A simplificação do processo de produção de negativos e fotografias sobre papel, com a introdução das emulsões fotográficas de gelatina/prata, aliada ao fato de que estas mesmas emulsões de gelatina aumentavam significativamente a sensibilidade à luz dos materiais fotográficos, fez com que a partir de meados dos anos 1880 diversos novos usos e aplicações surgissem no campo da fotografia, entre eles, a fotografia amadora, com a introdução da câmera Kodak em 1888. A partir de então desenvolve – se uma nova linguagem característica do universo da fotografia vernacular: o universo dos registros pessoais, domésticos e privados.
Desenvolvida inicialmente na década de 1840 por David Brewster na Inglaterra, e utilizada na segunda metade do século XIX no Brasil e no Rio de Janeiro por fotógrafos como Revert Henri Klumb e Marc Ferrez, a estereoscopia experimentaria um verdadeiro ressurgimento nesse período, com o advento da fotografia amadora e do amplo mercado que se abriu para a indústria fotográfica no início do século XX, incluindo-se aqui as estereoscopias em cores.
A fotografia instantânea, capturando cenas em frações de segundo, como mostra o trabalho de Edward Muybridge sobre o movimento de homens e animais, foi precursora do registro cinematográfico. O cinema, tal como o conhecemos hoje, é resultado destes desenvolvimentos tecnológicos no campo da fotografia, ocorridos nas três últimas décadas do século XIX: a introdução das emulsões de gelatina e brometo de prata, com alta sensibilidade à luz, e a introdução de bases flexíveis que permitiram a produção de filmes em rolo para filmagem e projeção.
A fotografia colorida, baseada na teoria das cores primárias, foi apresentada por James Clerk Maxwell em 1861. Em 1865, Louis Ducos du Hauron fez os primeiros experimentos em impressão em papel fotográfico com três camadas de corantes. A fotografia colorida foi pesquisada sob diversos aspectos até o final do século XIX, mas sempre através de processos complexos e limitados.
Em 1907, os irmãos Lumiére introduzem o Autocromo, primeiro processo fotográfico colorido comercial, baseado no sistema aditivo de cores (pigmentos azul, verde e vermelho). Este processo foi introduzido e comercializado no Brasil por Marc Ferrez e utilizado fortemente em associação com a estereoscopia, principalmente através dos equipamentos Richard Veriscope.
No Rio de Janeiro, Guilherme Santos (1871-1966) produziu uma vasta documentação em estereoscopia da cidade e do país, que disponibilizou na forma de coleções temáticas com forte viés documental e jornalístico. Fotógrafo amador dedicado à fotografia de efeito tridimensional, registrou os hábitos e cotidiano dos cariocas, os eventos sociais e políticos e a paisagem da cidade. A empresa Rodrigues & Co. produziu igualmente coleções significativas sobre o Rio de Janeiro e Marc Ferrez, juntamente com seus filhos Júlio e Luciano, deixou também um legado muito rico em imagens estereoscópicas preto e branco e coloridas.
A fotografia amadora e a estereoscopia do início do século XX no Rio de Janeiro são, portanto, fontes fundamentais para a pesquisa e compreensão da vida na cidade naquele período.
Na exposição, uma experiência que mistura arte e tecnologia permite ao visitante observar antigos registros estereoscópicos, feitos por fotógrafos como Marc Ferrez e Guilherme Santos, através de imagens digitais atuais, que criam o efeito da tridimensionalidade:
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Acervo Guilherme Santos no IMS
Acervo Revert Henri Klumb no IMS
Acervo Marc Ferrez no IMS