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Contraste

Luiz Braga - Arquipélago imaginário

IMS Paulista

Texto institucional

Ver de perto: Luiz Braga e a Amazônia

 

Luiz Braga: Arquipélago imaginário é uma exposição que assume tanto uma celebração quanto protagoniza uma revelação. Se, por um lado, assinala os 50 anos de trabalho do artista, por outro apresenta um vasto conjunto de imagens inéditas que amplia o entendimento de seu trabalho. Assim, abrem-se pistas para a compreensão de uma prática muito particular da fotografia e para um conhecimento desse olhar singular sobre um território com o qual o fotógrafo construiu uma relação de encantamento e lealdade, com as suas gentes e vidas, assim como com as suas paisagens e seus caminhos.

No trabalho de Luiz Braga, reconhecido por um uso muito próprio da luz e da cor, descobrimos agora que muitos dos seus pressupostos se encontram igualmente presentes nas imagens em preto e branco, muito mais vastas do que esperaríamos. Na prática do retrato, encontramos uma subversão própria do gênero, reconfigurável enquanto antirretrato. Por sua vez, a extraordinária empatia e cumplicidade sine qua non que se manifestam entre essas imagens e as pessoas e os lugares que elas revelam desmonta e revoluciona a apropriação e a exotização colonizadoras que marcam uma grande parte da história da fotografia.

Belém do Pará, a ilha do Marajó e a Amazônia em geral são territórios aos quais o artista dedicou a sua vida, assumindo um pertencimento que não exclui a consciência das diferenças entre a sua identidade e as de quem é fotografado, em suas culturas, seus ofícios e suas vivências, das quais somos aproximados através dessas imagens. Como nos encontros de águas que caracterizam os territórios amazônicos, o trabalho de Luiz Braga é uma pororoca das emoções que provoca, quando nos transmite uma pessoa, uma casa, um barco, um local, impregnados das ancestralidades quilombolas e ribeirinhas que convoca nas vivências que apresenta.

Ver de perto parece a regra essencial da ação do fotógrafo, como contraponto dessa miopia que o país tem dedicado à Amazônia. Esta é considerada por uma grande parte do Brasil como um território em que nada existia antes da chegada dos colonizadores, como se a floresta e os seus ecossistemas naturais e humanos nada fossem antes da chegada dos madeireiros, garimpeiros e outros agentes de uma “civilização” que desconsidera as condições de vida e as sabedorias preexistentes.

Esta exposição constitui um projeto muito significativo para o Instituto Moreira Salles, instituição que dedica, no seu acervo e em sua programação expositiva, uma particular atenção à fotografia e às questões relacionadas com o estatuto da imagem na contemporaneidade. Agradecemos a Bitu Cassundé, curador da mostra, e a Maria Luiza Meneses, assistente da curadoria, não só pelo recorte curatorial rigoroso e surpreendente como também por toda a dedicação e o entusiasmo que dedicaram à construção do projeto. Uma palavra particular de reconhecimento é devida a todas e todos do IMS que uma vez mais possibilitaram esta realização.

Exprimimos, por fim, a nossa incomensurável gratidão a Luiz Braga. Foi emocionante tudo que com ele aprendemos, contando com todo o carinho e o imenso entusiasmo com os quais acolheu e acompanhou todo o processo, e toda a confiança que em nós depositou para a construção deste olhar sobre a sua obra, que esperamos possa ser condigno da admiração com que agora a homenageamos e a divulgamos.

Diretoria do Instituto Moreira Salles