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A cidade em direção a Copacabana e Ipanema: transição para a modernidade

24 de novembro de 2016

No início da República, o país atravessou períodos de instabilidade política e econômica, superados nos primeiros anos do século XX, particularmente no governo de Rodrigues Alves (1902-1906), período que o Rio de Janeiro passou pelas profundas reformas urbanas de Pereira Passos. As três primeiras décadas do século XX, durante a chamada República Velha, seriam marcadas também por transformações profundas na política, na economia e na cultura, em um processo que culminaria na revolução de 1930, que abriu as portas para a modernidade e a contemporaneidade do país.

Essas transformações do início do século XX foram seguidas por avanços nas comunicações e na própria linguagem da fotografia. As primeiras revistas ilustradas (Fon-FonO MalhoCaretaO Cruzeiro, entre outras) comçaram a circular com grande audiência e abriram as portas para o fotojornalismo, que se estruturaria no início da década de 1940, especialmente a partir da reforma da revista O Cruzeiro.

A fotografia se incorporou cada vez mais no universo das artes aplicadas, registrando atividades comerciais e industriais e outras atividades econômicas, como, por exemplo, empreendimentos imobiliárias. Produzida pela Empreza de Construcções Civis, a série de fotografias sobre Copacabana compõe um portfólio de 25 imagens que apresentam o bairro e sua urbanização em 1907, com o claro intuito de divulgar por imagens a nova opção de moradia na faixa das praias oceânicas ao sul da cidade. Essa ocupação de novos territórios, possível agora pela melhoria dos transportes urbanos, como o bonde elétrico, levaria a uma gradual ocupação das praias de Copacabana, Ipanema e Leblon.

 

Praia de Ipanema e morro dois irmãos, c. 1900. Fotografia de José Baptista Barreira Vianna / Acervo Instituto Moreira Salles

 

No âmbito da fotografia amadora, uma verdadeira explosão de registros ocorreu a partir das primeiras décadas do século XX. Essa produção, inicialmente voltada para o registro de eventos e comemorações familiares, gradualmente se expandiu para incorporar e ampliar a documentação de aspectos da vida social e da paisagem da cidade, aumentando a diversidade de registros e renovando a própria linguagem da fotografia.

A documentação reunida na coleção de José Baptista Barreira Vianna (1860-1925) é um exemplo excepcional desse processo. Comerciante português que chegou ao Rio de Janeiro em 1875, Vianna trabalhou no comércio antes de abrir uma loja de produtos importados da Europa no largo da Carioca. Morava na Tijuca com a esposa, Laura Moreira, e seis filhos. No final da década de 1890, adquiriu um terreno do loteamento do barão de Ipanema, exatamente na esquina das atuais avenida Vieira Souto e rua Francisco Otaviano, exatamente ao lado de onde seria construído mais tarde o Colégio São Paulo. O projeto e a construção da nova residência, que seria a primeira na praia, e uma das primeiras do bairro, foram confiados ao arquiteto Rafael Rebecchi, ficando pronta a tempo de a família passar a virada do século em seu novo endereço.

 

Residência da Tijuca, na rua Santa Carolina, onde a família Barreira Vianna viveu até o final do século XIX, tendo passado a virada do século já na nova morada de Ipanema. 1897. Fotografia de José Baptista Barreira Vianna / Acervo Instituto Moreira Salles

 

A documentação reunida na coleção Barreira Vianna permite um olhar sobre a vida do Rio de Janeiro na virada do século a partir de uma família que saiu de um bairro tradicional da cidade, a Tijuca, em direção à faixa litorânea de Ipanema e Copacabana. O percurso dos Vianna é semelhante ao de muitas famílias que, tempos depois, trocariam os bairros dos subúrbios e da Baixada Fluminense pelas praias da Zona Sul e, posteriormente, pelo litoral da Zona Oeste, da Barra da Tijuca ao Recreio.

Essas imagens são, portanto, emblemáticas dos primeiros movimentos na cidade em direção à construção de uma cultura associada às praias oceânicas, tanto no seu sentido proto-hedonístico como, também, naquilo que representou de efetiva modernidade. Simbolicamente representado pelo movimento dos Dezoito do Forte, também conhecido como a Revolta do Forte de Copacabana, de 5 de julho de 1922, cinco meses depois da Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, o movimento tenentista, realizado por uma geração de jovens tenentes do exército teve papel marcante no processo que levaria à Revolução de 1930. A revolta, apenas oito anos após a inauguração do Forte de Copacabana, indica como questões políticas, sociais e culturais já se deslocavam em direção a essa nova faixa do território urbano litorâneo, que teria, a partir de então, um papel fundamental na construção da cidade de hoje.

 

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