“Eu não imaginei, nem inventei nada.” Assim começa o texto de abertura de Uma história simples, o longa de estreia de Marcel Hanoun. O filme, narrado em flashback pela protagonista sem nome, acompanha uma mãe solteira (interpretada por Micheline Bezançon) que se muda de Lille para Paris em busca de uma vida melhor para ela e sua filha pequena, Sylvie (Elizabeth Huart). Assistimos às exaustivas perambulações da mulher à procura de moradia e trabalho e a seu angustiante e repetitivo gesto de contar dinheiro, cada vez mais escasso. As encenações e a narração se desenvolvem em paralelo, de forma clínica e não sensacionalizada.
Hanoun nasceu na Tunísia em 1929, filho de judeus, e se mudou para Paris logo após a Liberação da França, em 1945. Ele trabalhou como jornalista e fotógrafo e dirigiu documentários curtos para a televisão antes de realizar Uma história simples. Leu em um jornal a notícia que inspirou o filme e trouxe para ele suas próprias experiências de pobreza. Filmou nas ruas da cidade com baixíssimo orçamento, uma pequena equipe e um elenco majoritariamente não profissional. Buscava refletir sobre a condição humana, um objetivo acentuado pelas escolhas musicais de Cimarosa e Vivaldi e pelo estilo particular do filme, que mantém um diálogo constante entre o estado mental da protagonista e o ambiente a seu redor.
Uma história simples ganhou o prêmio Eurovision no Festival de Cannes em 1959 e foi celebrado após seu lançamento por diversos cineastas e críticos, entre eles Noël Burch, Jean-Luc Godard e Jonas Mekas. Em 2019, uma cópia do filme em 16 mm foi escaneada em 2K em uma colaboração entre a distribuidora Re:Voir e o INA (Instituto Nacional de Audiovisual, na França), como parte de uma iniciativa mais ampla de digitalizações e lançamentos da obra de Hanoun.
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