira pista em uma investigação jornalística sobre a vida desse personagem.
No livro O cinema no século, uma compilação de artigos de Paulo Emílio Salles Gomes editada por Carlos Augusto Calil, Cidadão Kane e a obra de Orson Welles são retomados diversas vezes.
Em 1958, no texto “Ainda o Cidadão Kane”, Paulo Emílio reflete sobre sua relação com a obra ao longo dos anos e também sobre o impacto dela em novas gerações: “Na medida em que me foi dado observar, tanto no Rio como aqui, para as novas gerações interessadas nas coisas do cinema, a tomada de contato com a primeira fita de Orson Welles foi uma experiência reveladora. Aos olhos dos jovens, a carga de inovações contida em Cidadão Kane só foi parcialmente integrada no cinema que lhe sucedeu, e a fita continua a desafiar, pela sua modernidade, a produção mais recente.”
Uma análise mais técnica e bastante detalhada foi publicada no ano de lançamento do filme, 1941, no artigo chamado “Citizen Kane”, onde Paulo Emílio esmiúça diversos aspectos da montagem, da fotografia e do som. “A música ajuda muito a ligação de certas cenas e imagens, e também o aparecimento de alguns temas. Mas nunca é fundamental: está sempre num plano acessório. Já em relação ao som, tudo é diferente. O som tem, na realidade, uma grande importância em Citizen Kane, e é frequentemente inseparável da imagem. Vimos acima exemplos de ligação de imagens por sons e frases. As frases faladas têm, ali, um valor de som. Vejamos agora a imagem-som em Citizen Kane. A maior de todo o filme é aquela em que a voz de Susan Alexander transforma-se num som que se extingue com a imagem de uma luz se apagando. Esse momento e a combinação da imagem do trenó abandonado na neve com o som do apito do trem demonstram claramente como Pudóvkin estava certo ao dizer que a imagem e o som só se fundem quando não coincidem. Só do conflito assincrônico entre a imagem e o som poderá sair a imagem-som. Em Citizen Kane Orson Welles trilhou timidamente esse caminho. Mas, com o instinto de cinema que possui, não pode ter deixado de sentir sua extraordinária fecundidade.
Para se ver que Orson Welles é além do mais um diretor (aliás, o simples fato de se dizer que Orson Welles é um bom cineasta deixa claro que tem de ser cenarista [roteirista], montador e diretor, pelo menos), basta observar-se o que conseguiu com ele próprio e com os Mercury Actors, todos bons, mas vindo todos, é preciso que se não esqueça, do teatro e do rádio.”
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